A nova divulgação do Boletim Epidemiológico Especial da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente – órgão do Ministério da Saúde – apresenta dados relacionados à tuberculose no Brasil. De acordo com a pasta, o País registrou mais de 78 mil novos casos da enfermidade em 2022 e o contexto da pandemia de Covid-19 contribuiu para estagnar ou reverter os avanços sobre a doença adquiridos antes deste período, de modo que a retomada de ações de prevenção e tratamento ainda se mantêm escassas.
A estimativa é que, no primeiro ano de pandemia, cerca de 10,1 milhões de pessoas tenham desenvolvido tuberculose, das quais apenas 5,8 milhões (57,4%) receberam o diagnóstico. Em 2021, o número de pessoas acometidas pela enfermidade foi de 10,6 milhões, sendo que, destas, 6,4 milhões (60,4%) receberam a notificação do diagnóstico.
O número de pacientes com tuberculose não tratados também aumentou, o que eleva as chances de nos próximos anos haver um grande impacto nos novos números de casos e, assim, de óbitos ocasionados pela doença.
Houve uma grande elevação na incidência de casos de tuberculose entre 2015 e 2019, e uma redução de 12,1% entre 2019 e 2020, passando de 37,9 casos por 100 mil/hab. (79.784 casos) para 33,3 casos por 100 mil/hab. (70.554 casos) – é válido salientar que esta redução tem a tendência de estar diretamente relacionada à Covid-19, período em que houve uma limitação do acesso aos sistemas de Saúde e também pela semelhança entre os sintomas das infecções. Já em 2021 e 2022, ocorreu um aumento, para 34,9 casos por 100 mil/hab. (74.385 casos) e 36,3 casos por 100 mil/hab. (78.057 casos), respectivamente.
Contexto nacional
De acordo com a análise da Secretaria, no ano passado, as unidades federativas com as maiores taxas de adoecimento por tuberculose foram Amazonas (84,1 casos/100 mil habitantes), Roraima (75,9 casos/100 mil habitantes) e Rio de Janeiro (68,6 casos/100 mil habitantes).
Por sua vez, no Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Norte foi observada uma redução nas notificações da doença no ano de 2021 em comparação com as de 2020. Roraima e Espírito Santo são estados que seguem com aumento nas notificações durante os últimos três anos.
Além disso, outros 12 estados ultrapassaram os níveis que haviam apresentado em 2019, sendo eles Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins. São Paulo, que é o estado com a maior carga da tuberculose em todo o Brasil, apresentou menos casos da doença em 2022 quando comparado com 2019.
Perfil
Dos casos registrados nos anos de 2020 e 2022, 136.324 (70%) foram em pacientes do sexo masculino, com maiores riscos de adoecimento para a faixa etária dos 20 aos 64 anos – em que a incidência foi de 2,6 casos/100 mil hab.
Importante ressaltar que, em 2022, houve um considerável aumento para o risco de adoecimento na faixa etária dos 0 aos 14 anos, estando relacionado ao período pandêmico, que elevou a exposição da população infantil aos casos de tuberculose interdomiciliar, além de ter ocorrido uma queda na cobertura vacinal de BCG.
Observou-se que a maior parte dos novos casos de tuberculose pulmonar foi em pessoas autodeclaradas como pretas e pardas, indo de 56,6% (40.227) em 2012 para 63,3% (49.381) em 2022, ao passo que na população autodeclarada branca, a tendência foi inversa, ocorrendo uma redução no número de casos. Para a população amarela e indígena, não foram detectadas variações expressivas.
Demais casos
Dos 78.057 casos de tuberculose diagnosticados no Brasil em 2022, 2.703 (3,5%) foram em menores de 15 anos, a maior proporção registrada desde 2012. Em menores de 10 anos, foram diagnosticados 1.788 (2,3%) novos casos e 1.202 (1,5%) novos casos em menores de cinco anos. Em comparação a 2019, o último ano que antecede a chegada da pandemia de Covid-19, foi analisado que a proporção no número de casos em menores de cinco anos teve um aumento de 10,9% em 2022, indo de 33,8% para 37,5%.
Em relação aos casos de tuberculose na população com HIV, a proporção de novos casos aumentou 23% de 2012 a 2019, indo de 67,3% (47.838) para 82,8%. Em 2022, o número de casos era 62.230, havendo uma estabilização – contudo, os valores obtidos para o último ano ainda são preliminares. Desde 2014, está sendo observada uma redução consistente na proporção de novos casos com coinfecção de tuberculose, de modo que os resultados obtidos demonstram que a porcentagem foi de 10,2% (7.131) para 8,4% (6.557) em 2022.
A coinfecção de tuberculose e HIV teve os maiores registros no Rio Grande do Sul (680 casos), Santa Catarina (224 casos) e Distrito Federal (41 casos). A proporção de cura variou de 57,7% (1.742) em 2011, para 54,9% (1.790) em 2019. No contexto pandêmico, houve uma piora em relação ao tratamento, de modo que somente 52% (1.463) dos novos casos se curaram em 2020, e 46,9% (1.471) em 2021.
Houve um aumento nos últimos sete anos no número de novos casos de tuberculose entre populações que vivem em situação de vulnerabilidade ao adoecimento – classificadas como pessoas privadas de liberdade, população em situação de rua, profissionais de Saúde, imigrantes e indígenas. O número de casos entre esses pacientes, que era de 9.584 (13,7%) em 2015, teve um pico de 13.532 (17%) em 2019 e chegou a 11.793 (15,1%) em 2022. No mesmo ano, a população indígena representou 1% (805) dos novos casos no País.
Óbitos
Há cerca de duas décadas, o coeficiente de mortalidade causada por tuberculose vinha reduzindo no País, mesmo que a passos lentos. Todavia, tal tendência foi revertida em 2021, quando 5.072 óbitos pela doença foram registrados (um total de 2,38 mortes a cada 100 mil habitantes). O último ano em que o Brasil teve mais de 5 mil mortes por tuberculose registradas havia sido em 2002.
Em 2022, as unidades federativas que tiveram mais mortes ocasionadas por tuberculose foram Rio de Janeiro, com 5 óbitos/100 mil habitantes; Amazonas, com 3,5 óbitos/100 habitantes; e Pernambuco, que registrou 3,3 óbitos/100 mil habitantes.
O Ministério da Saúde destaca que é fundamental o investimento em pesquisa e na incorporação de novas tecnologias que contribuam para evitar o cenário em que a tuberculose se encontra no País, sobretudo em relação às pessoas que convivem em ambientes de maior vulnerabilidade social e que, consequentemente, estão mais expostas à infecção.