Nesta quarta-feira (14), segundo dia do Global Summit Telemedicine & Digital Health – maior evento sobre Telemedicina e Saúde Digital da América Latina, realizado pela Associação Paulista de Medicina em parceria com o Transamerica Expo Center -, a médica israelense Esti Shelly, diretora da Divisão de Saúde Digital do Ministério da Saúde de Israel, ministrou a palestra “Never let a good crisis go to waste – Telemedicine in time of the pandemic” (em português, “Nunca deixe que uma boa crise se torne um desperdício – Telemedicina em tempos de pandemia”).
A mesa virtual do evento foi moderada por José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, que relembrou a importância de se pensar em Telemedicina em curto e longo prazo, enxergando um cenário em que a técnica estará presente na prática médica mesmo após a pandemia de coronavírus, de forma benéfica para profissionais de Saúde e pacientes.
Por ser uma das grandes líderes da saúde digital em Israel, responsável pela transformação e implantação da área em seu país, Esti apresentou importantes abordagens acerca deste tema. A médica relembrou que Israel é um país muito menor que o Brasil, mas que está em constante crescimento.
De acordo com ela, possuem quatro hospitais privados e 27 públicos, sendo que toda a população conta com um plano de saúde e a maioria dos serviços de saúde é custeada pelo governo. Além disso, a população está ficando mais idosa e o número de pessoas que sofrem por doenças crônicas, como diabetes, por exemplo, está crescendo, levando ao aumento nos preços de medicamos e de tecnologias médicas.
O período da pandemia simbolizou um grande desafio para as equipes da linha de frente, ressignificando a relação médico-paciente. “Vemos que as pessoas não querem esperar longos prazos para receberem tratamentos ou cuidados médicos. O coronavírus demonstrou isso de forma dramática, já que em Israel estamos tratando 70 mil pacientes e a maioria está em casa. Então, é bastante desafiador”, esclareceu.
Desenvolvimento da área
No entanto, a ascensão da tecnologia e da saúde digital está em crescimento há muito tempo, e a pandemia foi um pontapé para acentuar ainda mais este desenvolvimento. Em Israel, por exemplo, o sistema de saúde é rico e diferenciado, possibilitando a criação de 25 centros digitais que, por meio da colaboração de 300 milhões de dólares do governo, permitiram anos de experiência no âmbito digital.
Para Esti, uma transformação digital só será possível caso os países sigam alguns pilares fundamentais. “Precisamos observar a transformação clínica, pensar em um novo modelo e em novas colaborações com empresas de tecnologia. Além disso, necessitamos também de novas habilidades e qualificações, pois os profissionais de Saúde têm de aprender a usar a tecnologia a seu favor e como tratar um paciente de maneira digital.”
Seguindo os moldes que a pandemia trouxe, é necessário observar não apenas a transformação do profissional de Saúde, mas também dos pacientes atendidos por ele, entendendo que são necessárias implementações de ferramentas que permitam empoderamento no atendimento por meio de um sistema mais focado no resultado, garantindo um acesso justo para pessoas jovens, idosas e em todos os locais do Planeta.
A médica ainda destacou que é fundamental relembrar que, por mais que o atendimento por Telemedicina seja efetivo e facilite a comunicação, não substitui as consultas presenciais, pois o médico precisa do contato físico com o paciente. Além disso, Esti apontou que são necessárias regulamentações que permitam um trabalho digital feito com segurança, já que quando os tratamentos são feitos com ferramentas não integradas ao trabalho do médico, dificilmente ele aceitará usá-las.
“Estamos analisando como extrair valor da crise que a pandemia trouxe e usar isso a nosso favor. Precisamos entender de que forma impacta o sistema de Saúde. A situação da Covid-19 fez com que as pessoas fossem obrigadas a se adaptar à Telemedicina em um espaço de tempo muito curto, duas semanas, no máximo. Então, precisamos entender como será quando a pandemia acabar”, disse.
Desafios
Conforme Esti manifestou, para estabelecer alguns ideais sobre a forma de se fazer Telemedicina, são necessárias algumas regras. Evidenciou, por exemplo, que em Israel foi criada uma comunidade com médicos, enfermeiros e cuidadores que estavam lidando diretamente com pacientes infectados, com o objetivo de pensar em maneiras de se prestar um serviço humanizado – mesmo de forma remota.
Segundo a médica, o treinamento começou em agosto e, atualmente, já conta com oito grupos de trabalho diferentes, visando disponibilizar suporte, cuidados e promovendo saúde de qualidade. Para ela, essa é uma maneira de conseguir enxergar a frente da pandemia, além de servir como um indicador para patrocinadores que busquem promover saúde por meio da Telemedicina, agregando um serviço mais amplo e efetivo.
Por fim, Esti esclareceu a importância de se entender quais são os desafios culturais e sociais que a tecnologia traz e como é possível abranger uma participação cada vez maior das populações. “Mudar o atendimento para a Telemedicina é um desafio adaptativo que precisamos encarar e alterar a nossa percepção de médico e paciente. Precisamos ser ágeis e pensar em maneiras de desenvolver a tecnologia de forma prática, mas também colocando essa praticidade nas políticas públicas, uma vez que elas também precisar se adaptar, se modernizar e caminhar ao lado da Medicina”, concluiu.