Melatonina é tema de “Sleep Talks” da APM

O uso de melatonina, mais conhecida como hormônio do sono, tem se consolidado ao longo dos últimos anos com diversos experimentos e produções científicas

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O uso de melatonina, mais conhecida como hormônio do sono, tem se consolidado ao longo dos últimos anos com diversos experimentos e produções científicas. Para esclarecer sobre as suas principais funções biológicas, benefícios e contraindicações, no dia 21 de julho, a Sleep Talks – série de lives voltadas aos temas da Medicina do Sono, transmitida no Instagram da Associação Paulista de Medicina – contou com a participação do professor fisiologista José Cipolla Neto.

O especialista indicou que uma das principais funções da melatonina é regular o relógio biológico do corpo, informando ao cérebro quando é hora de dormir e quando é hora de acordar. “Tem uma característica peculiar e estritamente vinculada à noite. Digo isso porque, independentemente do padrão de atividade de uma espécie, com a nossa que é diurna e a do rato que é noturna, a melatonina sempre será produzida a noite, isso não acontece com nenhuma outra função do nosso organismo.”

Essa liberação que ocorre em ambientes escuros, segundo Cipolla, tem a função de organizar a fisiologia corporal entre o meio externo e interno: a noite relacionada ao repouso e ao jejum, e o dia vinculado às atividades gerais.

A substância produzida pela glândula pineal começou a ser estudada, sobretudo, a partir dos anos 2000. “Se não bastasse esse atraso histórico por preconceitos, talvez por uma visão mística sobre a glândula, outro problema que surge atualmente é que uma das suas funções de regulador do sono o tornou o seu grande propagandista. As pessoas esquecem que a melatonina é produzida pelo nosso organismo para regular algumas funções e a olham simplesmente como o hormônio do sono ou hormônio da noite”, criticou o especialista, que é Professor Titular de Fisiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo.

No mercado norte-americano e em outros países do mundo, a substância é vendida de forma indiscriminada. “É vista como uma droga inócua, qualquer um pode adquiri-la e tomá-la livremente para lidar com problemas do sono. Além desse aspecto, dificilmente você encontrará literatura na área da Endocrinologia que discuta a glândula pineal e a melatonina e um curso médico que inclua o tema no seu currículo”, relatou o convidado.

No Brasil, não há registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de medicamentos com o princípio ativo melatonina. Sites nacionais não podem vender o produto. Mas a legislação garante que pacientes recebam a indicação do hormônio por um médico para importação. “Depois de uma briga jurídica, há dois anos, hoje farmácias de manipulação podem vender a melatonina no Brasil”, acrescentou.

“Não vamos à farmácia solicitar o hormônio da tireoide e temos de imaginar a melatonina neste contexto. Ela não pode ser banalizada indiscriminadamente, como ocorre atualmente. Umas das razões para isso talvez seja essa questão de não ser regulamentada e ser inserida no mercado de suplemento, nos Estados Unidos”, sintetizou a especialista Andrea Toscanini, membro do Comitê Científico de Medicina do Sono da APM e organizadora dos encontros on-line.

Indicação

A regularidade de sua produção diária, a ritmicidade do organismo e o fato de estar ligada ao claro e escuro ambiental tornam a melatonina um poderoso cronobiótico, um agente importante para regular transtornos do ritmo circadiano, ritmos de sono-vigília endógenos (relógio corporal) e ciclo externo claro-escuro desalinhados (dessincronizados). Por isso, reiterou Cipolla, não se pode usar a melatonina a qualquer momento, em qualquer dosagem ou formulação.

Produzem menos melatonina pessoas acima de 50 anos, autistas ou com distúrbios comportamentais. Patologias específicas, como diabetes tipo 2, hipertensão, obesidade, Parkinson e doenças degenerativas neurológicas também influenciam nos baixos níveis do hormônio. “Nestes casos específicos, estamos autorizados clinicamente [a indicar] essa reposição”, concluiu o fisiologista.

Sleep Talks

A próxima transmissão da série acontece em 4 de agosto, às 19h, com a presença de Andrea Bacelar, neurologista referência nacional em Medicina do Sono. Ela refletirá sobre “Quais as causas da sonolência diurna excessiva?”. Confira as demais datas:

– 18 de agosto, a otorrinolaringologista Tatiana Vidigal é convidada para falar a respeito de “Como avaliar a adesão ao CPAP por Telemedicina?”;

– 1º de setembro, o neurologista Álvaro Pentagna ministra a live sobre “Sono e Imunidade”;

– 15 de setembro, a neurologista Rosa Hasan esclarece todas as eventuais dúvidas referentes ao sono;

– 29 de setembro, o pneumologista Mauricio Bagnato traz “Dicar para dormir melhor ajustando o relógio circadiano.

Todas as lives são realizadas pelo perfil oficial da APM no Instagram e contam com moderação de Andrea Toscanini, presidente do XVIII Congresso Paulista de Medicina do Sono.