A Associação Paulista de Medicina promoveu, na última quarta-feira (24), um webinar como parte das atividades do Julho Verde, mês dedicado à conscientização sobre tumores de cabeça e pescoço. O evento, intitulado “Lesões orais e câncer de boca”, contou com a presença de especialistas na área.
Entre os palestrantes, estiveram Leandro Loungo, professor da disciplina de Cirurgia de Câncer de Cabeça e Pescoço na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e a estomatologista Juliana Mota Siqueira. A moderação ficou a cargo de Antonio José Gonçalves, presidente da APM, e Marianne Yumi Nakai, diretora Científica da entidade, junto dos médicos Andressa Teruya e José Guilherme Vortanian.
Antonio José Gonçalves abriu o webinar ressaltando a importância do Julho Verde para a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de cabeça e pescoço. “Esta campanha nacional, realizada há dez anos, tem gerado resultados muito satisfatórios. Nosso objetivo é melhorar o diagnóstico precoce, especialmente para o câncer de boca, que é altamente prevalente na população masculina”, destacou.
Aspectos clínicos
Leandro Loungo iniciou sua apresentação explicando as partes que compõem a boca e como a realização do exame clínico é simples e eficaz. “Um exame básico da boca, utilizando um palito e uma lanterna, leva cerca de um minuto e meio. Isso permite identificar diferentes tipos de topografias, incluindo a orofaringe.”
O especialista enfatizou que o câncer de boca é visível a olho nu, o que facilita o diagnóstico precoce. “O tumor fica visível, literalmente. Não precisamos de microscópio para identificá-lo”, afirmou.
Loungo também abordou a epidemiologia do câncer de boca, destacando que 95% dos tumores orais são de células escamosas. Ele mencionou que, embora o câncer de boca não esteja entre os mais comuns globalmente, ele tem alta taxa de mortalidade, com quase 50% dos pacientes sucumbindo à doença. De acordo com o médico, no Brasil, esse tipo de câncer é o quinto ou sexto mais frequente entre os homens, posição que varia dependendo do ano.
Os fatores de risco para o câncer de boca incluem o uso de tabaco e álcool, exposição ao sol e má higiene oral. “O HPV tem uma incidência relativamente baixa, em torno de 3% dos casos”, acrescentou Loungo.
Diagnóstico diferencial e tratamento
Juliana Mota Siqueira abordou o diagnóstico diferencial e o manejo inicial das lesões orais. Ela destacou que, além dos tumores malignos, diversas outras lesões podem ocorrer na cavidade oral, como as traumáticas, reativas e neoplásicas benignas. “A leucoplasia é a lesão potencialmente maligna mais comum, sendo precursora de 67% dos carcinomas orais”, informou.
Conforme explicou a especialista, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera lesões potencialmente malignas aquelas que apresentam níveis elevados de desenvolvimento de câncer na mucosa bucal. “Isso porque, na histologia destas lesões, o que nós vemos é uma displasia epitelial, alterações celulares e nucleares”.
Siqueira enfatizou a importância do diagnóstico precoce e da remoção cirúrgica completa das lesões suspeitas. “A remoção cirúrgica convencional, associada à ablação com laser de alta potência, tem mostrado bons resultados em termos de reduzir as taxas de recorrência”, declarou.
A especialista apresentou ainda um caso clínico em que uma paciente do sexo feminino, de 67 anos, não fumante e não etilista, possuía um histórico de remoção de leucoplasia em borda lateral de língua há sete anos. Após uma biópsia cirúrgica a paciente foi identificada com um carcinoma epidermoide T1N0. “Este caso reflete muito a importância de manter o acompanhamento rigoroso das lesões, pois elas podem mudar de aspecto a qualquer momento”, concluiu.
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