“Estamos de acordo que a saúde vai mal em todos os lugares do mundo, atingido desde os pobres aos ricos. Conforme levantamento da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, em Oftalmologia temos 85 milhões de consultas por ano em São Paulo. É como se a cada três anos toda a população do Brasil tivesse uma consulta. São números que representam apenas a assistência do SUS; ou seja, um terço da população do Brasil todo ano se consultando, haja dinheiro e profissionais para cuidar de pessoas.”
Foram com essas palavras que o professor titular da Escola Paulista de Medicina – Unifesp, Rubens Belfort Junior, iniciou sua palestra em tertúlia da Academia de Medicina de São Paulo, ocorrida no dia 12 de junho, na sede da Associação Paulista de Medicina.
De acordo com o especialista, uma parte importante dos casos oftalmológicos estão relacionados à catarata e à degeneração ocular. A demanda é enorme, segundo ele, não só no Brasil, como em vários países do mundo. “Anos atrás, participamos de um projeto de cataratas e diabetes no Hospital São Paulo em apenas um dia atendemos 6 mil pessoas”, relata sobre a experiência.
Um estudo norte-americano aponta que teria de aumentar para 35% o número de oftalmologistas em 2020. “Levando-se em consideração o tempo para a formação médica, é impossível aumentar a força de trabalho em pouco tempo. Em outras palavras, está faltando médicos no mundo para atender pacientes”, reafirma.
Realidade brasileira
Segundo levantamento, há número importante de pacientes cegos de operação de retina. A degeneração na retina atinge 80% da população acima de 70 anos. “Só 30% dos casos são tratáveis. Esse número tende a aumentar de três a quatro vezes”, informa Belfort.
O tratamento se dá por meio de aplicação de injeção ocular. Hoje são fabricadas em média 23 milhões de injeções anualmente. “É provável que esse número passe para 50 milhões a 3 mil dólares cada injeção”, alerta.
Para o professor, é essencial o investimento em inteligência artificial. “Na medida em que estruturemos isso, podemos dar mais poder ao médico porque ele é o centro, a hierarquia adequada para designar, controlar, planejar e executar para que o sistema funcione adequadamente”, analisa.
Por fim, o professor falou de sua atuação e da equipe em diferentes áreas capital e região metropolitana e outras brasileiras. Em Monte Negro, localizada em Rondônia, 80% das ocorrências atendidas pelo campus do Instituto da Visão da Escola Paulista de Medicina na região tiveram curas em seus quadros.
“Estamos também cada vez mais fortes com ensino de diagnóstico por imagem para fazer com que o médico não oftalmologista, com o auxílio da internet, possa conhecer melhor essa área. O modelo amplia de maneira rápida o aprendizado inclusive de todas as doenças responsáveis por cegueiras e que, por vezes, podem ser diagnosticadas em situações clínicas”, resumiu.
“Temos aqui hoje entre nós um dos mais reverenciados acadêmicos, o professor Rubens Belfort Junior. A história dele na Academia de Medicina de São Paulo remota ao ano de 1985, quando foi admitido como acadêmico titular. É reconhecido por todos como o maior oftalmologista de todos os tempos, nacional e internacionalmente pela dinâmica que lhe imprimiu à especialidade no país e no mundo. Em São Paulo, faz parte de uma dinastia que também é acompanhado por oftalmologistas destacados. Considero-o como um irmão querido próximo, portanto”, agradeceu o presidente acadêmico da AMSP e da APM, José Luiz Gomes do Amaral.
Texto: Keli Rocha
Fotos: BBustos Fotografia