Após a realização on-line em 2021, a terceira edição do Congresso Brasileiro de Neurogenética da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) reuniu mais de mil participantes de forma presencial. Os congressistas, palestrantes nacionais e internacionais, expositores e Comissão Organizadora se encontraram entre os dias 9 e 11 de março, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, para debater as mais recentes atualizações da área.
Na manhã da quinta-feira (9), houve três cursos pré-congresso, sobre Genética de sobrevivência, Neurologia para geneticistas e Genômica aplicada à Neurologia: Interpretação de exames. No início da tarde, o presidente do Congresso, Jonas Alex Morales Saute, ressaltou na cerimônia de abertura que, por se tratar de uma subárea específica, os números impressionam.
“Foi com esse espírito, de realizarmos um evento grande como o on-line, mas com a dimensão física e emocional de um evento presencial, que o III Congresso Brasileiro de Neurogenética foi estruturado. Nesta edição, teremos mais de 800 congressistas, 59 palestrantes nacionais, sete internacionais e 173 trabalhos científicos serão apresentados. É o maior evento presencial que já realizamos, o que já nos coloca a pressão para a sua quarta edição”, informou.
Além dele, compõem a comissão organizadora Fernando Kok, José Luiz Pedroso, Marcondes C. França Jr. e Sarah Teixeira Camargos. A organização e comercialização são da Associação Paulista de Medicina (APM).
O presidente da ABN, Carlos Rieder, salientou a honra e a importância de participar de um evento que trata sobre um assunto tão atual como a Neurogenética. “A ABN completou 60 anos em 2022 e estamos tendo muitos avanços desde então. O valor do Departamento Científico de Neurogenética é fundamental para os seus membros e é um orgulho para a nossa instituição ter um grupo de tamanha atuação”, destacou.
Jonas Saute finalizou a cerimônia relembrando que, ao se falar em Ciência no Brasil, automaticamente se fala sobre as instituições públicas. “Mais de 95% das publicações científicas brasileiras referiam-se às universidades públicas, federais e estaduais. No Brasil, o ativismo científico está atrelado à defesa das universidades públicas e dos recursos destinados às pesquisas no País.”
Conferência de abertura
Foi conduzida pelo geneticista Roberto Giugliani, com o tema “Da bioquímica genética à genômica: uma odisseia diagnóstica e terapêutica”, trazendo relatos históricos sobre descobertas associadas ao tema e casos clínicos a ele relacionados.
Giugliani apontou que a iniciativa da realização do Congresso é muito necessária, pois preenche uma série de espaços que, até então, não eram aproveitados. Durante sua apresentação, ele contou a história dos médicos alemães Albert Niemann, responsável pela publicação do relato que, mais tarde, seria chamado de Niemann-Pick; e Ludwig Pick, que descreveu uma série de estudos da patologia estudada pelo colega de profissão.
“A doença de Niemann-Pick é grave, precoce, progressiva, neurodegenerativa e com quadro demarcado pelo acúmulo generalizado intracelular. Em 1958, dois pesquisadores, Crocker e Farber, publicaram uma extensa revisão de 18 pacientes com essa condição, demonstrando que ela possuía uma grande variabilidade. Sendo assim, eles se dedicaram a casos que não eram tão clássicos”, descreveu.
De acordo com o geneticista, o diagnóstico precoce é fundamental, já que ao tratar um paciente em fase inicial, ele consegue ter um desenvolvimento adequado e levar uma vida normal. Mas, se o tratamento é tardio, não há como mudar esse quadro. Exemplo disso é o sequenciamento do genoma de recém-nascidos, permitindo o diagnóstico de doenças em mais de 20% dos casos. “O médico tem um papel central neste processo. Esses pontos têm que ser ligados por alguém que possa medir a informação e o tema deste Congresso tem tudo a ver com o assunto que tratamos hoje.”
Fotos: BBustos Fotografia