Relembrar acertos e aprender com os erros é fundamental no processo de aprimoramento, principalmente no âmbito da Saúde Digital. Neste sentido, na última terça-feira, 29 de agosto, foi realizada mais uma edição do Warm Up do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM. As apresentações aconteceram na sede do Google, em São Paulo, e focaram em diferentes abordagens acerca do tema “Saúde Digital no Brasil: O caminho das pedras”.
O presidente do Global Summit APM, Jefferson Gomes Fernandes, relembrou que o evento começou a ser elaborado em 2018, quando a Telemedicina ainda era praticada de forma muito restrita. “O GS procura ser um agente que contribui para a mudança. Com a expansão da Saúde Digital, assim como em toda a Saúde, não é possível de se trabalhar sozinho. Estamos buscando trazer proximidade, juntando todo o ecossistema da Saúde Digital, tanto no setor público quanto no setor privado e, com isso, conseguir não só trocar informações, conhecimentos e visões, mas também estabelecer parcerias.”
O copresidente do GS e diretor de Tecnologia de Informação da Associação Paulista de Medicina, Antônio Carlos Endrigo, reforçou como tem sido feita a atuação em prol da Saúde Digital – mesmo durante o período da pandemia de Covid-19 – de modo que o tema alcançasse a todos. “Agora, em 2023, temos muita coisa para falar no interesse da Saúde Digital. Os palestrantes vão trazer muita experiência bacana para nós.”
Nuvem e Sistema público
A responsável pela primeira apresentação foi Priscila Cruzatti, Healthcare and Life Science Industry Specialist do Google Brasil, que salientou de que forma a empresa tem sido uma das pioneiras na transformação digital em Saúde. “O Google tem como missão organizar todas as informações do mundo e torná-las úteis e acessíveis. Quando falamos em Google Cloud, por exemplo, é a transformação na Saúde, a forma que podemos repensá-la, por meio da inovação de dados, Saúde baseada em evidências e como vamos gerar novos indicadores para perguntas que ainda não tinham resposta.”
De acordo com Priscila, a imagem do Google é a inovação. Em relação à área da Saúde, a companhia tem uma abordagem completamente voltada para o indivíduo que, de forma ampla, analisa os seus diferentes costumes e hábitos, olhando para toda a sua jornada de vida. “Quando falamos em Saúde, temos que trazer não apenas as soluções, mas também as dores. É preciso ter uma base e olhar para o problema de maneira bem estruturada. Vamos pensar na construção do futuro, podemos começar de diversos pontos. Como o Google não é só uma empresa de tecnologia, o conhecimento e a forma que foi feita a mudança de paradigma em outras indústrias também colaboram muito nos projetos dos nossos clientes.”
Marcelo Fanganiello, CEO da GetConnect, deu continuidade às palestras trazendo para a discussão a Saúde Digital no contexto do Sistema Único de Saúde. Para o especialista, o modelo atual do SUS tem uma problemática que abrange todos os municípios brasileiros, que diz respeito à atenção básica – que deveria ser mais bem resolvida – relembrando que é nela que a grande maioria dos casos são resolvidos e, quando não há solução, são levados para a regulação.
Segundo Fanganiello, a Saúde Digital conseguiu se encaixar no modelo atual do SUS, pois se situa no meio da atenção básica e da regulação em Saúde, levando à chamada pré-regulação digital, que consegue resolver cerca de 80% dos casos. “É uma mistura de tecnologia, pessoas e processos bem-feitos. Ao colocarmos um processo digital quando temos um problema na atenção básica, isso dá atenção ao paciente e é possível resolver uma série de problemas do Sistema Único de Saúde.”
O palestrante disse ainda ser preciso saber lidar com os principais desafios e trazer soluções para a digitalização do SUS. “A primeira coisa é o identificador único, juntar quem é quem, e outra parte é o repositório único de dados, porque pode haver vários sistemas diferentes em um município. Precisamos empoderar o paciente e fornecer dados para ele, além disso, fornecer ferramentas para o profissional de Saúde fazer a Saúde Digital. Esses são os principais pilares.”
Inteligência Artificial e Integração
Com foco em Inteligência Artificial e as diferentes formas em que é possível inseri-la no sistema, Claudio Giulliano Alves da Costa, CEO da Folks, foi um dos palestrantes. Ele destacou que a sua empresa tem se dedicado muito em conseguir concretizar o caminho das pedras, ou seja, construir métodos para fazer a transformação em uma jornada que alcance o paciente, o profissional, a instituição e os municípios. Para o especialista, a ideia principal é mostrar como avaliar a maturidade digital de instituições de Saúde, analisar onde se está, para, então, determinar quais serão os próximos passos.
“Não é que a Inteligência Artificial vai substituir o profissional de Saúde, mas, certamente, aqueles que a utilizarem irão superar os que não usam. Nós que trabalhamos na área da Saúde temos que usar a IA de maneira ética e responsável, buscando não gerar novos danos. Eu tenho usado muito IA degenerativa para me ajudar a pensar. Eu faço e peço ajuda para aperfeiçoar o que eu fiz. Passando para indicadores, é ideal que se tenha uma ferramenta para avaliação, e uma coisa legal é que isso ajuda, no final, a criar um plano de transformação e como a instituição vai se tornar mais avançada digitalmente”, explicou.
Costa exemplificou que a Folks desenvolveu um método de avaliação chamado “Índice de Maturidade Digital para a Saúde”, no intuito de analisar hospitais e Telemedicina. Com isso, foi possível identificar que a maturação digital dos hospitais brasileiros é de 44%. “Nós precisamos saber onde estamos, para saber para onde vamos. Tem outros países que avançaram um pouco mais nisso, mas no Brasil eu acho que também teremos avanços para chegar em um nível mais confortável e ter uma Saúde muito melhor. Saúde Digital traz benefícios, existem vários estudos mostrando isso e a gente tem que investir fortemente para poder fazer a transformação.”
Finalizando as palestras, Edgar Gil Rizzatti, diretor executivo médico do Grupo Fleury, salientou a importância da integração da jornada do paciente, tornando-a mais assertiva e pertinente. “Muitos países vieram ver como a gente faz essa integração para abrir unidades parecidas, isso acabou se disseminando aqui no Brasil, mas não é um modelo comum ao redor do mundo. Dentro da integração em Medicina Diagnóstica, por exemplo, a gente começou a trabalhar um conceito de oferecer tudo o que um paciente com uma determinada condição clínica precisa.”
De acordo com Rizzatti, para a integração dar certo e ser uma experiência positiva, é necessário que a sua realização seja feita de forma completamente analógica. “Para fazer a integração, é preciso ter ali alguns rituais, como reuniões multidisciplinares semanais, discussões de caso em que aprendemos a melhorar a qualidade, ver o quanto de coisas que são redundantes ou desnecessárias. Com este aprendizado, vimos que a integração constrói valor para o paciente, para o médico e para o sistema de Saúde”, concluiu.
Texto: Julia Rohrer
Fotos: Alexandre Diniz