“Um lindo dia na vizinhança”, dirigido por Marielle Heller, foi tema do Cine Debate da Associação Paulista de Medicina realizado na última sexta-feira (10). Mediado pelo psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura Junior, o evento marcou os 25 anos do projeto, que já discutiu mais de 200 filmes e contou com a participação de diversos especialistas em rodas de conversa.
O filme debatido na última edição traz a biografia de Fred Rogers (Tom Hanks), pedagogo e artista norte-americano que criou Mister Rogers’ Neighborhood, programa infantil de TV muito popular na década de 1960, nos Estados Unidos. Em 1998, Lloyd Vogel (Matthew Rhys), até então um cínico jornalista investigativo, aceitou escrever o perfil de Rogers para a revista Esquire.
Durante as entrevistas para a matéria, há inversão de papéis: Lloyd torna-se praticamente o entrevistado, iniciando uma inspiradora amizade com o apresentador. E Rogers torna-se quase um coadjuvante no próprio filme. “A arte, literatura, cinema e teatro têm as qualidades de aprendizado direto, porque quando você se emociona com a história do outro, não precisa bater a cabeça para sentir a dor, aprende com a batida de cabeça da personagem. E isso enriquece as nossas percepções”, disse Bottura.
Nesta linha, a psicopedagoga especialista em Montessori e Programação Neurolinguística Isabela Minatel Bassi reitera que a película mexe com a sensibilidade. “É um filme biográfico. Mister Rogers conduziu por várias décadas um programa infantojuvenil que falava de inteligência emocional, algo muito útil para crianças e adolescentes.”
De acordo com ela, Loyd, um jornalista amargo, problemático e furioso, transfere as frustrações da vida pessoal para as relações de trabalho. “O mais chocante é o quanto não nos damos conta, o quanto ficamos cegos da maneira que levamos a vida e as nossas relações. No caso de Loyd, ele estava aprisionado pela raiva por não conseguir perdoar o pai.”
Desenvolvimento infantil
A necessidade de algumas pessoas em manter o rancor como forma de nutrir a ausência de perdão é outro ponto importante do filme, segundo a especialista. “Ele tinha que segurar aquela raiva, porque era a forma de fazer justiça. No encontro com Mister Rogers, a figura sensível, tranquila e doce contrasta com a do jornalista. A conversa torna-se tão envolvente que toda aquela casca grossa de Loyd começa a se diluir. Ali, ele percebe o caminho de cura intuitivamente. E muitos de nós sabemos onde desatar os nós para continuarmos a jornada.”
Isabela Bassi ainda destaca que Mr. Rogers também em nenhum momento se coloca como alguém especial. “Ele deixa muito claro como aprendeu a lidar com a própria raiva e as próprias emoções, traz isso de uma forma muito poética”, acrescenta.
A jornalista e educadora parental Ivana Moreira trouxe a importância de sensibilizar os pais no processo de desenvolvimento infantil. “O filme é uma aula de educação parental tão profunda, como tantas lições e dicas para os pais e para o desenvolvimento dos filhos.”
Colocar a criança no lugar de protagonista, estar 100% presente na vida dela para lidar com as suas emoções de forma positiva e transformá-la em um adulto que saiba gerenciar ganhos e frustrações também foi outra abordagem da película. “Tudo começa em casa, entendendo esse espaço como aconchego, a relação de pais e filhos é melhorada e potencializada e, consequentemente, resolve as questões do mundo”, complementa
Como lidar com os machucados? “Todo mundo é machucado. A vida faz isso e como podemos ajudar os machucados emocionais dos nossos filhos? O pai de Loyd teve uma contribuição na formação do caráter do filho, não podemos ignorar isso. No processo educacional, nutrir o amor e a aceitação de suas características é um gesto de fortalecimento daquele ser para se tornar um adulto emocionalmente saudável”, conclui a educadora.
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