Em celebração aos 127 anos de aniversário da Academia de Medicina de São Paulo, no dia 9 de março, a tradicional tertúlia acadêmica contou com a apresentação “Personagens da História da Medicina: uma jornada de 5 mil anos”, ministrada pelo acadêmico Flávio Antônio Quilici. O evento ocorreu na sede da Associação Paulista de Medicina, com transmissão ao vivo pelo Zoom.
“Esse convite veio em razão da autoria do meu livro, publicado em novembro do ano passado e intitulado com o mesmo nome desta palestra. São 950 personagens que acompanham essa história. Tivemos várias fontes de referência que contemplam as mais de 400 páginas da obra. Devidamente documentada, essa jornada começa com a escrita. São médicos e não médicos, mulheres e homens, que fizeram a evolução de modernizar a Medicina e a ciência”, explica Quilici.
O acadêmico destacou algumas dessas personalidades. Em linha cronológica, passou pela antiguidade, com o primeiro registro em tábua de argila (escrita cuneiforme) do manual do médico, na Mesopotâmia. Em seguida, retratou a prática médica clássica, medieval, renascentista, revolução científica e modernidade.
Médicos ao longo da história
“O que vamos fazer aqui é um pequeno caminho pela história desses grandes personagens. Na Antiguidade, Hesy-Ra (3º milênio a.C.) foi o primeiro médico do Antigo Egito. Na China, Shen-Nung (2800 a.C.), Imperador Vermelho, é considerado o pai da Medicina Chinesa. Já na Índia, Sushruta (século VI a.C.), é considerado o pai da cirurgia”, reitera.
Continuando, o acadêmico destaca: “Na Medicina Clássica, o grego Alcméon (510-? d.C.), médico e filósofo, discípulo de Pitágoras, desenvolveu o estudo dos quatro componentes básicos: água (umidade), terra (secura), fogo (calor) e ar (frio) e a teoria humoral das doenças. Hipócrates (460-377 a.C.), ‘pai da Medicina Ocidental’, iniciou a racionalização da Medicina (pré-científica), valorizou a anamnese e o exercício físico do paciente”.
Em Roma, continua, o destaque é para Galeno (129–216 d.C.). “Dentre suas contribuições, ele desenvolveu a teoria da circulação sanguínea, tipos arterial e venoso e deu grande valor à medição do pulso. Na Medicina Medieval, temos Avicena (980-1037 d.C.), maior nome da medicina árabe e polímata, e Trotula di Ruggiero (1050-1097 d.C.), primeira médica europeia diplomada da Escola Médica de Salerno”, explica Quilici.
No Renascentismo (séculos 15 e 16), o médico relembrou Girolamo Fracastoro (1478-1553 d.C.), que discorreu sobre a teoria de que as enfermidades contagiosas poderiam ser espalhadas por minúsculas “sementes de doenças”. “Já Vesalius (1514-1564 d.C.), pai da moderna anatomia, é autor de ‘De Humanis Corporis Fabrica Libri Septem’, sete livros da estrutura do corpo humano, mostrando os sistemas principais. Gabriello Fallopio (1523-1562 d.C.) é conhecido por desenvolver o preservativo masculino de linho e por descrever vários órgãos femininos. E Ambroise Paré (1510-1590 d.C.) é considerado o maior cirurgião-barbeiro da Renascença.”
Revolução Científica e Moderna
No século 17, marcaram a história da revolução científica na Medicina os nomes William Harvey (1578-1657 d.C.), médico e professor de Cambridge, com o estudo da Teoria da Circulação Sanguínea; e Anton Leeuwenhoek (1632-1723 d.C.), com a identificação de vários microrganismos, abrindo caminho para Pasteur, Koch e Fleming.
“No século 18, Giovanni Morgagni (1682-1771 d.C.) mostrou que as doenças estavam localizadas em órgãos específicos, que os sintomas das doenças correspondiam às lesões anatômicas e que as alterações patológicas eram responsáveis pelas manifestações e ordem cronológica”, pontua Quilici.
Já Edward Jenner (1749-1823 d.C.), médico inglês, é autor de “Um inquérito sobre as causas e efeitos da vacina contra a varíola” (1798) e o primeiro a afirmar que a vacinação é a mais importante arma contra as doenças contagiosas.
Na Medicina Moderna (século 19), Louis Pasteur (1822-1795 d.C.) desenvolveu a teoria dos germes e suas aplicações. “Identificou as bactérias como causas das doenças, idealizou a pasteurização dos alimentos e construiu a autoclave de Chamberland – assepsia, criou a vacina contra a doença raiva (vírus Lyssarius), produziu o soro antirrábico, com a primeira cura da doença, e realizou seu objetivo, a criação do Instituto Pasteur”, acrescenta.
Theodor Schwann (1810-1882 d.C.), Rudolf Virchow (1821-1902 d.C.), Margareth Bulkley (1792-1865 d.C.), Robert Koch (1822-1910 d.C.), William Morton (1819-1868 d.C.), Ignaz Semmelweis (1818-1865 d.C.), Joseph Lister (1827-1912 d.C.), Gregor Mendel (1822-1884 d.C.), Wilhelm Roentgen (1845-1923 d.C.), Wilhelm Roentgen (1845-1923 d.C.), Marie Curie (1867-1934 d.C.), Alois Alzheimer (1864-1915 d.C.) e Sigmund Freud (1856-1939 d.C.) são outros nomes que marcaram a Medicina Moderna.
No Brasil, os destaques são Maria Augusta Estrela, Rita Lobato Lopes, Nise da Silveira, José C. Picanço, Adolpho Lutz, Emílio Ribas, Vital Brazil, Juliano Moreira, Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e Manoel de Abreu.
Já no século 20, Alexander Fleming (1881-1955 d.C.) descobriu a substância produzida pelo fungo penicillium: antibiótico. Élie Metchnikoff (1845-1916 d.C.) desenvolveu a Teoria Celular da Imunidade. Albert Sabin (1906-1993) criou a primeira vacina de vírus “vivo atenuado” contra a poliomielite. “E o mais interessante, ele não patenteou sua vacina, dizia que era um presente a todas as crianças do mundo”, disse Quilici.
Em seguida, Maurice Hilleman (1919-2005) desenvolveu mais de 40 vacinas, como a tríplice viral, hepatite A, hepatite B, varicela, meningite e pneumonia.
Destaques
“Como digo, a história e seus personagens continuam. Só no século 20, personalidades contribuíram para os temas transplantes de órgãos, câncer, biotecnologia, cultura de células, clonagem celular, fertilização ‘in vitro’, células-tronco, engenharia genética, cirurgia robótica e fetal e Telemedicina – Inteligência Artificial”, resume o acadêmico.
Ele finalizou a palestra com a imagem do quadro “The Doctor”, pintado em óleo sobre tela EM 1891, que está exposto na Galeria Tate, em Londres. “A obra retrata a Medicina para mim. Uma doença, um paciente e um médico com sua incansável busca pela vida”, conclui.
“Aqui ficou bastante claro que me enganei quando disse que o livro ‘Personagens da História da Medicina: uma jornada de 5 mil anos’ deve fazer parte obrigatória da biblioteca de todos os colegas médicos. Deve fazer parte obrigatória da nossa mesa de cabeceira, é impossível nos distanciarmos dessa cronologia. Realmente é fundamental buscarmos na história a essência da nossa profissão”, reforça o presidente da Academia de Medicina de São Paulo e da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral.
No conjunto de mensagens ao longo da rápida viagem ao tempo, Amaral considera o médico francês Jules Parrot (1829-1883) também como uma referência importante para a humanidade e história da Medicina.
A tertúlia ainda contou com a participação especial do presidente da Academia Paranaense de Medicina, Jurandir Marcondes Ribas Filho.
Fotos: Marina Bustos