Na última terça-feira, 22 de março, o Comitê Científico de Sono da Associação Paulista de Medicina (APM) transmitiu, pelo YouTube, webinar para celebrar a Semana do Sono de 2022, cujo mote é “Sono de qualidade, mente sã, mundo feliz”.
Alexandre Pinto Azevedo, coordenador Científico do grupo, começou explicando que, desde 2008, a Sociedade Mundial do Sono escolhe uma data, usualmente em março, para marcar como o Dia Mundial do Sono. Em 2022, o dia escolhido foi 18 de março. “Isso favorece a conscientização sobre o sono e a sua repercussão na vida de forma geral, caso seja de má qualidade ou existam distúrbios, incluindo a saúde física e mental. O mote deste ano lembra a alta prevalência da correlação do sono de má qualidade e o comprometimento da saúde mental, os distúrbios psiquiátricos e os transtornos emocionais”, relatou.
Azevedo, que é assistente do Programa de Transtornos do Sono do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), lembrou que este encontro também serve como aquecimento para o XIX Congresso Paulista de Medicina do Sono, que acontece em 27 e 28 de maio deste ano. “Estamos fazendo encontros entre nós, membros da Comissão Organizadora do evento, para divulgar informações sobre o sono e trazer, de maneira introdutória, alguns dos temas que serão debatidos no Congresso”, disse.
Qualidade do sono
Antes de a discussão enveredar para temas mais específicos, Andrea Cecília Toscanini, presidente do Comitê de Sono da APM, falou, de maneira geral, sobre qualidade do sono, comumente associada à ideia de dormir oito horas, deitando-se às 22h e despertando às 6h, sem acordar durante a noite.
“Nós, que trabalhamos com isso, sabemos que essa idealização pode ser verdade, mas nem sempre. O principal termômetro para saber se tivemos uma boa noite de sono é, em primeiro lugar, avaliar como nós estamos no dia seguinte. Minha disposição ao despertar e ao longo do dia”, complementa.
Essa aferição, segundo a especialista, se dá sobretudo nos sintomas típicos. Ou seja, os indivíduos devem medir se há excesso de sonolência e cansaço e o domínio das habilidades cognitivas (raciocínio, foco, atenção, memória etc.). Andrea Toscanini também disse ser normal levantar-se uma ou duas vezes por noite, desde que não haja dificuldade para voltar a dormir.
“Tudo isso nós associamos rapidamente ao sono. Mas há também os sintomas ‘não tão típicos’. Podem estar indiretamente associados ao sono de má qualidade condições como hipertensão de difícil controle, diminuição de libido e alterações metabólicas”, acrescentou.
Pandemia e o sono
Um dos principais assuntos da noite foi a relação do sono e a pandemia. O pneumologista Maurício Bagnato, membro da Comissão Organizadora do Congresso Paulista de Medicina do Sono, abordou o tema sob o ângulo das mudanças físicas.
“Tivemos grande alteração no nosso modo de vida e a maioria das pessoas ganhou peso. Isso impactou muitas áreas, inclusive a parte psíquica, com muitos adoecendo e ficando deprimidos pela doença, pelo medo e pelo confinamento”, argumentou.
O ganho de peso, segundo Bagnato, trouxe para pessoas idosas problemas ortopédicos, até por estarem mais tempo longe da prática de exercícios. Assim, houve aumento de dor, que é um dos fatores que mais prejudica o sono. “Há a questão da apneia, ainda. Homens depois do 40 anos e mulheres depois da menopausa são mais afetados, com respiração mais difícil e quebra de sono. Essa noite mal dormida impactou muito o dia seguinte das pessoas na parte psíquica, as deixando menos dispostas e mais pesadas e entristecidas.”
Já a otorrinolaringologista Tatiana Vidigial, secretária do Comitê, relatou que em sua especialidade estão sendo comuns os casos de pacientes que perdem o olfato e o paladar, além de acumularem sequelas e desordens neurológicas e psicológicas causadas pela infecção por coronavírus.
“Alguns sofrem com distorção do olfato, o que chamamos de parosmia. Sentem café com cheiro de alho, alho com cheiro de comida podre, não diferem arroz ou feijão. É um grande impacto. Há aqueles que gostam de comer e apreciam boas bebidas, claro, mas também os profissionais do olfato e do paladar.”
Ela lembrou dos sommeliers, enólogos, degustadores, profissionais da indústria do perfume, entre outros, que estão sendo os mais afetados. “Esta semana, um paciente cervejeiro disse que não consegue mais distinguir os gostos. Pela preocupação, não consegue mais dormir. É muito desafiador. Felizmente, temos resolvido esse curto-circuito neuronal na maioria das pessoas, fazendo treinamento olfatório e com algum tipo de medicamento. Mas, de 2% a 5% das vezes, o paladar não retorna”, apontou a especialista.