Webinar APM aborda prevenção de quedas em idosos

O evento, transmitido pelo YouTube na última quarta, dia 2 de junho, contou com a parceria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Secção São Paulo e do Grupo de Pesquisas da PrevQuedas Brasil

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No mês mundial de prevenção de quedas em idosos, o Departamento Científico de Geriatria e Gerontologia da Associação Paulista de Medicina reuniu especialistas para falar sobre pesquisas e medidas preventivas na atenção primária e secundária e a contribuição do profissional da Saúde sobre o tema. O evento, transmitido pelo YouTube na última quarta, dia 2 de junho, contou com a parceria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Secção São Paulo e do Grupo de Pesquisas da PrevQuedas Brasil.

O vice-presidente da SBBG-SP, Fábio Campos Leonel, iniciou os trabalhos com a apresentação da aula “Anamnese do idoso caidor: o que não podemos deixar de perguntar?”, destacando a queda como um fenômeno bastante comum e devastador em pessoas com idade avançada. E que pode indicar o início de fragilidade ou doença aguda. “Além dos problemas médicos, as quedas apresentam custo social, econômico e psicológico enormes, aumentando a dependência e a institucionalização”, acrescenta.

Estimativas apontam que há uma queda para um em cada três indivíduos com mais de 65 aos e que um em 20 daqueles que já sofreram uma queda, passam por fratura ou necessitam de internação. “Dentre os mais idosos, com 80 anos aou mais, 40% caem a cada ano. Dos que moram em asilos e casas de repouso, a frequência de quedas é de 50%”, informa Leonel.

“Todos caem, ou seja, é um evento comum na velhice, e devastador, porque quanto maior a alta incidência, maior a alta suscetibilidade às lesões. É uma causa importante de morbidade e mortalidade”, reforça. O especialista reitera a necessidade de os profissionais estarem atentos aos relatos de queda, associando-os às síndromes geriátricas, que são incapacidade cognitiva, instabilidade postural, incontinência urinária, latrogenia e imobilidade.

Pesquisas apontam que as quedas são mais frequentes em mulheres (40%), sendo 20% em homens. As causas mais habituais estão relacionadas às desordens de marcha, ao equilíbrio ou à fraqueza muscular (26%) e à tontura ou vertigem (25%), em casas de repouso. Já em comunidade, acidente e fator ambiental (41%) são preponderantes.

Causas e análises

“Quanto maiores são os fatores de risco, maior o percentual de quedas. Em pessoas com idade acima de 80 anos, temos fraqueza muscular, distúrbio de marcha e equilíbrio, incapacidade de vida diária e dependência física. De forma bem didática, o fenômeno da queda é uma somatória dos fatores intrínsecos, relacionados ao próprio paciente, e fatores extrínsecos, relacionados ao ambiente que ele está inserido.”

São os fatores intrínsecos: dificuldade de realização das atividades de vida diária (AVD’s), instabilidade postural, histórico de quedas, fraqueza muscular, comprometimento de reflexos de equilíbrio e de proteção, doenças crônicas (Parkinson, IU, artrite, AVC, fraturas, etc), tontura ou confusão, uso de auxílios para marcha, comportamentais, comprometimento cognitivo, mobilidade reduzida, medo de cair, problemas/alterações nos pés (calosidades, úlceras, joanetes), comprometimento visual (presbiopia, catarata, glaucoma, uso de lentes corretivas), infecções e medicamentos (psicoativos, cardiológicos). Já os fatores extrínsecos são ambientes mal iluminados, casas mal planejadas, disposição inadequada dos móveis e espaços e calçados escorregadios.

Durante a anamnese, o profissional de Saúde precisa entender as circunstâncias da queda. “É importante perguntar ao idoso porque caiu, como foi, o que estava fazendo, em qual direção, horário, local, se houve mudanças de condições de saúde ou medicamentos na semana anterior e avaliar o ambiente com profissional capacitado”, disse Leonel, que também é médico geriatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Ele reitera ainda sobre a importância da avaliação sistemática da ocorrência durante as avaliações periódicas, além de defender a educação em Saúde para os pacientes como medida de prevenção. “Não é só remédio e não é só tapetinho que são fatores de risco. Temos de lembrar sempre que a queda é um fenômeno multifatorial. Precisamos estar preparados para o maior número de fatores de risco para termos uma intervenção apropriada, porque a ocorrência de queda tem um peso global na saúde do idoso.”

Depressão

“Por que avaliar depressão é tão importante para a prevenção de quedas em idosos?” Com este questionamento, em seguida, o geriatra Adson da Silva Passos iniciou a apresentação de pesquisa de doutorado da PrevQuedas Brasil. Segundo dados do IBGE de 2018, o Brasil passou de 25,4 milhões de idosos, em 2012, para 30,2 milhões em 2017, ou seja, um crescimento de 18% em cinco anos. “Somos 14,6% de idosos”, enfatiza.

Com o envelhecimento, acrescenta ele, há um acúmulo de comorbidades, dentre elas, o transtorno depressivo maior. “Temos uma revisão sistemática de metanálise que saiu em um jornal brasileiro de Psiquiatria, com a inclusão de 33 artigos avaliando 39 mil idosos, aproximadamente, sobre a prevalência de 21% de depressão em idosos no Brasil. É uma doença que, sem dúvida, deve ser rastreada.”

Estudo da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica, realizado em 2020, verificou 1,48 milhão de internações no Brasil, entre 2000 e 2018, com a mediana de gastos hospitalares federais, de R$ 135,58 milhões, variando de R$ 112,89 até R$ 194,98 milhões. “A taxa de hospitalização por quedas em 2000 foi de 36,6%; em 2018, 44,6%, ou seja, em 18 anos, aumentaram de forma significativa as internações. Por isso, devemos sim dar a devida importância a esse tema”, destaca.

Mas por que a depressão é um fator de risco para queda? “Existem diversas explicações, sendo que o transtorno depressivo maior leva a uma disfunção executiva. Essa falta de capacidade de planejar e executar pode deixar o paciente mais predisposto a queda, como diminuição de velocidade de marcha e disfunção cognitiva”, esclarece o pesquisador.

Segundo Passos, um indivíduo com sintomas depressivos tem aproximadamente 50% a mais de chance de cair nos próximos 12 meses, comparando a um indivíduo sem sintomas depressivos. “Na atenção básica, ao avaliarmos um paciente com sintomas depressivos, é muito importante introduzi-lo a algum programa de prevenção de quedas, com psicoterapia, psicoeducação, fisioterapia e exercícios físicos. Isso contribui para a diminuição de riscos.”

Testes físicos

A fisioterapeuta especialista em Gerontologia Monica Perracini trouxe para a abordagem o papel dos testes físico-funcionais na avaliação do risco de quedas. Dentre os determinantes dos acidentes estão o equilíbrio e controle postural. “40% das quedas ocorrem durante o andar e 20%, na mudança de posição (de sentado para em pé, inclinações e giros) e 15%, no subir ou descer escadas. Poderíamos dizer que há uma combinação entre o controle sobre o meu próprio corpo e minhas habilidades/equilíbrio postural com as atividades que faço, além do local”, explica.

Durante os testes físicos-funcionais, ela destaca a necessidade de os profissionais capturarem os riscos (acurácia e capacidade preditiva e estratificar em baixo, moderado e alto risco); mimetizar tarefas motoras (andar, sentar, levantar, girar); refletir os fatores de risco e as demandas dentro e fora de casa; e tempo, materiais e espaço físico.

“É preciso saber qual teste utilizar no paciente, para isso, devemos investigar um pouco como é a vida cotidiana dele [como, onde anda e com que frequência, se sai sozinho, se tem algum dispositivo para auxiliar na marcha, que tipo de cuidados faz dentro de casa], para metrificar se vou fazer um teste simples ou mais complexo. Lembrando que nenhum teste isolado é capaz de predizer quedas, por isso, temos que usar instrumentos multifatoriais ou combinação de testes”, pondera.

Papel dos profissionais

Para fechar o conjunto das palestras, o geriatra e membro do grupo de pesquisa PrevQuedas Brasil, Sérgio Márcio Pacheco Paschoal, falou sobre ações estratégicas, avaliação multidimensional e multifatorial e os desafios de atendimento ao idoso na saúde pública. Segundo ele, os profissionais que atuam em diferentes cenários da atenção primária devem planejar ações preventivas como dança sênior, Tai Chi Chuan, exercícios de fortalecimento muscular, equilíbrio e coordenação motora, entre outras atividades que possam trazer benefícios às diferentes dimensões de saúde do público assistido.

“Outro estudo, de como deve ser a atuação dos profissionais da Estratégia de Saúde da Família na prevenção de quedas no idoso, identificou que o uso da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa, adotada há algum tempo pelo Ministério da Saúde, deve ser vista como um instrumento de identificação de quedas no idoso”, acrescenta. Na atenção básica de avaliação multidimensional da pessoa idosa, no item 7, avalia queda, perguntando se o paciente caiu nos últimos 12 meses, o que possibilita traçar uma linha de cuidados para seguir. “Pode revelar os fatores que colocam em risco o idoso e identificar intervenções mais apropriadas. É uma estratégia altamente efetiva.”

No entanto, nos mais de 30 anos de experiência em saúde pública, Paschoal critica a estrutura da assistência, como a falta de orgnização dos serviços, o despreparo do profissionais, a falta de planejamento dos gestores e de cultura e políticas de prevenção não efetivadas. “Quando vamos pesquisar, por exemplo, como são as campanhas de prevenção, o foco maior é em ambiente seguro, com pouca ênfase na necessidade de uma avaliação multidimensional e multifatorial. Se não avaliarmos outros fatores, apenas a segurança ambiental não é suficiente para prevenir. Mesmo em um ambiente totalmente seguro, os fatores intrínsecos e os comportamentos de risco levam a cair.”

Segundo ele, hoje algumas secretarias começaram a se preocupar não só com a segurança ambiental, mas estão ampliando os multifatores de um acidente. “Precisamos incorporar o cuidado e a prevenção de quedas no processo de trabalho das Unidades Básicas de Saúde, no cotidiano dos profissionais, ter uma equipe interprofissional. Precisamos construir uma linha de cuidado de queda na Rede de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa”, reforça.

Paschoal informa que se houvesse uma boa formação conjunta de equipes em toda estrutura, refletiria em economia para todo o sistema, além de melhor eficácia na prevenção. “Precisamos ter uma educação permanente para mudar essa visão dos profissionais que estão na atenção básica.” Ele resume que os critérios que devem ser adotados em evento de queda na atenção básica são rastreamento, realização de prevenção primária e secundária (idoso caidor) e comando de “Linha de Cuidado de Queda” na Rede de Atenção à Saúde.

No nível secundário, avaliação do idoso caidor, implantação de equipes especializadas nessa avaliação, implantação de avaliação multidimensional e multifatorial (seguida por intervenções focadas nos fatores de risco identificados), trabalho sobre o medo de cair, oferecimento de suporte e matriciamento à atenção básica e realização de prevenção secundária.

Considerações

O webinar foi apresentado pelo presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, e pelo 4º vice-presidente, Luiz Eugênio Garcez Leme, e moderado pelo presidente do Departamento Científico de Geriatria e Gerontologia da entidade, Maurício de Miranda Ventura.

“A APM é basicamente o resultado do esforço de todos os seus associados, em particular, de agregá-los em áreas de interesses, como é o caso do Departamento de Geriatria e Gerontologia. Foi absolutamente oportuna a ideia de aproveitar o mês de prevenção de queda em idosos para esta aproximação e contribuição importante desse qualificado grupo”, parabeniza Amaral.

“Gostaria de agradecer a parceria com a APM para debater um tema tão importante e tão caro na Geriatria, como brilhantemente os nossos palestrantes enfatizaram”, destaca Ventura.

“A Geriatria tem como característica as grandes síndromes geriátricas. Um paciente que se apresenta para o serviço de Saúde raramente tem uma situação, e sim muitas outras afecções. A queda faz parte de uma síndrome que se chama instabilidade, tendo como consequências fraturas, sendo a do quadril uma das mais importantes. É o principal agravo para a população idosa, é muito mais arriscado quebrar a perna do que ter um câncer”, conclui Leme.

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