“A agenda que nos traz aqui hoje é como o Ministério da Saúde pode retomar a tradição de ser baseado na Ciência e se voltar, efetivamente, para o fortalecimento do SUS e para uma cooperação internacional à altura da nossa nação”, foram as palavras que iniciaram o discurso da atual ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante sua visita à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), na manhã da última terça-feira, 07 de fevereiro.
O evento, que aconteceu no teatro da faculdade, reuniu o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, e a diretora da Faculdade de Medicina, Eloísa Silva Dutra de Oliveira Bonfá. Também estiveram presentes Eleuses Paiva, secretário da Saúde do Governo do Estado de São Paulo; Helvécio Magalhães, secretário de Atenção Especializada à Saúde; Ana Estela Haddad, secretária de Saúde Digital; e Isabela Cardoso de Matos Pinto, secretária de Gestão do Trabalho da Educação na Saúde, além de estudantes, professores, diretores e demais membros da instituição.
Eloísa Bonfá relembrou que Trindade é a primeira mulher a assumir o comando no Ministério da Saúde e ressaltou a importância de ter uma profissional à frente da pasta que represente tão bem a Ciência e a Saúde Pública, recordando a atuação da ministra enquanto presidente da Fundação Oswaldo Cruz durante o período da pandemia, em que articulou uma notável parceria entre a Astrazenica e a Universidade de Oxford, possibilitando, assim, que vacinas contra a Covid-19 pudessem ser produzidas em território nacional.
A diretora da FMUSP relatou a experiência da universidade e do complexo do Hospital das Clínicas, destacando que o trabalho em conjunto com o Ministério será fundamental para continuar dando papel de liderança ao SUS e assim, colher resultados positivos. “Em termos de sustentabilidade, gostaríamos de oferecer nossas unidades produtivas para replicá-las. Podemos auxiliar também na revisão técnica e econômica da tabela SUS, que tem impactado muito as filas. Temos experiências com resultados muito positivos, que colocamos à disposição para compartilhar. Esta comunidade tem como cerne o conceito de que um país sem Ciência, é um país sem futuro.”
Para o reitor da USP, Carlos Carlotti, o estabelecimento de uma parceria entre Ministério, FMUSP e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é fundamental para a Saúde brasileira. “Estamos aqui para ouvir e oferecer a Universidade de São Paulo para todos os assuntos estruturantes no Ministério da Saúde, como ações emergenciais – que já estão sendo feitas com os Yanomamis, por exemplo. A USP está aberta para cooperarmos, temos todo um conhecimento aqui em que podemos interagir e aprender juntos, esta é a função da universidade.”
Trabalho em conjunto
Cientista social por formação, Nísia Trindade expressou que, atualmente, não é possível pensar em Saúde se não for por meio de uma perspectiva interdisciplinar, já que isso contribui para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Para a ministra, a atuação conjunta de diferentes conhecimentos e o esforço coletivo serão imprescindíveis para a realização de um trabalho de qualidade.
Desta maneira, o aperfeiçoamento do SUS é uma das principais prioridades para o Ministério, principalmente no sentido de recuperar a capacidade de coordenação nacional, possibilitando o acesso a um sistema de qualidade em todo o País e que corresponda às necessidades das populações em situações mais vulneráveis.
“São dimensões de uma colaboração em todos os campos do conhecimento que estavam sendo discutidas com a Fiocruz e que hoje podem ser muito ampliadas, com papel de destaque para a USP pela sua produção de conhecimento e capacidade. Vivemos em um mundo e em um País com múltiplos desafios, com impactos nas condições de Saúde. Me empenharei para que o Ministério seja orientado pelas melhores evidências científicas, a serviço do SUS, para ao lado dos demais ministérios e secretarias, avançar na educação de uma cidadania mais plena, consciente e baseada nesses valores”, indicou.
O investimento em novas tecnologias e em telessaúde também foi relatado durante o encontro. De acordo com Trindade, este trabalho – que está voltado, majoritariamente, à atenção primária – corresponde à essencialidade do cuidado e fornece uma visão integral sobre o trabalho cooperativo já mencionado. Para ela, tal inovação já é uma realidade, além de ser um grande passo que pôde ser observado durante a pandemia, que comprovou que processos de aperfeiçoamento precisam de pesquisas, avaliações e análise dos critérios de qualidade para serem efetivos.
Vacinação
Segundo a atual ministra da Saúde, a pauta da vacinação em um país de dimensões continentais como o Brasil é primordial. Conforme relembrou Trindade, o País, que já foi exemplo para o mundo em cobertura vacinal e erradicação de doenças, sofreu um forte retrocesso, de modo que atualmente há baixas adesões à imunização contra doenças que já haviam sido eliminadas do território das Américas, como o sarampo e a poliomielite, por exemplo.
Assim, é fundamental que haja uma união de forças para o fortalecimento do SUS, já que apenas dessa forma o sistema conseguirá exercer com maestria o seu papel dentro deste campo. A ministra evidenciou que o Ministério já está trabalhando em um calendário de vacinação, sendo que é inadmissível que o Brasil não retorne à sua posição de liderança em um programa de excelência de imunização – que completará 50 anos neste ano.
“Temos um conjunto de problemas de diferentes temporariedades. Há contratempos do século XXI em que as questões socioambientais se colocam como mais prementes, e, ao mesmo tempo, estamos lidando com doenças evitáveis pela vacina. Sabemos que o próprio aumento da expectativa de vida no mundo se deve, em grande parte, à melhoria das condições de acesso à água potável e à vacinação das crianças prevenidas”, explicou.
Para a ministra, as prioridades apresentadas durante a ocasião se configuram como um posicionamento inicial, mas, também, de retomada do trabalho. Trindade destacou que o intuito do Ministério para os próximos anos é a inovação, estando fortemente baseado no trabalho interligado à comunidade científica e às universidades, como a USP, para, de fato, ter uma agenda de trabalho que contribua para o que há de mais sublime na Saúde em dimensões de estado, país e no âmbito internacional.
Fotos: Marina Bustos