Suscetibilidade genética e relação da Covid-19 com miopia são tema de Webinar APM

O evento foi transmitido pelo canal da APM no YouTube, na noite da última quarta-feira (20), e teve o presidente da Associação, José Luiz Gomes do Amaral, como apresentador, e moderação do 1º vice-presidente da entidade, João Sobreira de Moura Neto, e da presidente da APM Campinas, Fátima Bastos

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Na última edição de seu webinar, a Associação Paulista de Medicina reuniu especialistas convidados pelas regionais de Campinas e de Araras para abordarem os temas “Suscetibilidade genética, imunopatologia e perspectivas das vacinas contra Covid-19”, com Antônio Condino Neto, e “A explosão da miopia e sua relação com a pandemia do novo coronavírus”, com Rodrigo Teixeira de Campos Carvalho.

O evento foi transmitido pelo canal da APM no YouTube, na noite da última quarta-feira (20), e teve o presidente da Associação, José Luiz Gomes do Amaral, como apresentador, e moderação do 1º vice-presidente da entidade, João Sobreira de Moura Neto, e da presidente da APM Campinas, Fátima Bastos.

“A Covid-19 é um Beta-CoV da mesma família do SARS CoV-1, de RNA envelopado de uma só cadeia, em torno de 30 mil kbs, com quatro proteínas estruturais, sendo a proteína Spike a mais conhecida porque é por meio dela que o vírus penetra nos receptores ACE2 e invade o nosso organismo”, explica Condino, que é professor Titular de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e coordenador do Departamento Científico de Alergia e Imunologia da APM Campinas.

A transmissão principal se dá pelas gotículas respiratórias de uma pessoa infectada para outra e, em alguns casos, algumas ficam suspensas no ar, em distância de aproximadamente 1,5 e 2 metros, por isso, a relevância do uso da máscara. “Hoje, com mais de um ano de conhecimento acumulado, sabemos que a infecção através de superfícies não ocorre com a frequência que imaginávamos anteriormente, o risco é considerado menor. Além de não ser conhecida a transmissão por outros excretos, como fezes, secreções oculares, sêmen e o próprio sangue”, acrescenta o especialista.

Segundo dados trazidos por ele, cerca de 59% dos casos de infecção resultam de pessoas assintomáticas e 35% de pré-sintomáticas. “Portanto, é um cavalo de troia, que explica, em parte, o porquê dessa doença se disseminar rapidamente e de muitas vezes as pessoas não encontrarem explicação de como contraíram”, acrescenta Condino.

Suscetibilidade genética

Antônio Condino Neto é um dos dois brasileiros membros do Consórcio Internacional “Covid Human Genetic Effort”, envolvendo especialistas de diversos países do mundo, organizado para estudar a base genética de suscetibilidade do novo coronavírus, com base na infecção viral com alguma variabilidade genética.

“Temos um amplo espectro de doenças, de formas moderadas, leves, graves, muito graves e casos fatais. Perguntamos se existe algum defeito imunológico de base que torne suscetíveis essas pessoas a desenvolverem a forma grave, descritos previamente no nosso código genético. Isso já acontece em outras infecções virais, como Influenza, Herpes simplex vírus 1, beta-papilliomavírus, Epstein-Barr vírus, varicela-zoster vírus, human herpes vírus-8, cytomegalovirus, hepaptitis A vírus e as complicações de vacinas de febre amarela, assim como resistências do HIV”, informa.

No dia 24 de setembro de 2020, foram identificadas três mutações descritas autossômicas dominantes, ou seja, com apenas um alelo para que a doença se expresse e agrave quadros.

“Para concluir essa parte da imunopatologia, o vírus tem culpa sim, mas não sozinho. A nossa genética fala muito alto nesse aspecto e ainda estamos aprendendo sobre ela como é de fato a resposta imunológica”, acrescenta o professor.

Sobre as variantes da Covid-19 hoje no mundo, têm-se a B.1.1.7 (país originário Reino Unido), a B.1.351 (África do Sul), a P.1 (Brasil), a B.1.429/B.1.427 (Califórnia), a B.1.526 (Nova York) e a B.1.617 (Índia). Por isso, o especialista reitera a necessidade dos órgãos de Saúde acelerarem urgentemente o programa de vacinação para conter a pandemia, porque enquanto o vírus circula, sofre mutações, tornando-se mais resistente.

“A perspectiva futura é com o avanço do programa de vacinação e as medidas de profilaxia. Esperamos conter sim a pandemia, mas a infecção ainda estará presente na nossa população; não vamos acabar tão facilmente com ela. Será necessário trazer vacinas atualizadas para que as pessoas possam se revacinar para ficarem resistentes às novas variantes, como ocorre hoje com o reforço anual da vacina contra a gripe”, conclui.

Explosão dos casos de miopia

Em seguida, o oftalmologista e presidente da APM Araras, Rodrigo Teixeira de Campos Carvalho, abordou o grande aumento do número de casos de miopia no mundo, correlacionando com o estilo de vida e as mudanças de hábitos impostas pela pandemia.

O aumento das atividades internas, por exemplo, aliado aos baixos níveis de iluminação nestes ambientes, além do aumento da pressão educacional e da diminuição das atividades externas são alguns dos fatores que levam ao déficit visual. Atrelado a isso, temos a disseminação de atividades que fazem os olhos constantemente se focarem em objetos muito próximos, como os dispositivos eletrônicos.

“Na frente de telas, como computadores, smartphones e jogos de videogames, o impacto é enorme, à medida que as atividades internas aumentaram por conta da quarentena. Ao ar livre, a luz solar tem efeito estimulador sobre receptores de dopamina da retina, inibindo o crescimento axial ocular”, explica o especialista.

A Organização Mundial Da Saúde define a miopia como um erro refrativo do globo ocular no qual a imagem dos objetos no olho é focada incorretamente, à frente da retina, o que dificulta a visão de longe. Além de mais de 100 genes estarem relacionados com a condição da miopia, a hereditariedade é responsável por 71% do erro refrativo.

Dados apontam que, até 2020, 33% (2.584 bilhões) da população mundial tinha miopia. A projeção é que o número aumente ainda mais, chegando até 52% (4.949 bilhões) em 2050, causando um impacto significativo na saúde pública. No aspecto global, apenas na América Latina, houve um aumento de 23% – com projeção para 53%, de 2000 para 2050. “Estimam-se custos de 269 bilhões de dólares, diretos e indiretos, para a perda de produtividade mundial”, informa Carvalho.

Enquanto a condição do grau de míopes no mundo se agrava, o oftalmologista aponta o aumento do risco associado a outras doenças oculares como catarata, glaucoma, descolamento da retina e degeneração macular miópica.

Ao final, José Luiz Gomes do Amaral parabenizou os especialistas pelas palestras e ressaltou que, em futuro próximo, os sistemas de Saúde terão que lidar com as sequelas trazidas àqueles que sobreviveram ao vírus. “Muitos, depois de terapia intensiva, morrerão subsequentes à alta, além das frequentes complicações, e a área oftalmológica não deixará de ser incluída”, sintetiza.

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