No dia 31 de outubro, em reunião virtual, foi realizada a segunda edição do encontro entre as Academias de São Paulo (AMSP) e Sul-Rio-Grandense de Medicina. Representantes fizeram, na conferência, uma breve apresentação da trajetória histórica das respectivas instituições e José Luiz Gomes do Amaral, presidente da AMSP e da Associação Paulista de Medicina, mediou aulas de três acadêmicos sobre avanços em valvulares cardíacas, xenotransplante e transplantes de órgãos.
A Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina surgiu em 19 de maio de 1990, na sala da provedoria da Santa Casa local, onde se reuniram médicos liderados por Pombo Dornelles. “Ele regimentou todo o corpo de fundadores e foi o primeiro presidente da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. Dornelles teve uma atuação grande em hospitais e prontos-socorros”, informou o presidente da entidade, Carlos Henrique Menke.
A sede administrativa da instituição fica na Rua Bernardo Pires, 280, sala 402, em comodato pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), cedido há 16 anos, por obra da gestão de José Carlos da Costa Gama. “Este ano, reinauguramos a sala com o nome de Gama, em sua homenagem. No espaço, o Cremers disponibiliza dois auditórios para nossas reuniões científicas”, acrescentou Menke.
Com a missão de ser uma associação sem fins lucrativos, autônoma administrativa-financeiramente e de finalidade científica e cultural, a Academia gaúcha colabora com as autoridades oficiais em assuntos relativos à Saúde Pública, ao apresentar sugestões, solicitar providências e responder consultas dessas autoridades, além de manter intercâmbio com entidades afins e com instituições públicas e privadas do gênero.
A Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina conta com 60 titulares eleitos por voto direto, 17 eméritos, 10 honorários, um correspondente e 13 integrantes do Programa Novos Talentos. “O corpo suplementar referente aos novos talentos vem com o objetivo de incorporar uma nova classe na Academia, já que os membros titulares têm que ter mais de 50 anos e são vitalícios. Pensamos, por que não aproveitar as jovens lideranças entre 30 e 50 anos? Conseguimos recrutá-los e cada liderança tem um membro efetivo como padrinho, isso tem dado muito certo”, explicou o médico gaúcho.
Em razão da pandemia, a Academia passou por diversas reestruturações. O portal melhorou e ampliou a acessibilidade e as reuniões científicas foram retomadas em junho, no formato on-line. Por outro lado, as festividades dos 30 anos de entidades foram canceladas. Surgiu, ainda, o confinamento com arte: o Confiarte, um modelo espontâneo de compartilhamento de diversas expressões artísticas.
Em setembro, a instituição iniciou o curso de Educação em Saúde, aberto a população em geral, com palestras divulgadas e armazenadas no YouTube. Para novembro, está previsto a divulgação do livro de 30 anos da entidade. “A trajetória da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina entre 1990 e 2020, exposta em livro, mostra que se chegamos até aqui foi com auxílio, reconhecimento, admiração e, sobretudo, o orgulho de pertencer a essa entidade”, resumiu Menke.
AMSP
No século XIX, mais precisamente no dia 7 de março de 1895, o médico Luiz Pereira Barreto, liderando um grupo seleto, criou a Sociedade de Medicina de Cirurgia de São Paulo, a primeira entidade médica paulista, com um número limitado de 50 participantes.
“É preciso lembrar que dez anos antes, em 1885, São Paulo era uma cidade extremamente provinciana, com 65 mil habitantes. Praticamente nada existia, salvo a Faculdade de Direito, fundada em 1828, que atraia alunos de vários estados do Brasil. Dez anos depois, no ano fundação da Sociedade de Medicina de Cirurgia de São Paulo, ela dá um salto extraordinário, com três vezes mais habitantes”, resgatou o acadêmico.
A rápida expansão foi acompanhada pela cultura do café, a malha ferroviária passou a cortar praticamente todo o estado e as chácaras loteadas deram lugar a bairros nobres, com o surgimento das primeiras avenidas. Nesse clima efervescente, Palomba, que também é diretor Cultura da APM, reiterou que a Medicina também passou a ter relevância social.
“Nos primeiros 50 anos, a Sociedade de Medicina de Cirurgia de São Paulo teve muita participação nas causas médicas e sanitárias, com dois grandes marcos: em 1913, os membros criam a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, capitaneados por Arnaldo Vieira de Carvalho; e em 1930, um grupo de acadêmicos e não acadêmicos vendo a restrição da sociedade, com número de vagas reduzido e vitaliciedade, criam uma entidade aberta, a Associação Paulista de Medicina.”
Em 1954, a Sociedade mudou o nome para Academia de Medicina de São Paulo, adquirindo sede própria. Nos últimos 20 anos deste século, reorganizou e modernizou seus estatutos, com 130 cadeiras vitalícias.
“O acadêmico José Luiz Gomes do Amaral, na época presidente da APM, cedeu – em comodato – salas da Associação para o funcionamento da Academia. Com isso, foi possível alugar a sede própria e receber recursos para a manutenção da entidade. É uma simbologia extraordinária porque a APM foi criada no ventre da AMSP. Hoje, com 125 anos, estamos inseridos em um século mutante, físico e digital, e abertos a receber as próximas gerações de médicos”, concluiu Palomba.
Aulas
O presidente da AMSP, José Luiz Gomes do Amaral, mediou as palestras “Avanços no tratamento das patologias valvares do coração”, ministrada por Rogério Sarmento-Leite (Rio Grande do Sul); “Xenotransplante: perspectivas”, conduzida por Silvano Mário Atílio Raia (São Paulo); e “Desafios na implantação de um programa de transplante de órgãos no Norte do Brasil”, feita por Valter Duro Garcia (Rio Grande do Sul).
“Seria interessante compartilhar nossos calendários, de São Paulo e do Rio Grande do Sul, porque há discussões interessantíssimas entre as instituições”, sugeriu Amaral, ao alertar ainda sobre as profundas desigualdades que dividem o Brasil, em todas as cidades.
O evento virtual foi coordenado por Gilberto Schwartsmann, do Rio Grande do Sul.
O I Encontro das Academias aconteceu no dia 26 de outubro de 2019, na sede da Associação Paulista de Medicina, em concomitância com o 24º Congresso Brasileiro da História da Medicina. Na ocasião, foram temas: a história médica, os fluxos migratórios do exercício médico, a historicidade do câncer de mama etc.