Após o primeiro dia de discussões produtivas, o 2º Global Summit Telemedicine & Digital Health, realizado virtualmente neste ano, abriu os debates desta quarta-feira (14) com o painel nacional “Como a Saúde Digital pode beneficiar a gestão do cuidado ao paciente?”, em mesa moderada por Edson Amaro Jr., analista de Big Data do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE).
Foi ele, inclusive, quem conduziu a primeira palestra do painel. Em um dos primeiros pontos que abordou, Amaro refletiu sobre como as grandes companhias utilizam os dados dos indivíduos e os tratam para melhores soluções para seus negócios. “A Netflix sabe que filme quero ver. O Google sabe qual anúncio me mostrar. Os sistemas de recomendação são onipresentes. Temos que entendê-los e o papel disso na sociedade. A impressão é que é mágica, bola de cristal, mas é por meio de dados que chegam aos resultados”, apontou.
Especificamente no uso de dados no campo da Saúde, Amaro indicou que três pontos são muito relevantes: a qualidade dos dados, a segurança e o direito à privacidade. “Essas questões são bastante abertas em vária sociedades e dependem muito da percepção cultural e ética de cada contexto. O ambiente da China é diferente do ocidental. Como é o da Europa e dos Estados Unidos.”
Em relação à qualidade dos dados, o palestrante exemplificou o seu ponto com duas tabelas com informações retiradas da mesma base de dados. A diferença entre elas, porém, eram as variáveis, que mostravam indicadores distintos. Esse é o tipo de análise que requer que o analista de dados saiba como usar o material que possui.
Amaro também mostrou como a transformação digital potencializa as relações estabelecidas entre médicos e pacientes. Segundo o especialista, hoje um médico detecta um problema com o paciente, trata e ele volta ao estado normal de saúde – ou ao estado desejado da doença, em caso de condição crônica. Fazendo, no meio do caminho, consultas de acompanhamento (com exames, biopsias etc.).
Agora, as ferramentas tecnológicas deixam mais forte o conceito de Medicina individualizada, privilegiando a natureza de cada paciente. “Há instrumentos para acompanhar pacientes que não estão na consulta. Isso é feito por aparelhos, sensores, monitoramento de passos, frequência cardíaca, deslocamento etc. Eles mandam informações para servidores, que enviam para aplicativos. E são dados úteis para os médicos.”
Segundo o palestrante, esse acúmulo de dados é muito mais rico para o profissional do que averiguar o paciente a cada seis meses e buscar inferir, naquele momento, o que ocorreu. “Claro que sempre vai ter de examinar. Mas o comportamento quantitativo é mais rico. E você
pode usar como trigger, avaliando em que momento realizar a consulta, antecipando inclusive se houver necessidade. Isso traz benefícios ao paciente, evitando hospitalizações”, completou.
Por fim, Amaro também falou sobre como o HIAE utilizou dados para fazer análises em relação à Covid-19. O hospital dividiu a equipe em quatro eixos, conduzindo estudos sobre: contato com os pacientes; tomada de decisões para gestores; previsão epidemiológica; e georreferenciamento.
Telemedicina no Brasil
Na sequência, Silvio Valente, médico, advogado e professor da Universidade de São Paulo (USP), falou sobre o avanço da Saúde Digital e da Telemedicina no Brasil. Ele lembrou, inclusive, que antes da pandemia de Covid-19 já havia, no País, um ambiente ético-social favorável à modernização da relação médico-paciente.
“No Brasil, existe falta de uniformidade na assistência. O método da Telemedicina pode ser muito interessante. Médicos e sociedade já enxergavam isso, mesmo que existisse certo preconceito e tradicionalismo excessivo”, afirmou.
Ele lembrou, também, da Declaração de Tel-Aviv, de 1999, emitida pela Associação Médica Mundial, que ainda hoje é um norteador da Telemedicina. Valente descreveu, ainda, a tentativa de normatizar o setor, por parte do Conselho Federal de Medicina, em 2018, e as regulamentações provisórias que valem no País durante a crise sanitária em decorrência da pandemia de novo coronavírus.
“Se pensarmos na Telemedicina como método, definimos como atuação não presencial em Saúde, que segue as mesmas normas éticas da Medicina presencial, com registro das consultas em prontuário eletrônico ou físico”, definiu o palestrante.
O professor da USP, por fim, também abordou normas relativas à segurança de dados, como a Health Insurance Portability and Accountability Act, dos Estados Unidos, considerada por muitos como modelo. “Há também a europeia Global Data Protection Regulation, que foi inspiradora da nossa Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.”
Sobre a LGPD, Valente lembrou que ela modifica a postura em face da coleta de dados de pacientes desde a abertura da ficha para a coleta inicial de informações pela recepção, passando pelas anotações iniciais do prontuário e de todas as condutas, registros, arquivos diagnósticos, pesquisas, discussões de casos e compartilhamento de dados que se seguem, tanto de forma presencial, como virtual.
“Também há uma adequação às normas como estratégia de preservação da saúde financeira da empresa e da imagem pública. Há risco não só de multa, mas também de obrigatoriedade na publicidade da sanção sofrida, prejudicando a reputação da empresa. É importante não só seguir as normas, mas também provar o que fez”, concluiu.
O Global Summit Telemedicine & Digital Health 2020 segue até o dia 16 de outubro, de forma virtual. Mais informações em telemedicinesummit.com.br.