Um grupo de voluntários médicos e outros profissionais da Saúde se reuniu em um mutirão, de 9 a 13 de julho – na Igreja Batista Nova Sião, no Jardim Brasil (Zona Norte de São Paulo) -, para atender, sobretudo, imigrantes e refugiados em situação de vulnerabilidade social em território brasileiro. Nos quatro dias, uma média de mil pessoas foram atendidas nas diversas especialidades oferecidas.
A ação contou com uma equipe de 25 especialistas, principalmente de origem boliviana e brasileira, atuantes nas áreas de Anestesiologia, Cardiologia, Cirurgia geral, Clínica Médica, Endocrinologia, Ginecologia, Neurologia, Pediatria, Traumatologia e Oftalmologia, além da Optometria, Odontologia, Enfermagem, assistência laboratorial e de imagem ultrassonográfica.
A Associação Paulista de Medicina apoiou institucionalmente a causa. “O grupo Voluntários por Amor vem ao encontro da Campanha de Voluntariado para Refugiados organizada este ano pela APM”, destaca a diretora de Responsabilidade Social da Associação, Evangelina de Araújo Vormittag.
De acordo com ela, embora o Sistema Único de Saúde garanta atendimento público universal e integral, inclusive para estrangeiros, muitos imigrantes e refugiados não têm acesso à assistência. “Em casos de documentação não legalizada, muitos temem ser expostos e deportados. Essa resistência em cuidar da saúde leva a uma condição de vida bem precária. Por isso, iniciativas como a do Voluntários por Amor são importantes para alcançar esse público.”
O presidente do projeto, o psicólogo Paulo Jae Pil Kim, acrescenta que a própria diferença de idioma corrobora para o afastamento da população de fala hispânica. “Eles se sentem coibidos e têm dificuldade em se expressar. Quando propusemos esse grupo, vimos que os pacientes se sentiam mais à vontade e seguros para conversar com profissionais de mesmo idioma.”
Prevenção e acolhimento de profissionais
Colaborar com a educação em Saúde é outro objetivo do projeto Voluntários por Amor. Dadas as estatísticas de pessoas que não fizeram o acompanhamento necessário ou receberam diagnóstico tardio de doenças, alguns casos resultaram em óbito.
“Muitos pacientes trabalham em média 16 horas contínuas – em condições análogas à escravidão – e esquecem da saúde. Já nos deparamos com quadros graves de câncer colorretal, cervical e de mama, e tivemos dois casos de morte, no ano passado e neste. São várias questões, dificuldade em transmitir a informação por causa do idioma, dificuldade econômica para se locomover a um pronto-socorro/hospital e a ausência de contato familiar e com amigos para expor o problema”, informa a coordenadora da área médica e dos profissionais da Saúde do Voluntários por Amor, Sonia Flores Mamani, que é anestesista.
“A cultura boliviana é bem diferente da brasileira. Como são muito reservados, o povo de língua hispânica em geral trabalha anos a fio sem se cuidar”, acrescenta o clínico geral Richard Evams Becerra Soares, também coordenador da área médica e dos profissionais da saúde do grupo. “Por esses motivos, a ideia do projeto também é conscientizar e auxiliar essa população sobre a importância dos cuidados com a saúde, por meio de palestras educativas”, reforça Kim.
“Quando a nossa organização não governamental for plenamente constituída, queremos que os profissionais divulguem em revistas científicas suas pesquisas, por exemplo. Queremos fazer convênios com universidades do exterior para a realização de intercâmbio. Ou seja, o Voluntários por Amor tem a missão de ser uma casa de acolhimento para médicos de todas as nacionalidades”, complementa o presidente.
Sobre o grupo
O Voluntários por Amor surgiu em março de 2017, com a participação de médicos de diversas nacionalidades da América do Sul e brasileiros. O primeiro atendimento foi realizado no bairro do Brás e quase 400 imigrantes receberam assistência naquela ocasião. “O grupo começou de forma voluntária com alguns profissionais bolivianos, sensibilizados com seus compatriotas. Inicialmente, auxiliavam pacientes de forma particular, no entanto, a ação foi crescendo e se aprimorando”, explica Kim.
Boa parte do público, em torno de 90%, é de origem hispânica, englobando imigrantes da Venezuela, Bolívia e Colômbia, além de refugiados. Neste segundo mutirão, uma média de 40 brasileiros também foi atendida.
Mas o que leva esse grupo a prestar assistência gratuita à população carente? Nas palavras de Sonia, de origem boliviana: “Ser médico não é só atender os pacientes que possuem boa condição econômica. Sempre me preocupei também com aqueles que têm dificuldades financeiras e de falar um idioma diferente. Espírito de ajuda e solidariedade é a missão do ser médico”.
“Isso motivou a gente – profissionais médicos e da Saúde, de todas as áreas – a ajudar o nosso povo, como retribuição à terra que nascemos”, afirma o boliviano Soares. O clínico geral Erwin Cordova Chavez também faz parte do Voluntários por Amor, como vice-presidente, além da equipe de conselheiros, tesoureiros e coordenadores.
Fotos: Marina Bustos