Na última quinta-feira, 15 de setembro, a Associação Paulista de Medicina transmitiu através de seu perfil no Instagram mais uma live da série Sleep Talks, voltada para a Medicina do Sono. Mediada por Andrea Toscanini, médica do sono, a convidada da edição foi Rosa Hasan, neurologista e uma das especialistas do sono mais conceituadas do País, que abordou o tema “Sono ao longo da vida”.
Conforme Hasan explicou, a dinâmica do sono altera no decorrer da vida, portanto, o sono de crianças, adolescentes, adultos e idosos possui processos diferentes. Ou seja, o sono vai se adaptando à rotina conforme os seres humanos vão envelhecendo, atrelado diretamente a qualidade de vida e a saúde dos indivíduos.
“Quando um bebê nasce, seu período de sono é muito longo e conforme a criança vai crescendo, ela passa a concentrar o seu sono no período da noite, apesar de precisar de cochilos durante o dia. Nós somos animais diurnos, então normalmente o período da noite é utilizado para dormir. Na adolescência também acontecem essas mudanças, o adolescente tem uma grande necessidade de sono, mas o que mais marca o começo da adolescência é começar a dormir mais tarde, eles preferencialmente param de dormir cedo, não só por motivos comportamentais e sociais, mas por conta de mudanças internas, endógenas”, explicou.
Além disso, para os adolescentes, o forte uso de telas e redes sociais pode causar estímulos que evitam o sono, postergando o horário de dormir. Justamente em uma fase que esta faixa-etária precisa acordar cedo por conta das atividades escolares, causando privação de sono e fazendo com que se sintam exaustos durante o dia. Isso pode levar os adolescentes a tiraram longos cochilos durante a tarde, que acabam prejudicando a rotina do sono pois passam a não possuir um horário adequado para suas atividades.
Uma maneira de corrigir a situação, Hasan explicou, é praticar alguma atividades física, além da necessidade de os pais estabelecerem horários que contribuam
para os adolescentes se adaptarem aos novos ritmos e desenvolverem uma rotina. Esta atenção é necessária pois é nessa fase da vida que algumas doenças psiquiátricas começam a se desenvolver no cérebro dos jovens, podendo ter uma relação direta com a qualidade de seu sono.
“O adolescente pode ficar mais deprimido, mais impulsivo, então tem que prestar bastante atenção. Dentro de uma rotina é importante manter um ritmo, não só na hora de dormir e acordar, mas na hora das refeições, de estudar, do lazer. A luz influencia muito no sono, isso afeta o nosso ritmo, se você se expor demais à luz você joga o seu sono para mais tarde e com todos esses aparelhos tecnológicos que existem atualmente, os nossos hábitos de sono mudam bastante”, disse.
A médica comentou também que é um mito dizer que a qualidade do sono diminui para pessoas idosas, pois, se for uma pessoa saudável o seu sono tende a ser saudável também. O que pode acontecer, é que se tornem indivíduos mais matutinos, acordando e dormindo mais cedo.
“É importante saber que o sono muda porque a nossa rotina muda, o que mais interfere no sono, além da idade, é o estado de saúde do paciente. Saúde mental, física e emocional, sem contar o grau de atividade que ele tem, porque para sentir sono é preciso estar ativo, fazendo diversas coisas ao longo do dia.”
De acordo com Hasan, uma forma de priorizar a higiene do sono, e fazer com que a hora de dormir consiga ser aproveitada da melhor forma possível, é ter uma série de preparos durante o dia, envolvendo desde o local de trabalho ou estudo, até a alimentação. A especialista recomendou também que, no caso dos jovens e adolescentes, a cama seja um objeto utilizado potencialmente apenas na hora de dormir, não para assistir televisão ou realizar as demais tarefas.
O sono na fase adulta, apesar de estabilizado, tende a ter alguns pontos de destaque. Por exemplo, para as mulheres que passam por uma série de alterações hormonais ao longo da vida. “Biologicamente, por conta de todas as mudanças hormonais, gravidez, amamentação, menopausa, as mulheres já são mais suscetíveis a tudo isso e a desenvolver insônia ao longo dessas fases da vida. O homem tem uma tendência maior a ter problemas respiratórios do sono, problemas de apneia, principalmente quando é mais jovem. Mas é aquela coisa, se estiverem cuidando da saúde, de forma geral, as pessoas vão cuidar do sono também”, evidenciou.
Entre as causas mais comuns que podem causar insônias ou problemas relacionados ao sono é possível citar doenças psiquiátricas, como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós traumático, além de alguns quadros clínicos, como hipertireoidismo, apneia do sono, insuficiência cardíaca e obesidade.
Para Hasan, entre algumas das principais recomendações para que a pessoa melhore a qualidade do sono, saber a hora de se desligar é uma das questões mais fundamentais. A médica aconselha que, não só para adultos, mas também para jovens e adolescentes, é necessário saber a hora de se desligar, deixar eventuais preocupações e problemas de lado e respeitar o momento certo de descanso do corpo.
“Acho que essa live de hoje é para deixar bem claro que o sono não é uma coisa estática, ele muda. Muda com a idade, com a condição de saúde e com os hábitos do indivíduo. Então nós temos que nos cuidar sempre, cuidar da nossa saúde, não é porque estamos envelhecendo que o nosso sono tem que ficar ruim. A idade, certamente é um fator importante, mas uma rotina saudável é fundamental par manter um sono de boa qualidade”, finalizou.
Todas as lives da Sleep Talks são realizadas pelo perfil oficial da APM no Instagram e contam com moderação de Andrea Toscanini, presidente do XVIII Congresso Paulista de Medicina do Sono. A próxima transmissão acontece em 29 de setembro, às 19h, com a participação do pneumologista Mauricio Bagnato, que dará dicas para dormir melhor.