O mais recente boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde atualiza os dados sobre a situação epidemiológica do tétano acidental (TA) no Brasil.
O tétano acidental é uma doença infecciosa não contagiosa, prevenível por vacina e causada pela ação de exotoxinas produzidas pela bactéria Clostridium tetani, que se encontra em forma de esporos na natureza. A infecção ocorre pela introdução desses esporos em ferimentos superficiais na pele e mucosas.
Situação epidemiológica de 2018 a 2021
No período de 2018 a 2021, foram notificados 1.617 casos de tétano acidental (TA), dos quais 767 (47%) foram confirmados. Os estados que mais notificaram casos foram Mato Grosso (11,6%), Minas Gerais (9,8%), Ceará (9,2%) e São Paulo (7,5%) e os que mais confirmaram foram Minas Gerais (10,6%), Rio Grande do Sul (10,2%), Paraná (7,7%) e Bahia (7,4%).
As maiores incidências da doença ocorreram em Rondônia, Mato Grosso e Acre, com 0,34, 0,29 e 0,27 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. No Brasil, a incidência foi de 0,12 por 100 mil habitantes e a média no mesmo período foi de 192 casos por ano.
Entre os casos notificados, a maioria encontra-se na região Nordeste (32%), seguida do Sudeste (20%) e Centro-Oeste (20%), com 524, 326 e 325 casos do total de 1.617, respectivamente. Já entre os confirmados, o maior percentual também se encontra na região Nordeste (33%), com 256 casos, seguida do Sul (24%), com 186 casos, e Sudeste (21%), com 164 casos.
No período analisado, 69% dos casos confirmados de TA residiam em zona urbana, 77% eram do sexo masculino e, no que diz respeito à faixa etária, a grande maioria dos casos concentra-se no grupo entre 40 e 79 anos (86%), sendo o grupo entre 50 e 59 anos o mais predominante (25%).
No que diz respeito à variável ocupação, dos 767 casos confirmados, apenas 63% tinham a informação preenchida. As categorias que apresentaram mais casos foram: aposentados/pensionistas, trabalhadores agropecuários e pedreiros.
Indicadores
Dentre as possíveis causas de ocorrência do tétano acidental, em 50% (387 de 767 casos) o tipo de ferimento foi devido a “perfuração”, sendo os membros inferiores os mais atingidos (67%). Outras causas foram laceração e outras causas diversas, com 14% cada. Em 40% dos casos, o próprio domicílio foi o local da fonte de infecção, seguidos de via pública (15%) e trabalho (14%).
De acordo com o boletim, devido à gravidade da doença, 93% dos casos de TA foram internados. Dentre os principais sintomas da doença, as crises de contraturas (70,3%) e o trismo (69%) foram os mais frequentes.
Foram confirmados 262 óbitos por TA no período analisado, com letalidade que variou, nos estados, de 21,4% a 70,6% em 2018; de 12,5% a 69,2% em 2019; de 22% a 100% em 2020; e de 9,1% a 100% em 2021. No período, a letalidade média foi de 34% e a faixa etária com o maior número de óbitos foi a de 50 a 79 anos (69% do total).
Em relação à classificação final dos casos notificados, 47,4% foram confirmados, 38,7% foram descartados e cerca de 14% foram classificados como inconclusivos ou ignorado/branco. Quanto à evolução dos casos, 48% (367) obtiveram cura e 34% evoluíram para óbito.
Cobertura vacinal
Com relação à situação vacinal, o boletim destaca que 50% (380 de 767) não apresentavam qualquer informação de vacina e os nunca vacinados representaram 25% (191 de 767) dos casos.
Na faixa etária de 30 a 79 anos, onde concentram-se a maioria dos casos, 91% (173 de 191) não tinham nenhuma dose de vacina e 85% do total (324 de 380) tinham a informação como ignorada ou em branco.
No período analisado, a cobertura com a vacina Penta permaneceu abaixo da meta (mais de 95%). O boletim aponta que nos anos de 2020 e 2021, a pandemia de Covid-19 pode ter impactado nas baixas coberturas vacinais. As menores coberturas no período foram registradas nos estados do Amapá (49,85%), Pará (57,89%), Maranhão (62,89%) e Rio de Janeiro (63,39%).
Apesar da redução de casos ao longo dos anos, o tétano acidental continua sendo um problema de saúde pública, tendo em vista os altos custos de tratamento e a alta letalidade. O maior risco de adoecer e de morrer permanece entre idosos, do sexo masculino na categoria aposentados/pensionistas.
O Ministério da Saúde orienta que a principal medida de prevenção do TA é a vacinação e a baixa cobertura vacinal pode ocasionar em um aumento de casos e, consequentemente, aumento da letalidade.
Situação em 2022
Até a SE 37 de 2022, foram notificados 313 casos suspeitos de tétano acidental, das quais 121 (38,6%) foram confirmados. Os estados que mais notificaram foram Minas Gerais (32), São Paulo (28) e Rio Grande do Sul (26) e os estados que apresentaram o maior número de casos confirmados foram Bahia (12), Minas Gerais (10), Paraná (9) e Rio Grande do Sul (9).
O boletim aponta que, em 2022, os casos seguem o mesmo padrão dos anos anteriores: 77% residiam na zona urbana e a maioria dos confirmados era de pessoas do sexo masculino (81%) e com idade entre 50 e 59 anos (28%).
No período analisado, foram registrados 24 óbitos, dos quais 75% na faixa etária de 50 a 79 anos da idade. A letalidade foi de 20%.