Suicídio e lesões autoprovocadas são temas de Boletim Epidemiológico

Estudo do Ministério da Saúde analisou casos de 2010 a 2021

Últimas notícias

A mais recente publicação do Boletim Epidemiológico, elaborado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde, apresenta dados sobre o panorama de suicídios e lesões autoprovocadas no Brasil. A pesquisa destaca que a situação é um grave problema de saúde pública global e que, anualmente, mais de 700 mil pessoas se suicidam ao redor do mundo, sendo que, desta taxa, 80% dos óbitos são em países de média e baixa renda.

Neste cenário, o Brasil ocupa o 155º lugar entre os países com as maiores taxas de suicídio, conforme demonstra o estudo Global burden of disease, publicado em 2019. Dos países e regiões com os maiores índices, estão Groenlândia (América do Norte), Lesoto (África), Quiribati (Oceania) e Guiana (América do Sul).

No entanto, apesar de o País não apresentar taxas de suicídio elevadas diante do contexto global, há uma tendência alarmante de acréscimo na mortalidade por atentados contra a própria vida, de modo que, desde 2014, está havendo um aumento anual de 3,2% de óbitos por esta causa.

Segundo análises de 2019, o suicídio foi, mundialmente, a quarta principal motivação de mortes entre jovens de 15 a 29 anos, ficando atrás apenas de lesões no trânsito, tuberculose e violências interpessoais. No Brasil, dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) revelam que o suicídio foi a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos e a quarta principal entre 20 e 29 anos. Estima-se que 90% das pessoas que cometeram suicídio apresentavam quadros de transtorno mental, sendo a depressão o mais frequente deles.

Resultados

Em 2021, ano em que o suicídio foi a 27ª maior causa de morte no Brasil, foram registrados 15.507 óbitos por este motivo no País, 77,8% deles entre o sexo masculino. Entre crianças e adolescentes de cinco a 14 anos, o suicídio foi a 11ª maior causa de morte; entre adolescentes entre 15 a 19 anos, a terceira; e entre jovens de 20 a 29 anos, a quarta maior mortalidade. Para adultos de 30 a 49 anos, a taxa de suicídio está na 9ª posição; na faixa etária dos 50 aos 69 anos, ocupa o 34º lugar; e para idosos de 70 anos ou mais, é a 58ª causa de morte.

Além de jovens adultos e adolescentes, as maiores proporções de suicídio também estão presentes em indígenas (2,9%), pessoas com ensino médio e superior completos (1,4% e 1,2%) e indivíduos solteiros (1,9%) – independentemente do sexo. Todavia, o Boletim aponta que, para homens, a taxa de suicídio aumenta progressivamente com a idade, tendo o pico em idosos acima dos 70 anos (18,1 óbitos por 100 mil habitantes), enquanto no caso de mulheres, o risco é mais prevalente entre adolescentes de 15 a 19 anos (4,5 óbitos a cada 100 mil habitantes).

Entre o período de análise, de 2010 e 2021, houve um aumento de 42% nas taxas de mortalidade, ou seja, de 5,2 para 7,5 suicídios por 100 mil habitantes. A elevação mais notável no número de casos ocorreu entre o período de 2020 e 2021, de 11,4%. Para a população indígena, os números são ainda mais consternadores, uma vez que a taxa para este grupo é três vezes maior que a da população geral.

Em 2021, a região com a maior taxa de mortalidade por suicídio foi o Sul, registrando 11,22 mortes por 100 mil habitantes. As unidades federativas com os maiores números foram Rio Grande do Sul, (12,37), Piauí (11,83), Mato Grosso do Sul (11,76), Roraima (11,56), Santa Catarina (11,21) e Tocantins (11,11). Neste período, os maiores aumentos nas taxas de suicídio aconteceram nos estados do Pará (72%), Bahia (70,7%), Goiás (69,6%), Paraná (69%), Piauí (67,6%), Pernambuco (67%), Alagoas (65,4%) e Rio de Janeiro (64,8%).

A análise também permite identificar que na evolução das taxas de suicídios das regiões e estados entre 2010 e 2021, há um maior incremento percentual no Norte e no Nordeste, sendo que somente o estado de Sergipe teve redução nos índices de mortalidade, indo de 6,8 para 5,91 por 100 mil habitantes (equivalente a -13,1%).

Violência autoprovocada

Em 2021, o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) notificou 114.159 casos de violência autoprovocada, sendo que, destes, 70,3% foram entre o sexo feminino. Neste sentido, houve um predomínio de notificações para a faixa etária dos 20 aos 49 anos (60,2%). No caso das mulheres, os percentuais também foram maiores entre aquelas que estão na faixa etária dos cinco aos 14 anos (11,5%) e dos 15 aos 19 (23,2%), em comparação com o sexo masculino, em que os dados são de, respectivamente, 4,1% e 17,5%.

As informações do Boletim Epidemiológico indicam que o predomínio foi em negros (45,4%) e brancos (44,1%). Em relação à escolaridade, os casos foram registrados entre o final do ensino fundamental e ensino médio (48,2%) e sobre o estado civil, destacam-se solteiros (49,5%).

Durante o primeiro e o segundo trimestres de 2020, a queda no número total de notificações foi de 38,8%, simbolizando que a redução passou de 32.236 para 19.716. Já entre o segundo e o quarto trimestres de 2021, houve um aumento de 47,8% no número de notificações, que avançaram de 23.232 para o total de 34.333.

Estratégias de combate

Em 2019, foi publicado o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos não Transmissíveis no Brasil, tendo como meta barrar a evolução dos suicídios no território nacional até o ano de 2030. Além disso, no mesmo ano também foi estabelecida a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio (PNPAS), ao passo que, em 2020, criou-se o Comitê Gestor da PNPAS, como formas de enfrentar e articular contra o problema social. 

O crescimento no número de suicídios e de violência autoprovocada no Brasil representa um grande alerta sobre a necessidade de implantação de políticas públicas que priorizem a saúde mental da população. Os 15,5 mil suicídios registrados em 2021 simbolizam uma morte a cada 34 minutos, acentuando a necessidade de expandir a rede de atenção psicossocial no País para que os brasileiros possam ter acesso democratizado aos serviços que atuem diretamente com esta questão.