Tertúlia Acadêmica: Emília Inoue Sato fala sobre o exercício profissional e a vida acadêmica e associativa

A edição de julho da Tertúlia da Academia de Medicina de São Paulo, realizada em conjunto com a Associação Paulista de Medicina (APM), aconteceu nesta quarta-feira, 8, através da plataforma virtual Zoom, e contou com a presença da reumatologista Emília Inoue Sato

Últimas notícias

A edição de julho da Tertúlia da Academia de Medicina de São Paulo, realizada em conjunto com a Associação Paulista de Medicina (APM), aconteceu nesta quarta-feira, 8, através da plataforma virtual Zoom, e contou com a presença da reumatologista Emília Inoue Sato, que falou sobre “Ser médica: o exercício profissional, a vida acadêmica e associativa”.

A convidada é médica pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Na instituição, é Professora Titular, membro do Conselho de Gestão em Saúde e ex-diretora.

O evento foi ministrado por Linamara Rizzo Battistella, Professora Titular de Fisiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e criadora da Rede de Reabilitação Lucy Montoro. Ela classificou a palestrante como representante do que existe de mais completo na ciência reumatológica. “Emília foi inovadora em tudo o que fez em sua área e na EPM. Ela levou um modelo diferenciado para todo o Brasil e grande parte dos estudantes de Medicina ao redor do País já usufruíram de seus conhecimentos.”

A reumatologista iniciou sua palestra relembrando o momento de fundação da Academia de Medicina de São Paulo, em 1895, então chamada de Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, e pontuou alguns dos principais acontecimentos da instituição, como o estabelecimento de 130 cadeiras, cada uma com um patrono representante, em 2004. “Além disso, gostaria de deixar o meu especial agradecimento ao acadêmico Helio Begliomini, por nos presentear com dois livros, através de um minucioso trabalho que permitiu acesso à história da nossa Academia”, disse.

Entrando no tema, Emília afirmou que é necessário entender que ser médica faz parte de um conjunto de uma série de características que compõem as mulheres, como esposa, mãe e muitas vezes provedoras de família, ou seja, as responsáveis por toda a estrutura familiar. Dessa forma, a especialista apresentou um pouco da história de médicas que contribuíram abrindo o caminho para outras mulheres na área.

Mulheres na Medicina

“A primeira mulher a se formar e exercer a Medicina foi Elizabeth Blackwell, nos Estados Unidos. Ela se graduou em 1849 e lutou muito para que outras mulheres também pudessem ocupar esse cargo e serem respeitadas. Mas, antes disso, a gente tem casos de mulheres que não eram permitidas a exercer a Medicina e, portanto, forjavam suas identidades como homens para poder trabalhar, como é o caso de Margaret Ann Bulkley e Enriqueta Favez”, descreveu.

A Medicina, conforme explicou Emília, era predominantemente masculina. Sobre a nossa realidade, relembrou: “A primeira brasileira a se formar foi Maria Augusta Generosa Estrela, graduada em Nova York (EUA). Já a primeira a se graduar no Brasil, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, foi Rita

Lobato Velho Lopes, em 1887. Ela depois entrou na carreira política, mas foi cassada durante o Estado Novo”.

A médica abordou também a história das mulheres dentro da Academia de Medicina de São Paulo, relembrando que das 130 cadeiras, apenas onze são ocupadas por figuras femininas, representando 8,46% do total de membros. Além disso, relembrou as patronesses da instituição – como Maria Augusta Estrela, Carlota Pereira Queiroz e Carmem Escobar Pires.

“Para estimular mais as mulheres existe a Academia Brasileira de Mulheres Médicas, fundada em 1960. Ela procura incentivar a participação feminina e acho muito importante as mulheres participarem da vida associativa. Existe também a Associação de Mulheres Médicas pelo Mundo.”

Emília ressaltou, ainda, que mesmo atualmente é muito difícil para as mulheres estarem presentes na Medicina, por problemas econômicos, sociais, culturais ou religiosos. “Por isso, essas instituições propõem que as profissionais possam cuidar de si para melhor atender o outro.”

Vida pessoal e acadêmica

Durante a palestra, Emília Inoue Sato contou aos participantes um pouco de sua trajetória pessoal e o seu papel como mulher dentro da Medicina. Descendente de imigrantes, ela nasceu no Hospital São Paulo – onde mais tarde trabalharia – e morou com a família, até os oito anos, no Vale do Ribeira. Depois, mudou-se para São Paulo, onde trabalhava como babá dos primos.

Mais adiante, durante o período do ensino médio, ela atuou como jovem aprendiz em um banco. A reumatologista classificou como a sua maior alegria a aprovação no vestibular. Por conta disso, porém, passou por um episódio de preconceito: negaram o seu pedido para trabalhar no período noturno – turno em que só os homens trabalhavam no banco – para que conseguisse estudar durante o dia.

Após o acontecimento, Emília foi secretaria de um colégio por três anos, trabalhou no Banco de Sangue do Hospital São Paulo e foi plantonista acadêmica no Hospital Pompeia aos finais de semana. Foi casada e teve três filhos. “Como mulher, ter uma família e ter sido mãe foi, sem dúvidas, a minha maior realização pessoal, além de ser avó”, comemorou.

Sobre a carreira acadêmica, ela fez doutorado na EPM em 1986, enquanto estava grávida do terceiro filho, momento em que recebeu grande ajuda de seu orientador, o professor Edgard Atra. Em 1995, participou do concurso de livre-docência e, em 1997, realizou o concurso de Professor Titular em Reumatologia na EPM. “Se o professor Edgard não tivesse me estimulado e apoiado tanto, talvez eu não conseguisse. Graças a ele me inscrevi e consegui estar apta para concorrer aos cargos”, relembrou.

De 2005 a 2008, Emília foi chefe do Departamento de Medicina, se destacando por ser a primeira mulher no cargo. Também foi vice-diretora do campus São Paulo da Unifesp e durante os anos de 2015 e 2019 foi, mais uma vez, a primeira mulher a assumir um cargo de renome, ocupando dessa vez a Diretoria da Escola Paulista de Medicina.

A médica finalizou a palestra destacando a importância de ter um bom apoio familiar e uma base que ofereça suporte para as mulheres buscarem seus objetivos sem medo. Ela também questionou o pequeno número de mulheres em cargos de chefia.

“O que acontece que nós, mulheres, somos a maior parte das estudantes e mesmo assim somos poucas em cargos de chefia? Certamente, não é por falta de capacidade. Homens e mulheres são iguais. Atualmente, eles têm uma participação mais ativa nos cuidados da casa e isso dá uma participação mais ampla às mulheres no mercado de trabalho, dando uma maior oportunidade para elas irem atrás dos seus espaços e terem as suas próprias conquistas” concluiu.

As palavras finais ficaram por conta do presidente da APM e da Academia de Medicina de São Paulo, José Luiz Gomes do Amaral, que agradeceu a palestra. “Fazer parte da Academia de Medicina de São Paulo é um privilégio, é conviver com pessoas que nos trazem suas ricas experiências e histórias de vida. A Emília deixou aqui um grande exemplo a ser seguido”, finalizou.