Com o objetivo de discutir a importância de os serviços de saúde adotarem uma postura de compliance e ética, a Associação Paulista de Medicina realizou a 19ª edição do Congresso Brasileiro de Qualidade em Serviços de Saúde, nos dias 28 e 29 de novembro. O evento promovido pelo Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH), da entidade, teve mais de 100 participantes em cada dia.
“É uma imensa satisfação sediar mais uma vez este Congresso”, congratulou o presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, na abertura do evento. Amaral ainda relembrou os 27 anos do Programa CQH: “Quando o professor Haino Burmester nos procurou para a efetivação de uma aliança, vi como um imenso privilégio ter pessoas notáveis como ele entre nós”.
Ele afirma que, ao longo destes anos, o CQH é um modelo orientador de diversas iniciativas que primam pela qualidade da atenção à saúde. “Uma instituição não é formada apenas por arquitetura e símbolo, mas sim pelas pessoas e ações desenvolvidas. Isso é o maior bem quando escolhemos a Medicina como profissão e juramos defender os interesses dos nossos pacientes. O Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar tem essa missão”, acrescenta.
Ao definir os termos-chave do congresso, ética (conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, grupo social ou de uma sociedade) e compliance (estar em conformidade com as leis, as normas e os regulamentos), o coordenador do CQH, Milton Massayuki Osaki, falou da importância do envolvimento entre os atores da Saúde em torno da melhoria contínua da qualidade dos serviços.
“Temos como propósito debater com os setores médico-hospitalares, as operadoras de planos de saúde, os fornecedores de insumo, os conselhos das categorias profissionais, enfim, refletir com todos os importantes protagonistas envolvidos com a assistência à saúde e as práticas médicas. Essa discussão vem ao encontro do que é defendido pelo Programa CQH”, declarou.
Presente à mesa, o membro do Conselho Superior da Sociedade Médica Paulista de Administração em Saúde (Sompas) e fundador do Programa CQH, Haino Burmester, traçou um breve panorama do colapso político e econômico enfrentado no País e da importância de fortalecimento das instituições como forma de enfrentar a crise.
“São as instituições fortes que poderão fazer frente a esse ataque que a Nação está sofrendo, como as associações, as escolas, nós enquanto funcionários em repartições, em locais de trabalho e iniciativas privadas. Temos esse papel a cumprir, e exercícios como este Congresso nos ajudam a fortalecer a nossa convicção de que fortalecendo as nossas representações, faremos o nosso papel.”
“O tema deste evento é realmente muito importante. As sociedades médicas precisam dos hospitais e de seus serviços para se desenvolverem. E cada um de nós, em nossas organizações, temos esse papel”, concordou o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (Apah), Alexandre Lourenço, congressista internacional convidado para o Congresso.
Compliance em Portugal
Em sua palestra, Lourenço expôs aos participantes experiências em compliance na administração hospitalar de Portugal. Segundo ele, os sistemas de saúde português atravessam desafios semelhantes ao brasileiro, como desigualdades no acesso e qualidade assistencial, sustentabilidade financeira em meio à elevada restrição orçamentária e alterações demográficas e epidemiológicas.
Para ele, é fundamental que os sistemas de saúde incorporem novas tecnologias. “Especialmente em setores clínicos e hospitalares. Também é necessário que haja o desenvolvimento de modelos de assistência domiciliar de enfermos com doenças crônicas, com dispositivo a distância e de novos formatos para estabilidade das cirurgias robóticas. Avanços como esses reduzem a hospitalização e desenvolvem novos formatos de cuidados notórios.”
O presidente da Apah acredita que o futuro da gestão hospitalar depende de lideranças capazes de trabalhar em conjunto com diversas competências organizadas e inspiradas. E que a troca de informações em revistas científicas entre Brasil e Portugal contribuirá para o enriquecimento do tema. “Temos de avançar prontamente em transparência, avaliar os gestores e procurar disseminar experiências de boas práticas em todos os hospitais”, destaca.
A Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares representa mais de 600 gestores de serviços de Saúde em Portugal. Desde 1981, apoia os administradores hospitalares no desenvolvimento de elevados padrões de exercício profissional.
Outras atividades
No dia 28, compuseram os temas das aulas “Gestão de mudança comportamental”, ministrada por Marcia Kazue Miyamoto; “Case do hospital das clínicas da FMUSP e gestão de mudança”, por Antônio José Rodrigues Pereira; “A neurofisiologia e a ética”, por Koshiro Nishikuni; “Ética em Saúde”, por Marcia Garcia; “A importância do compliance para o Programa CQH”, por Antônio Eduardo Fernandes D’Aguiar; e experiências profissionais que propagam a eética no setor da saúde.
No dia 29, além da palestra de Alexandre Lourenço, houve um fórum de discussão sobre a perspectiva do compliance sob diferentes pontos de vista do mercado, com expoentes da área. Neste ano, o Congresso também premiou os três melhores artigos publicados em 2017 e 2018 na Revista de Administração em Saúde (RAS), mantida pelo Programa CQH.
Fotos: Osmar Bustos