Trajetória de médicos sergipanos em São Paulo é contada na Tertúlia Acadêmica

A Tertúlia Acadêmica de março da Academia de Medicina de São Paulo - moderada pelo presidente da instituição, Hélio Begliomini - aconteceu na última quarta-feira, 8 de março, na sede da Associação Paulista de Medicina, com transmissão ao vivo. A palestra da edição abordou o tema “A saga de ilustres médicos sergipanos na terra dos Bandeirantes” e foi apresentada pelo médico William Eduardo Nogueira Soares

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A Tertúlia Acadêmica de março da Academia de Medicina de São Paulo – moderada pelo presidente da instituição, Hélio Begliomini – aconteceu na última quarta-feira, 8 de março, na sede da Associação Paulista de Medicina, com transmissão ao vivo. A palestra da edição abordou o tema “A saga de ilustres médicos sergipanos na terra dos Bandeirantes” e foi apresentada pelo médico William Eduardo Nogueira Soares.

Soares, que é natural de Sergipe, é um dos médicos que migraram para São Paulo a fim de alcançar novas oportunidades. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal de Sergipe, ao chegar na maior metrópole do Brasil, em 1976, realizou as residências em Cancerologia e Radioterapia. Após passar 15 anos na capital paulista, voltou para seu estado natal, se estabelecendo em Aracaju e se tornando pioneiro no tratamento contra o câncer no município.

Ao iniciar a apresentação, William Soares realizou uma singela homenagem às mulheres presentes no recinto, presenteando-as com rosas por conta do Dia Internacional da Mulher. Além disso, relembrou a atuação de ilustres médicas, como Maria Augusta Generoso Estrela, Rita Lobato – esta a primeira brasileira formada em Medicina –, Odette Nóra de Azevedo Antunes, Délia Ferraz Fávero, Maria Irma Seixas Duarte e Mary Souza de Carvalho.

O êxodo dos sergipanos  

É fundamental destacar que dois grupos se dividiam nessas viagens. Eram eles famílias da aristocracia rural ou parte da elite econômica – que chegavam em São Paulo no intuito de expandir os seus negócios e investirem no estado – e médicos menos abastados, que precisavam de ajuda do Império para se manter e estavam em busca de melhores condições de vida.

Dimensão territorial, já que Sergipe é o menor estado do País; acontecimentos políticos; ambição de fortuna; índole aventureira; e oportunidade de renome em uma cidade grande foram alguns dos motivos que levaram os profissionais a deixarem sua terra. Além disso, extinção da escravidão, concorrência estrangeira, surgimento de engenhos e redução das exportações de açúcar foram fatores contribuintes para a decadência da economia sergipana, que também levaram ao êxodo da população.

“O professor Sampaio dizia que os nossos talentos vão desabrochar longe do pátrio ninho; para o professor José Calazans, Sergipe é um exportador de talentos; enquanto o professor Gilberto Amado, por sua vez, expunha que Sergipe é pequeno para não ofuscar a grandeza dos seus filhos”, explicou.

Várias teses explicam o porquê de São Paulo ter sido o local escolhido para a migração. Embora muitos sergipanos tenham seguido para o sul da Bahia, Rio Grande do Sul e Manaus, a terra da garoa acabou sendo a grande eleita e o estado preferido para essas mudanças.

Um mapa elaborado pela Sociedade Promotora de Imigração demonstra que os terrenos do interior de São Paulo eram despovoados, repletos de matas e selvas, o que foi um atrativo para a procura dessas áreas – mais precisamente entre o noroeste e nordeste do estado, próximo aos municípios de Casa Branca, Mococa e Ribeirão Preto, por exemplo. As terras nessas regiões, se comparadas com as de Sergipe, eram muito mais baratas, o que contribuía para o processo migratório.

“A estrada de ferro também atraiu muito, porque eles tinham uma facilidade em sair do Porto de Santos e ir para o interior. Era uma grande malha ferroviária que ajudava no deslocamento dentro de São Paulo e até no Rio de Janeiro, alcançando além da capital. Não tínhamos tantas estradas, não tínhamos aviões, então, as pessoas vinham de navio, desciam no Porto e tinham a possibilidade de seguirem os seus destinos”, destacou o palestrante.

Acontecimentos

Outro complemento a este contexto é a terra roxa paulista – que na verdade era vermelha, mas leva este nome por conta da forma como os italianos descreviam a cor. A terra, que é riquíssima em ferro e tem um solo profundo, considerado um dos melhores do mundo, em especial do Brasil, faz com que as plantações tenham resultados espetaculares, de modo que em 1876, há mais de 200 anos, São Paulo já era considerada uma gigante da economia por conta de sua terra.

Não obstante, a cultura do café e o estímulo para o desenvolvimento encontrado por meio dos trens, se tornaram pontos fundamentais para que o estado passasse a receber a única coisa que, até então, lhe faltava: pessoas. Estima-se que a população paulista em 1872 era de 30 mil habitantes; em 1890, o número foi para 65 mil; enquanto em 1900, os índices alcançaram 240 mil pessoas vivendo no local em um período de menos de 30 anos.

“Entre 1885 e 1939, mais de 2 milhões de imigrantes entraram em São Paulo, o que foi uma loucura para a capital, ocasionando o surgimento de favelas e provocando uma explosão de doenças como tuberculose, varíola, malária e febre amarela, entre outras. Em Santos, o seu povo e tripulantes que atracavam no porto contraíam moléstias infecciosas e morriam por falta de recursos médicos”, relatou.

De acordo com Soares, o problema que ocorria em Santos pôde ser resolvido por conta de Dom Pedro II, que solicitou em todo o território nacional apoio de ciências médicas que contribuíram para criar condições favoráveis para que os médicos, principalmente os recém-formados, pudessem ir para o local e reverter a reputação que, naquela época, a cidade tinha.

Pioneiros

Durante a apresentação, o palestrante exaltou alguns dos importantes nomes que marcaram a história da migração da Medicina sergipana para São Paulo com a sua atuação em prol da profissão. Eles se dividem entre o clã da família Barretto, que se instalou nas regiões de Mococa, Jaboticabal, Capivari, Santos e São Paulo, e o clã dos Vampré.

Além deles, dentre os diversos nomes marcantes estão Affonso Henrique de Azevedo; Albano de Mello Prado; Alfredo Theodoro Cordeiro Guaraná; Álvaro de Oliveira Ribeiro; Ascendino Ângelo dos Reis; Balthazar Vieira de Mello; Silvério Martins Fontes; Ascendino Reis; e José Lourenço de Magalhães; entre outros ilustres profissionais.

No intuito de continuar com a sua investigação acerca dos sergipanos que fizeram história na Medicina paulista, William Soares solicitou que, caso o público tenha conhecimento dos diversos nomes mencionados durante a palestra, entre em contato com ele. “Concluo agradecendo em nome da Academia Sergipana de Medicina, e declaro, mais uma vez, o justo reconhecer pela fidalguia deste acolhimento. Para mim, é uma honra grande que carregarei por mais muitos anos. Obrigada por tudo, São Paulo.”

O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, destacou que Sergipe é uma terra que ocupa um lugar muito especial em sua história de vida. “Adotei Sergipe como o meu destino desejável, onde eu gostaria de viver se não morasse em São Paulo. Tenho certeza de que essa história que você vem nos brindar gera frutos por várias razões. Vamos imediatamente escrever aos colegas das cidades mencionadas e as nossas Regionais irão continuar a sua investigação”, complementou.

Texto: Julia Rohrer
Fotos: Marina Bustos