Na última terça-feira, 4 de agosto, a Associação Paulista de Medicina voltou a transmitir, em seu Instagram, mais uma sessão da Sleep Talks – série de lives voltadas aos temas da Medicina do Sono. Desta vez, a convidada foi Andrea Bacelar, neurologista e presidente da Associação Brasileira de Sono, que abordou em detalhes as causas e as consequências da sonolência excessiva diurna.
A especialista iniciou o encontro antecipando que a sonolência é um fenômeno fisiológico normal, pelo qual todas as pessoas passam antes de entrar, efetivamente, em sono leve ou profundo. “É uma defesa do sistema nervoso central para nos avisar que é hora de restaurar as estruturas. Ter sonolência, então, não é estar doente”, alertou.
A situação muda de figura, no entanto, se a sonolência começa a surgir fora do horário habitual. “Os humanos sentem sono no escuro, começamos a ter sonolência no período noturno e engrenamos no sono. Então, dormirmos à noite e passamos o dia acordado sem necessidade de sono. No momento, então, que começamos a ter sono durante o dia, a gente está contra a corrente”, explica Andrea.
Conforme a especialista, se a essa situação agregamos o termo “excessivos”, significa dizer que falamos de alguém incapaz de se manter em vigília, acordado, em período diurno, o que começa a ser um problema.
Antes de falar sobre as causas do problema, a médica ressaltou que é importante que as pessoas conheçam seu próprio ritmo. “Não é receita de bolo. Se tenho tal idade, dormirei tantas horas – não. Temos que entender que temos um cronotipo. Isso é individual e genético. Se alguém dorme oito horas por noite e sente sono, será que não precisa de nove? Autoconhecimento é importante.”
Causadores
Na sequência, a neurologista falou sobre os motivos que causam a sonolência excessiva diurna. “Entre as induzidas por nós, a principal é a privação de sono. Preciso de oito horas, durmo seis e vivo cansado e sonolento de dia”, introduziu.
Outra categoria é a sonolência induzida por substância. “Posso usar medicações ou drogas lícitas e ilícitas, de forma inadequada, que não se adaptem ao meu ritmo e corpo. Assim, fico sonolento por conta da substância excessiva.”
A neurologista também falou sobre a relação entre sono e álcool, que é um depressor do sistema nervoso central. Muitas pessoas, antes de buscar ajuda, utilizam a bebida para iniciar o sono. Esse hábito, porém, compromete a arquitetura e a qualidade do sono. E o indivíduo, inclusive, poderá ter sonolência durante o dia por conta do uso frequente e inadequado do álcool.
Antes de entrar especificamente nas doenças geradas no sono, a especialista ressaltou que a sonolência pode ser sintoma de doenças da Endocrinologia, da Neurologia, da Psiquiatria, de infecções em geral, de alterações metabólicas e de uma variação extensa de doenças.
Síndromes do sono
No campo das síndromes da Medicina do Sono, começou destacando a apneia obstrutiva, quando o ar não passa pela garganta durante o sono, que afeta cerca de um terço da população. “São poucos diagnósticos feitos, porém. Além da apneia, há a hipopneia, em que o ar passa, mas em amplitude menor do que o normal. Assim, não entra oxigênio, e não sai dióxido de carbono, desequilibrando nossos gases. Isso faz com que nossos receptores nos acordem para respirarmos”, detalhou.
Essa condição faz com que os indivíduos tenham um sono fragmentado, muitas vezes sem a quantidade de sono profundo necessária para se refazer para o dia seguinte. Então, conforme explicação de Andrea Bacelar, muitas vezes eles já acordam cansados e sonolentos, condição que se reforça depois do almoço, principalmente, quando a temperatura do corpo cai, causando uma sonolência incontrolável, que pode levar a acidentes domésticos.
“Também há a insônia, muito prevalente. Dependendo do país, a incidência é de 15% da população, com queixas de sintomas em até 35%. Muitas vezes, ela é acompanhada de questões mentais e há dois tipos. Posso ter dificuldade de iniciar e manter o sono à noite, com sonolência ao dia. Ou posso ter sono encurtado à noite e estado de hipervigilância durante o dia – estou cansado, gostaria de dormir, mas não consigo desligar”, explicou.
A especialista também indicou que há insones com sonolência de dia, que acabam cochilando durante a tarde. A prática, porém, não é recomendável nestes casos: “Enquanto em alguns transtornos do sono o cochilo é tratamento, para a insônia ele agrava o problema. Temos que saber como lidar com as queixas dos pacientes”.
Entre diversas outras condições, a convidada também considerou importante abordar a narcolepsia, doença neurológica rara e pouco conhecida. A manifestação começa a aparecer no adolescente, ou no jovem adulto, em pessoas que têm agendas apertadas, trabalham, estudam, e pensam que a sonolência são causas dessa rotina.
“É muito difícil fazer esse diagnóstico, até porque somente 40% dos indivíduos com narcolepsia têm a outra manifestação associada que é a cataplexia – perda de força muscular. Muitos até têm, mas setorizada, como a face ficando sem mímica. Até a pessoa entender que essa perda é por conta de uma doença neurológica, que acontece quando estou rindo muito, ou levo um susto, é muito difícil. O diagnóstico leva, em média, 10 anos, segundo estudos. Eu mesma já diagnostiquei um paciente de 75 anos, que perdeu casamento e empregos”, relatou.
Sleep Talks
A próxima transmissão da série acontece em 18 de agosto, às 19h, com a presença da otorrinolaringologista Tatiana Vidigal. Ela refletirá sobre “Como avaliar a adesão ao CPAP por Telemedicina?”. Confira as demais datas:
– 1º de setembro, o neurologista Álvaro Pentagna ministra a live sobre “Sono e Imunidade”;
– 15 de setembro, a neurologista Rosa Hasan esclarece todas as eventuais dúvidas referentes ao sono;
– 29 de setembro, o pneumologista Mauricio Bagnato traz “Dicas para dormir melhor ajustando o relógio circadiano.
Todas as lives são realizadas pelo perfil oficial da APM no Instagram e contam com moderação de Andrea Toscanini, presidente do XVIII Congresso Paulista de Medicina do Sono.