No último dia 21 de outubro, foi realizado o último warm up do 3º Global Summit Telemedicine & Digital Health (que ocorrerá de 9 a 12 de novembro de 2021). “A ideia é que possamos, através dessas discussões, aprender, dividir conhecimentos e experiências e conhecer as visões de quem atua no mercado. É um momento não só de aprendizado, mas de ensaios, insights e propor ideias”, explica Jefferson Fernandes, presidente do Conselho Curador do evento.
O último encontro de aquecimento da edição também foi moderado pelo diretor de Tecnologia de Informação da Associação Paulista de Medicina, Antônio Carlos Endrigo, também presidente da Comissão Organizadora do GS. “São assuntos de extrema importância. Hoje vamos abordar temas de Telemedicina no ambiente pré-hospitalar, realidade digital na saúde, LGPD no consultório médico e modelo de plataforma com palestrantes bastante envolvidos com essas questões”, disse.
Transformação cultural
O neurologista José Luciano Monteiro Cunha, diretor médico de Telemedicina e Saúde Digital da Hapvida, iniciou sua palestra defendendo que a saúde digital parte de uma transformação cultural, que já vem ocorrendo há décadas. Atrelado isso, tem-se a disseminação de dados informatizados, a distribuição equivalente de informações e o empoderamento e mudanças comportamentais nas relações entre pacientes e médicos.
“Desde o primeiro estetoscópio, o primeiro antibiótico e a primeira vacina, a inovação sempre esteve presente na vida dos profissionais da Saúde. Com o surgimento da internet, na década de 1990, com seu crescimento rápido e disseminadora exponencial de dados, temos os primeiros estudos robustos em saúde digital, estudos hospitalares e grande experiência em Telemedicina diagnóstica”, sintetiza historicamente Cunha.
Em 2020, acrescenta o especialista, a pandemia de Covid-19 aprofundou a transformação do padrão comportamental, contribuindo para uma aceleração virtual que já existia, sobretudo, nos últimos dez anos, com a virtualização e digitalização dos mais variados processos e atividades nos mais variados setores.
“Se formos observar os nossos comportamentos, mesmo antes da pandemia, já éramos tele em muitas coisas. Já tínhamos os aplicativos bancários, de transporte, de comida e de lazer com as redes sociais. Tudo convergia para uma interação virtual cada vez mais intensa, a crise sanitária acelerou o processo”, complementa.
Dentre os critérios das organizações para a adoção da Saúde Digital estão o monitoramento do indivíduo sem invasão e estímulo sem opressão; aconselhamento sem virtuosismo médico, ou seja, a balança entre a relação médico detentor do conhecimento e paciente está mais equilibrada, dado o acesso às informações de saúde; e aplicabilidade do cuidado correto, com a tecnologia certa, na hora certa, no lugar certo e com a pessoa certa, possibilitando uma customização do cuidado de vidas.
Os pilares principais no que tange à eficiência da Saúde Digital ainda estão relacionados à infraestrutura e tecnologia, sendo a distribuição desigual da qualidade da internet e interoperabilidade problemas mundiais, além da carência de dados culturais e de educação sobre o tema.
Cunha argumenta que a governança dentro das instituições públicas e privadas é essencial para que quaisquer projetos de saúde digital deem segmento, precisando estarem bem estruturados para obter retorno financeiro sobre os investimentos. “Essas plataformas precisam manter um grau de transparência digital para que a experiência com o indivíduo seja cada vez mais fluida e intuitiva. Conectar os dois mundos, virtual e presencial, de forma adequada é o futuro dessa transformação digital.”
Ambiente pré-hospitalar
Para trazer a Telemedicina ao ambiente pré-hospitalar e o impacto nos desfechos em Saúde, o cardiologista Jamil Cade, em 2018, participou do primeiro projeto de Telemedicina de controle de infarto agudo do miocárdio na Zona Leste de são Paulo, onde mais de mil pacientes foram encaminhados para cateterismo cardíaco, procedimento utilizado para diagnosticar ou tratar doenças cardíacas, através de um eletrocardiograma conectado a uma central virtual.
“Houve uma redução de 41% da mortalidade hospitalar e um aumento de 48% de internações por infarto agudo miocárdio. Além disso, reduzimos 1 milhão de dólares de gastos no SUS. A partir dessa experiência, vi o poder da Telemedicina e o impacto dessa tecnologia na redução de desfechos e melhoria dos processos”, relata Cade, hoje CEO da W3Care.
Desde então, a empresa surgiu para criar soluções de automatização e suporte com Telemedicina para os atendimentos em urgências, emergências e eletivos, em plataformas móveis e em nuvem que melhoram a eficiência dos processos, com menores custos.
“Quando temos um evento agudo, seja infarto, trauma ou acidente vascular cerebral, para chegar ao hospital destino, o paciente passa por uma cadeia complexa, não estruturada, na qual não há comunicação entre esses players e os dados nunca são avaliados, computados e geradas métricas. Muitas informações são perdidas porque, por exemplo, dentro de uma ambulância há apenas uma caneta, um papel, celular e um rádio”, problematiza o especialista.
Nesse sentido, a empresa já entrega a solução pronta com escala de plantão digital (MO e recursos) e classificação automática da VTR. “Atuamos em ambulâncias e resgastes, nas quais o motorista tem o próprio celular da empresa, conecta para a equipe médica para que possa saber horas de entrada e saída. Toda essa interface de composição daquela ambulância de acordo com o input, seja ela simples, intermediária, ou avançada, teve uma automatização do processo”, informa o médico.
Checklist digital do condutor, com demonstração dos dados para a equipe técnica, controle de qualidade, aferição automática dos tempos (empenho/saída da base/tempo-resposta) a partir do deslocamento, a característica da tripulação (simples, intermediária ou avançada) e qual o recurso necessário, cronômetro para todos os processos, checklist, saída da base, uso de app para o trajeto, consumo de materiais e medicações e geração de dados e métricas são alguns dos recursos de automatização dos atendimentos.
“A gente fala de um cenário em que cada segundo importa para aquela vida; um atendimento uniforme baseado em diretrizes traz segurança e informações dos processos”, destaca o especialista. Cunha informa que, em apenas dois meses (junho a julho de 2021), a empresa realizou 10 implantações simultâneas, com 754 utilizações do sistema, com quedas em tempos médios de saídas de ambulâncias. A economia operacional ficou em torno de R$ 750 mil por mês por cada viatura, agregando valor, eficiência e redução de custos no processo.
LGPD
O consultor sênior e DPO da Online Clinic, Paulo de Tarso Lamigueiro Toimil, esclareceu as principais características da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (nº 13.709/2018), que regula as atividades de tratamento de dados pessoais e altera os artigos 7º e 16 do Marco Civil da Internet, com viés na Medicina.
“Em Saúde, lidamos com dados mais sensíveis, com critérios de análises mais detalhados de resultados de exames, prontuário e diagnósticos. Existem compartilhamentos que são absolutamente desnecessários, principalmente em Telemedicina, como plataformas abertas, a exemplo do WhatsApp e SmartWatch, e, obviamente, a divulgação de fotos de cirurgia, de parto. Comportamentos amadores não serão mais administrados e estarão sujeitos ao olhar da LGPD”, destaca.
As regras básicas da Lei definem o consentimento, a execução do contrato, o legítimo interesse da empresa (como avaliação para executar o trabalho), a tutela da saúde (exclusivo para profissionais da saúde) e a proteção da vida humana. Os princípios são transparência, finalidade, necessidade, livre acesso (titular), qualidade dos dados, prevenção, segurança e prestação de contas.
De acordo com ele, a Anvisa já solicita em suas licitações pedido de que a empresa prestadora de serviço tenha aderência à LGPD para toda a cadeia produtiva. “A lei é a semelhança de tudo que já temos de segurança cibernética e todos os aspectos regulatórios em Saúde do CFM, Anvisa, ANS, Código de Ética etc. E mais, abrange aspectos culturais, processuais e legais”, resume.
Modelo de Plataforma
Por fim, o CMO da Saúde iD, Ricardo Nicolli, encerrou a roda de conversas trazendo um modelo de plataforma em Saúde Digital, criada em 2020. “Olhamos para os três grandes desafios que a Saúde lida no Brasil: acesso que envolve eficiência dos sistemas de saúde, coordenação e integração das jornadas muito aquém de que poderiam estar. Isso nos empurrou a criar a Saúde iD”.
A empresa é “filha” independente do Grupo Fleury, mas tem a empresa de saúde como acionista. A ideia da plataforma é tornar a saúde mais fácil, efetiva, acessível e integrada, unindo tecnologia e conhecimento médico. “É um modelo de negócios que permite interações que criam e geram valores entre produtores, consumidores, anunciantes e pesquisadores. Fornecem infraestrutura aberta e participativa para essas interações, com governança e condições claras. O principal objetivo é realizar interações de sucesso e qualidade entre os usuários, facilitando a troca de bens, serviços, informações ou moeda social”, explica Nicolli.
O CMO destaca que o propósito da Saúde iD é se posicionar como modelo de negócios de plataforma e de soluções em formatos digitais, endereçando atores críticos na Saúde em quatro segmentos: indivíduo (marketplace), consultório digital, educação médica e APS/crônicos.
Os produtos da Saúde iD criam um ecossistema que aumenta valor de cada solução individual, conectando as jornadas dos atores. “Atendemos 260 unidades de Medicina Diagnóstica, 25 hospitais e mais de 150 mil médicos que acessam a base todos os anos”, finaliza.