A Sleep Talks, série de lives sobre Medicina do Sono transmitidas no Instagram da Associação Paulista de Medicina, voltou a focar na apneia obstrutiva do sono (AOS). Na edição da última terça-feira, 10 de novembro, os especialistas em Medicina do Sono Mauricio Bagnato e Lia Bittencourt focaram no diagnóstico da doença e as repercussões que ela traz na vida dos indivíduos adultos.
A médica do Sono começou reforçando que a apneia é uma doença extremamente prevalente em todo o mundo. “Segundo estudo publicado recentemente no The Lancet, 425 milhões de pessoas são acometidas pela doença. E eu sempre digo uma coisa importante: além de altamente prevalente, é altamente subdiagnosticada.”
Ela ainda listou três impeditivos para que exista um diagnóstico amplo da AOS. O primeiro é o fato de o próprio paciente não saber que tem a doença por se tratar de algo que ocorre enquanto ele dorme. Desta maneira, não relaciona a apneia ao cansaço ou à alteração cognitiva que ocorre de dia.
“Em segundo: médicos e profissionais de Saúde (como dentistas, fonoaudiólogos e fisioterapeutas) deveriam estar detectando os pacientes. E muitas vezes desconhecemos a doença. Temos de estar atentos às pessoas com queixas de sonolência, ronco, paradas respiratórias etc. Um terceiro componente é que a apneia ainda é uma doença que requer métodos diagnósticos complexos, não tão acessíveis e nem tão baratos”, explicou a especialista, que também é pneumologista.
Métodos diagnósticos
Antes de entrar especificamente no tema da noite, a convidada ressaltou que a apneia obstrutiva do sono é complexa e heterogênea. Conforme disse, a apresentação clínica é distinta entre os pacientes, o que torna extremamente necessária uma investigação clínica apurada, com exame físico e propedêutica na hora do diagnóstico.
Lia Bittencourt também afirmou que, atualmente, há vários questionários para detectar os sinais e sintomas – alguns mais específicos do que outros. “Há aplicativos em que o médico preenche as informações do paciente como sexo, idade, peso e circunferência do pescoço e o paciente só precisa responder se ronca ou não. São questionários muito fáceis de serem utilizados”, detalhou.
Além disso, ela afirmou que o exame físico é muito importante para diagnosticar a AOS. “Precisamos ver o peso e a circunferência do pescoço. Quem tem essa medida elevada (acima de 38 cm nas mulheres e 42 cm nos homens) quase podemos jurar que tem apneia do sono. A partir das suspeitas, partimos para métodos diagnósticos.”
Neste momento, alertou Mauricio Bagnato, é fundamental que o médico converse com o paciente, se possível com a presença de um bed partner – marido, esposa, irmãos etc. Assim, é mais fácil entender o quadro do indivíduo.
Segundo os especialistas, é importante que os médicos – ou outros profissionais de Saúde – perguntem como o paciente dorme à noite, se ronca, se tem paradas respiratórias, sonolência, alteração de humor, problemas de raciocínio ou de memória. “Mas, das doenças do sono, a AOS é a única que exige que registremos o que acontece durante a noite. Outras, como insônia, narcolepsia e síndrome das pernas inquietas, têm diagnósticos clínicos preponderantes.”
Polissonografias e repercussões
Os debatedores falaram da polissonografia como um dos métodos diagnósticos. Esses exames, feitos dentro dos laboratórios, registram variáveis de sete parâmetros e podem servir como a principal forma de diagnosticar a apneia obstrutiva do sono. “Podendo fazer, sem dúvida tem de pedir. Mas é um exame caro, com longa fila de espera. E estamos em pandemia. Se todo mundo ficar na fila, não conseguimos ajudar”, apontou a convidada da noite.
Nesse sentido, os especialistas também discutiram a possibilidade de realizar a polissonografia domiciliar. “Se não há como fazer um registro completo, o simplificado é bem-vindo? Sim. Mas, quando fazemos uma coisa que não é a técnica completa, estamos diante da possibilidade de não diagnosticarmos outras doenças como narcolepsia e síndrome das pernas inquietas”, alertou a convidada.
Mauricio Bagnato, tratando das repercussões, lembrou do caráter de espectro que tem a apneia, tendo em uma ponta o ronco leve e em outra a apneia completa. “Temos pacientes no começo do espectro, mas com muita sonolência diurna. E outros com apneia completa e poucas queixas. Então, temos que investigar e conversar com os pacientes, partindo depois para a propedêutica.”
Outra repercussão clínica destacada pelo pneumologista é a quebra do ritmo circadiano. “A primeira coisa que falamos, quando tratamos de apneia, é em problemas cardiometabólicos. Entre os problemas cardiovasculares, citamos hipertensão, coronariopatias, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e algumas arritmias”, listou.