Jornada do paciente é um dos destaques do Global Summit APM

Finalizando as apresentações do dia 22 de novembro, último dia do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM 2023, houve debate do tema “A jornada digital do paciente”

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Finalizando as apresentações do dia 22 de novembro, último dia do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM 2023, houve debate do tema “A jornada digital do paciente”. A vice-presidente da Associação Brasileira de Startups de Saúde, Emanuela Rainho, foi a moderadora da mesa, relembrando que após a pandemia de Covid-19, a tendência de cuidado das pessoas mudou, contribuindo para uma confiança maior nos meios digitais, que atualmente têm ferramentas para tornar a experiência mais humana.

André Cassias, gerente médico de APS e Cuidado Integrado de Saúde Digital do Grupo Fleury, apresentou o tema “A Jornada Digital do Cuidado do Acesso e Coordenação: Estratégias para a Integração”. Ele relembrou que os especialistas acreditam e defendem a coordenação do cuidado digital, que integra toda a relação entre médico, paciente e demais profissionais de Saúde envolvidos no cuidado como um sistema. “Falamos que a digitalização é a forma para darmos acesso à equidade, mas a Saúde é um dos campos menos digitalizados. Ainda temos muito que trilhar. Temos muita oportunidade, com um caminho grande.”

Uma das principais possibilidades que a digitalização permite é entender os pacientes pelo grau de risco, aumentando o estímulo ao autocuidado, identificando quem é alto ou baixo risco e, assim, diminuindo gastos, uma vez que só serão encaminhados para procedimentos – como cirurgias e exames – aqueles pacientes que realmente necessitem do cuidado.

“O gasto que temos em Ortopedia, por exemplo, é exatamente o mesmo de custos indiretos. Os profissionais não tentam mais terapias e vão direto para cirurgias. Com a digitalização, podemos elevar uma jornada muito maior, estimular e evitar intervenções, já começamos a perceber uma redução de 30% de cirurgias. A personalização do cuidado tem sido cada vez maior, mas ainda temos desafios, como captação e engajamento. O digital foi muito importante na pandemia, mas se não tiver a integração com o físico, a experiência fragmentada se torna muito ruim”, explicou.

Aperfeiçoamento

Em seguida, Eli Szwarc, líder médico de Enterprise Informatics Latam na Philips, abordou o tema “Uso da tecnologia para gerir e aperfeiçoar a jornada do paciente no sistema de Saúde”. Segundo o especialista, a segurança é o fator primordial para se trabalhar na Medicina, acompanhada por um atendimento de qualidade, eficiência operacional e satisfação, tanto dos profissionais quanto dos pacientes.

Szwarc relembrou as mudanças do campo nos últimos tempos. “Ao longo dos séculos, a Saúde foi se estruturando na figura do médico, no hospital e na presença deste ambiente. Hoje, trabalhamos com a Medicina que coloca o paciente como centro de cuidado. Não existe mais aquele conceito de combater a doença, mas sim, de promover Saúde. O hospital precisa se reinventar e o paciente que tinha o hospital como o único local de referência, precisa começar a buscar outros centros promotores de Saúde.”

O especialista reforçou que, para fazer a transformação digital dar certo, é fundamental colocar o paciente como protagonista. “Assim, passamos a ter uma revisão de processos, já que agora há uma equipe multiprofissional tomando decisão e compartilhando dados, com um acesso coletivo ao prontuário. O prontuário eletrônico é onde deve estar a informação do paciente e para o paciente, pois ele e o seu familiar são os principais tomadores de decisão. A experiência digital do paciente depende de ter dados para que possa fazer essa jornada.”

Conforme o palestrante, a jornada digital do paciente irá conseguir ser a responsável por trazer eixos e ondas de mudança nos mais diferentes modelos, gerando um grande valor. “Essa é a construção que estamos fazendo em um evento como este. Temos vários tipos de players e todos estamos ao redor do paciente construindo um verdadeiro ecossistema, sendo todos complementares.”

Interoperabilidade

Posteriormente, a gerente de Relações Governamentais da Roche, Michele Mello, trouxe aos participantes o tema “Interoperabilidade por linha de cuidado – um caso prático”, relembrando que o sistema de Saúde não será sustentável caso não se toque em tópicos estruturantes, como dados, infraestruturas eficientes, soluções de financiamento e novas tecnologias.

Ela relembrou que os profissionais estão presentes em todos os passos da linha de cuidado do paciente e quando se estuda as problemáticas dessa relação, é possível entender os desafios e melhorar. “O benefício da Saúde Digital está mais na ponta de colocar todos os processos, saber qual é a realidade e começar a discutir, percebendo que um dos grandes benefícios que as diversas ferramentas proporcionam é essa necessidade de revisar tudo.”

Exemplo disso foi uma ação realizada na cidade de Pouso Alegre, em Minas Gerais, que contribuiu para identificar mulheres com câncer de mama. Em dois anos, o projeto conseguiu verificar pacientes que estavam há cinco anos sem mamografia, tendo um impacto positivo para a gestão da Prefeitura, para as mulheres da cidade e para os médicos, que passaram a ter na palma da mão a possibilidade de salientar a importância do cuidado com dados para isso.

“Se você padroniza e valida esse dado para utilização nacional, fica possível para todos terem acesso. Investindo nisso, além de ajudar as cidades a desenvolverem a Saúde Digital, poderíamos submeter esses resultados de uma maneira que todo o País pudesse se beneficiar. Eu acho que tem vários modelos de pagamento por valor que devem ser repensados e a Saúde Digital muda até isso e é para o bem”, complementou.

Ferramentas

Por fim, o gerente médico do Programa de Cardiologia do Hospital Israelita Albert Einstein, Marcelo Franken, apresentou as “Novas ferramentas para acompanhamento remoto de pacientes com Insuficiência Cardíaca”, indicando sensores que podem ser utilizados no corpo e que auxiliam no monitoramento de Saúde, além de dispositivos, como celulares, que têm aplicativos que auxiliam nesta investigação.

De acordo com Franken, no Brasil, atualmente, há cerca de 2 milhões de pacientes que sofrem de insuficiência cardíaca, enquanto nos Estados Unidos, este número alcança quase 7,5 milhões. Apesar da evolução no tratamento, há 50% de chances de reinternação em seis meses, tendo um impacto direto na qualidade de vida. Assim, os estudos recentes com novos dispositivos de monitoramento têm demonstrado melhores resultados, contribuindo para identificar eventuais riscos.

Ele apresentou alguns dos diversos dispositivos que estão à disposição para serem utilizados e que ajudam a salvar vidas. Um deles, por exemplo, permite analisar as mudanças na frequência vocal do paciente e, assim, percebe se ele está descompensado, identificando se há piora na insuficiência cardíaca.

“Os desafios consistem no fato de serem mais de mil dispositivo aprovados, com a acurácia e confiabilidade indo de acordo com cada um deles. Existem critérios de uso e evidências de benefício em desfechos, bem como a dificuldade de manter as mudanças de comportamento. Também há a questão de custos de modelo de negócio/pagamentos, a segurança de dados, equidade e escala – como fazer isso dar certo em um País grande como o Brasil. Mas no futuro, tudo que teremos será monitorado de modo inteligente, tudo será integrado e digital”, completou.

Confira os principais destaques do terceiro dia do GS APM 2023 neste link e as fotos aqui.

Texto: Julia Rohrer

Fotos: Marcos Mesquita Fotografia