Quinto webinar da APM discute relação entre idosos e Covid-19

O tema deste encontro foi a saúde do idoso em tempos de Covid-19

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“A Covid-19 está fazendo muitas vítimas, infelizmente mais idosos. Mas eles também são afetados em sua vida social e nas peculiaridades da vida familiar. A história de cada um de nós, no dia a dia, foi atacada pela doença. Também afetou a política econômica e tem causado estragos em nomes de revistas médicas. Há uma dificuldade de obter informações, é um momento muito peculiar.”

Foi com essas palavras que Luiz Eugênio Garcez Leme, geriatra e Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), abriu mais uma edição do Webinar APM, realizado na última quarta-feira, 17 de junho, em transmissão via YouTube. O tema deste encontro foi a saúde do idoso em tempos de Covid-19.

Na sequência, o coordenador do encontro apontou que essa é a primeira vez na história que a sociedade tem uma grande população de idosos, resultando em uma associação explosiva. “Precisamos pensar nesse aspecto multifacetado. Não somente falar da fisiologia do envelhecimento, da terapêutica do idoso e de suas limitações nas Unidades de Terapia Intensivas (UTIs), mas também pensar em suas famílias, nas condições que ele estará sujeito quando sair e nas abordagens éticas”, apontou Garcez.

José Renato Amaral, médico assistente do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (HC/FMUSP), deu prosseguimento ao debate com apresentações sobre os aspectos clínicos da doença causa pelo novo coronavírus. O especialista mostrou definições sobre o que difere, por exemplo, os casos leves, moderados, graves e críticos e o que cada estágio deve representar nos cuidados aos pacientes.

Em relação especificamente ao tema do debate, Renato Amaral indicou que a taxa de hospitalização entre os doentes de Covid-19 aumenta muito de acordo com a idade. Ele mostrou dados recolhidos na Itália, onde a média de idade dos pacientes que faleceram estava em 79,5 anos. O especialista também indicou que a comorbidade está presente na maioria das mortes. Neste estudo específico, praticamente toda a base tinha ao menos uma doença pré-existente.

Decisões éticas

Naira Hossepian Salles de Lima Hojaij, também médica assistente do Serviço de Geriatria do HC/FMUSP, abriu a sua intervenção reforçando o ineditismo da situação. “Tenho conversado com vários idosos, alguns nonagenários, que dizem nunca ter vivido época e angústias como agora. Muitos deles passaram pela 2ª Guerra Mundial, então a gente deve refletir.”

A especialista em Bioética afirmou que este momento levantou questões importantes como o sofrimento humano, o luto, a distância e as relações familiares, entre outras. Também, conforme indicou, aumentou o foco na questão do burnout de profissionais de Saúde, que têm lidado com muitas mortes nas UTIs e muitas vezes são os responsáveis por dar as notícias aos familiares.

Em seguida, Naira focou na triagem em situação de recursos limitados, uma discussão que ocorreu no mundo todo. “Na Itália, falaram que idosos acima de 80 anos não seriam indicados para ventilação mecânica. Alguns documentos franceses também colocaram a idade como critério de desempate para acesso à UTI.”

“Os critérios de triagem sempre são necessários à medida que os recursos são limitados. E a classificação de quem deve ganhar o recurso deve ser baseada em valores éticos e clínicos. Sem dúvidas, é importante que esses critérios sejam discutidos em cada instituição, diluindo a responsabilidade do médico que está no front”, avaliou.

José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Paulista de Medicina, afirmou que a Constituição de 1988 fez dos brasileiros especialistas em Medicina com recursos limitados. “Nos tornamos expert nesse campo. Basta trabalhar em um sistema público que se dispõe a oferecer tudo a todos e você passa a praticar isso.”

Ele também aponta que, ao final da pandemia, vão surgir os agravos em pacientes que não foram tratados adequadamente ao longo do período. Assim, entende que haverá necessidade de reabilitar os que sobreviveram à pandemia. “Teremos muito trabalho entre esta pandemia e a próxima. Espero que tenhamos um pouco de fôlego para podermos nos recuperar e que não esqueçamos as experiências acumuladas”, completou.

Debates

Em mais de duas horas de transmissão, os especialistas passaram por muitos outros temas e perguntas do público. Um dos questionamentos foi acerca de que população deveria iniciar os testes de uma possível vacina, considerando que quando elas forem liberadas não haverá quantidade suficiente para todos.

Antes dos debatedores intervirem, o coordenador adiantou que a imunização, neste momento, é a imunização natural que está ocorrendo e que uma possível vacina prevenirá uma nova onda que pode surgir. De qualquer forma, Garcez acredita que as campanhas deverão ser parecidas com as de vacina da gripe, em que critérios epidemiológicos de saúde pública são levados em conta.

Naira indicou que o mais importante é ver o quanto a população de risco e os idosos responderão à vacina e que toda a estratégia epidemiológica dependerá disso. Renato Amaral completou: “O idoso soroconverte muito menos que o indivíduo mais jovem. Em um mundo ideal, porém, todos têm de ser vacinados, inclusive os saudáveis”.

Sobre os medicamentos, Garcez fez um compilado sobre os últimos fatos acerca da aplicação de hidroxicloroquina e cloroquina, passando pelos estudos realizados, e sumarizou: “No momento, não há justificativa para usar cloroquina [para Covid-19]”. O médico também apontou que, por outro lado, estão surgindo fortes evidências de que os corticoides surtem melhora em 30% dos pacientes que já estão com a doença em fase grave.

Em outra intervenção, Naira argumentou que nem sempre é preciso correr para um hospital quando um idoso está com Covid-19. “Se ele está em casa, saturando bem e confortável, não precisa. Mas é necessário acompanhar, pois do 7º dia em diante os casos podem complicar. E as complicações são rápidas, de horas.”

Por fim, o presidente da APM lembrou que não é mais possível falar em Economia sem falar em Saúde, e vice-versa. “Temos que tratar como um conjunto, jamais pontualmente. Temos, portanto, um caminho imenso a ser percorrido. Penso que nós, desta vez, depois de tantas situações difíceis que a humanidade tem enfrentado ao longo da História, sejamos capazes de aprender com mais esta lição”, concluiu.