“Com este encontro, temos como objetivo desmistificar a inteligência artificial, situando-a no nosso dia a dia. O segundo passo é nomearmos o termo em nossa prática clínica e associá-lo à Telemedicina, robótica e Medicina em geral. Por fim, como podemos formar futuros médicos e profissionais da Saúde para essa realidade e quais profissões surgirão com este fenômeno? Se alcançarmos esses pontos, já demos um passo importante”, explicou o coordenador do II Telemedicine Update, Chao Lung Wen, na abertura do evento, realizado no último sábado (8) na Associação Paulista de Medicina.
A iniciativa faz parte das atividades do Global Summit Telemedicine & Digital Health, que acontece de 4 a 6 de abril de 2019 no Transamerica Expo Center. Além da inteligência artificial, o II Update debateu tecnologias emergentes, empreendedorismo, robotização e transformação digital em Saúde.
Chao, que é chefe da Disciplina de Telemedicina da FMUSP, também pontuou que a inteligência artificial está presente em situações simples da vida cotidiana, como em aplicações do Google Assistant e a Siri, que utilizam processamento de voz para atuar como assistente pessoal; no Facebook, que utiliza o reconhecimento de imagem para recomendar marcações em fotos; em aplicativos de reconhecimentos musicais; em tradutores on-line; e em mapas, por exemplo.
Ele também traçou algumas considerações importantes sobre o uso da IA na prática médica: “A inteligência artificial precisar ser ensinada e validada no campo acadêmico. Temos que treinar os médicos e profissionais da saúde para essa realidade e prepará-los para os questionamentos éticos, morais e sociais quanto a esse uso, além de observarmos os custos para montar e manter infraestrutura de banco de dados.”
Conferências internacionais
Em seguida, em conferência internacional a distância, o especialista Luis Velez Lapão, da Universidade Nova de Lisboa, destacou a importância da IA no processo de decisão e na interação com os pacientes, resgatando os objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas.
“Acima de tudo, precisamos considerar a vida sustentável na Terra. Ou seja, não podemos pensar apenas em novas tecnologias e ferramentas robóticas, temos que refletir ainda sobre a direção ética e econômica, porque estamos enfrentando um período complicado de mudanças climáticas cada vez mais evidentes, entre outras questões, como envelhecimento populacional, co-morbilidades, práticas medicamentosas exacerbadas, falta de recursos humanos em Saúde, custos altos de vida, desafios de digitalização e novos hábitos consumistas.”
Lapão, que é um dos palestrantes confirmados para o Global Summit, reitera que a transformação digital em serviços de saúde trouxe três grandes impactos para a área: novas tecnologias digitais vinculadas à gestão/conhecimento dos processos de interação com pacientes e a importância da capacitação dos profissionais.
“Nesse sentido, precisamos focar nas melhorias do desempenho do sistema de saúde. De como essas novas tecnologias vão trazer melhorias aos pacientes e profissionais, a exemplo da redução de internações e economias ao setor. Por outro lado, como a Telemedicina integrará os serviços médicos.”
O encontro também teve palestra a distância do especialista Daniel S. Morel, da IBM – Watson Health, que falou sobre Inteligência cognitiva em Oncologia.
De acordo com ele, inicialmente a IA assumirá o papel de assistente nas diversas áreas da Saúde e, aos poucos, essas funções serão completamente automatizadas. No futuro, em sua visão, a ciência de dados e a inteligência artificial terão importância na formação curricular médica. E a Medicina terá a mesma equivalência da Telemedicina.
Robotização e Medicina Personalizada
Chao Wen ainda exemplificou modelos de robôs já usados no mundo, como equipamentos de limpeza e higienização automática em hospitais, cuidadores em home-office e ferramentas que mimetizam o relacionamento emocional com animais, usadas em pacientes para tratamento de depressão, ansiedade e demência.
“A videoconferência é um sistema robótico, muitos hospitais a utilizam para agilizar o atendimento em UTIs e prontos-socorros. E temos ainda os robôs capazes de executar cirurgias delicadas”, acrescenta.
Tatiana Almeida, médica geneticista do Hospital Israelita Albert Einstein, ministrou a palestra IA aplicada em Medicina Preditiva e Personalizada, falando sobre a necessidade de os profissionais entenderem que as novas ferramentas vêm como formar de facilitar os processos das pesquisas baseadas em evidências.
“A máquina não substituirá o trabalho do médico, ele só irá ganhar tempo extra para execução de suas tarefas, com a agilidade dos recursos desse mecanismo. Dois pontos que devemos levar em consideração: nem tudo automatizado é inteligência artificial e não há Medicina Personalizada sem a atuação humana”, finaliza.
Fotos: Marina Bustos