Na última quarta-feira, 11 de setembro, a Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) realizou sua tradicional Tertúlia Acadêmica. O palestrante foi o médico José Maria Soares Júnior, que abordou o tema “Melatonina e saúde da mulher”.
O presidente da AMSP, Helio Begliomini, abriu o evento agradecendo aos presentes e apresentando o conferencista: “José Maria construiu uma sólida carreira na área ginecológica. Na Faculdade de Medicina da USP, ele é professor de Ginecologia, chefe do departamento de Obstetrícia e Ginecologia e supervisor do setor de Ginecologia Endócrina e Climatério do Hospital das Clínicas.”
Melatonina e sistema reprodutivo
José Maria Soares Júnior iniciou explicando a descoberta da melatonina. Em 1958, o hormônio foi identificado após o isolamento da glândula pineal. Pesquisadores, utilizando extratos dessa glândula em experimentos com sapos, fizeram a descoberta, liderada pelo dermatologista Aaron Lerner.
“A produção de melatonina ocorre principalmente à noite, relacionada à inervação do sistema nervoso. No período noturno, o sistema é ativado e o sinal vai da retina até o núcleo supraquiasmático (NSQ), responsável pelo ritmo biológico”, explicou. O hormônio é transportado para o hipotálamo e para a circulação sanguínea.
O especialista também ressaltou que a melatonina desempenha um papel importante na regulação da fertilidade, tanto em animais sazonais, com períodos específicos de acasalamento, quanto em humanos, que ovulam mensalmente e podem engravidar em qualquer estação.
“Em um estudo com animais, observamos que seus ovários estavam aumentados. Ao avaliar os resultados, descobrimos a presença de microcistos, sugerindo uma possível ligação da melatonina com o processo. Encontramos sinais de síndrome do ovário policístico (SOP) e aumento da teca interna das células”, relatou.
O próximo passo da pesquisa foi investigar se a melatonina também estaria relacionada à puberdade precoce, observando-se uma queda nos níveis do hormônio ao longo da vida. “Meninas com menos de sete anos apresentaram alterações, sugerindo que a melatonina pode influenciar a puberdade, com impacto no sono, humor e outras mudanças”, explicou o especialista.
Segundo Soares Júnior, a pesquisa indicou que a síndrome dos ovários policísticos afeta cerca de 15% das mulheres, causando crescimento dos ovários e interferindo em seu funcionamento adequado.
Pesquisas e publicações
Um dos estudos citados por José Maria Soares Júnior mostrou que a melatonina pode reduzir os níveis de hormônio folículo-estimulante (FSH) e aumentar os níveis de hormônio antimülleriano (HAM), além de melhorar a ação da enzima antioxidante SOD2.
Outro ponto discutido foi a relação entre melatonina e câncer de mama, especialmente em mulheres que trabalham à noite. Ele explicou que essas mulheres têm maior risco de desenvolver a doença devido à diminuição dos níveis de melatonina, acrescentando que o hormônio pode reduzir a expressão de receptores tumorais e aumentar a eficácia da quimioterapia.
O especialista também destacou a influência da melatonina na obesidade. Muitas de suas pacientes apresentam sobrepeso ou obesidade, condições que afetam diretamente os níveis do hormônio. O desafio, segundo ele, está em encontrar a dose certa de melatonina para regular o metabolismo lipídico e auxiliar na perda de peso, especialmente em mulheres que enfrentam desequilíbrios hormonais.
Fotos: Divulgação AMSP