Na tarde da última quinta-feira, 29 de setembro, foi realizado o último warm up para a 4ª edição do Global Summit Telemedicine & Digital Health – que será realizado entre os dias 4 e 6 de outubro de 2022. Promovido pela Associação Paulista de Medicina (APM) e pelo Transamerica Expo Center, o evento de aquecimento ocorreu no prédio sede do Google, com palestras de renomados especialistas da área, sobre o tema “Inovações em Saúde Digital para um Mercado Competitivo”.
Ao iniciar a sessão, os moderadores do evento Jefferson Gomes Fernandes, presidente do GS, e Antônio Carlos Endrigo, diretor de Tecnologia de Informação da APM, agradeceram a presença dos participantes e ressaltaram a relevância do tema escolhido para debate, que será abordado com maior ênfase durante o evento.
“Este ano, finalmente podemos voltar ao formato presencial, e teremos conferências e painéis internacionais e palestrantes que são verdadeiros experts na área. Este warm up tem o objetivo de trazer conhecimento e inovações para a Telemedicina e Saúde Digital a partir de pessoas que trabalham diretamente com esta área”, enfatizou Fernandes.
De acordo com ele, os conteúdos serão muito proveitosos com o crescimento da Telemedicina no trabalho, visto que a pandemia acelerou o processo da saúde digital do Brasil, principalmente em relação à regulamentação e mercado. “Se olharmos para fora, vemos que o estágio de evolução em outros países é o que nos espera, e queremos dar continuidade ao trabalho que já fazemos há alguns anos”, acrescentou.
Complementando, Endrigo comentou que, desde 2019, a APM acompanha a grande discussão em torno da regulamentação da Telemedicina. “Estamos em um momento especial, a pandemia fez com que muitos se voltassem para as inovações. Será um momento único e ímpar para aprender sobre a prática com quem mais sabe sobre o assunto.”
Telemedicina no Google
As apresentações foram iniciadas com Maurício Craveiro, diretor de Saúde do Google, que abordou as principais estratégias e ações realizadas pela organização. “Não estamos acostumados a saber sobre o que a empresa tem feito em relação ao setor da Saúde, pois ainda é vista como uma plataforma de busca.”
Craveiro pontuou que a indústria da Saúde é prioritária para o Google, que inclusive criou uma plataforma pioneira no setor de assistência médica. “É prioridade para a empresa sempre tentar resolver um dos maiores problemas das últimas e próximas décadas, a interoperabilidade. É algo que muitos tentam resolver e, obviamente, não temos uma magia para fazê-lo do dia para a noite, mas temos a estratégia de simplificar ou facilitar a conexão de todos estes elos”, explicou.
O palestrante salientou ainda que pesquisa e desenvolvimento não é algo que está somente relacionado à área da Tecnologia. “O Google conta com um time de profissionais envolvidos em tecnologias para o setor da Saúde. Recentemente, lançamos uma solução para conectar empresas Fitbit com plataformas do Google Cloud, no intuito de fazer a gestão de Saúde efetiva em portais de organizações da área. Trabalhamos para que todos os clientes possam se beneficiar com as soluções tecnológicas que estamos envolvidos”, complementou.
Referente às Interfaces de Programação de Aplicativos (APIs), o palestrante salientou que podem ser consideradas o coração do sistema, pois buscam facilitar a integração e resolver possíveis problemas de conexão. A partir de diferentes métodos, são baseadas na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e tecnologia de algoritmos, sendo preciso encontrar uma maneira de otimizar estes dados e garantir a segurança do sistema.
Segundo ele, todos esses processos irão gerar camadas de segurança para que, de maneira rápida e simples, possam ser adequadas a cada uma das soluções em Saúde. “Outro ponto importante desenvolvido foi o API Consent, que é superimportante na questão de uso e segurança quando falamos de gestão de consentimento. O Google tem um foco grande em trabalhar com API, pois são muito mais customizáveis e adequadas a qualquer tipo de negócio e atuação”, comentou.
Em relação à Inteligência Artificial (AI), Craveiro destacou que um princípio que vem da Diretoria da organização é que ela é mais importante ou de mesma importância que fogo e eletricidade, pois de fato vem evoluindo ano após ano.
“O setor traz benefícios relevantes para a área da Saúde. A AI é um termo criado na década de 1950, não é algo novo, mas representa muito mais o conceito de algo que pode imitar o comportamento humano. O Google investe muito em pesquisa e tecnologia, mais do que Stanford e MIT somados, não é à toa que somos reconhecidos por este tipo de estudo e tecnologia, com várias representações ao redor do mundo em relação a isso”, concluiu.
Desafios e oportunidades
Em continuidade, Isadora Kimura, founder da Nilo e Stanford GSB MBA, ficou responsável pelo tema “Desafios e oportunidades na criação de uma porta de entrada digital”. Em sua apresentação, destacou que a Nilo é uma empresa jovem, criada há dois anos, que nasceu junto com a aprovação, regulamentação e aumento da prática da Telemedicina.
“Tivemos a oportunidade de trabalhar com empresas que buscam crescer neste meio, que têm pensado em como fazer e aproveitar as oportunidades da Saúde Digital para alavancar seus resultados. Acredito que todos conhecem este cenário, o que aconteceu nos últimos três anos foram mudanças muito rápidas, e precisamos de um atendimento de Saúde. Hoje, vemos um pronto-atendimento digital efetivo em quase todo o País, processos de agendamento, confirmação e check-in realizados de maneira digital, via WhatsApp, e-mail ou SMS”, completou.
Isadora também ressaltou que profissionais de Saúde e empresas do setor já usam redes sociais para promover e captar clientes, pois é a direção que o mundo está caminhando hoje em termos de Saúde Digital, salientando também que a maioria dos atendimentos não urgentes vão começar pelos canais digitais.
“Acreditamos que pacientes vão migrar para este canal, não só pela conveniência, mas também por esperar que este caminho de atendimento gere personalização na trajetória. Desta forma, a jornada do paciente e conveniência serão cruciais na escolha de quais serviços de saúde consumir”, acrescenta.
A primeira oportunidade destacada pela palestrante em relação à Nilo foi aprender que a conveniência se torna chave na escolha dos pacientes sobre quais serviços de Saúde consumir, sendo uma verdadeira porta de entrada para benefícios, segurança e facilidade. Em relação aos desafios, a especialista citou que o mais comum é causado em relação à situação atual da Saúde Digital, a famosa integração entre sistemas.
De acordo com ela, o sistema de Saúde de forma geral foi criado na intenção de ser único, sem nenhuma outra integração, o que torna muito difícil passar pela transformação sem uma possível queda entre sistemas monolíticos. “Precisamos contratar empresas, serviços ou tecnologias que analisem os dados e usem de forma integrada com outras empresas. Será uma forma de construir e unificar estes dados, permitindo que dentro da mesma empresa signifiquem a mesma coisa, sendo possível construir processos tecnológicos que conversem entre si”, evidenciou.
O médico e a era digital
Responsável pela terceira palestra, Fernando Pedro, diretor executivo de Gestão de Valor em Saúde na Amil/United, baseou sua palestra no tema “Relacionamento Médico na Era Digital”. Segundo ele, sua performance enquanto diretor da empresa é avaliada em três indicadores: custo médico, segurança dos pacientes e do prestador de serviço.
Pedro enfatizou que tudo o que foi apresentado nas palestras anteriores foram conselhos e avanços voltados para a visão do cliente, e salientou que o médico, operadora de saúde e farmacêuticas também são clientes. De acordo com ele, a Amil busca criar um equilíbrio entre as três pontas. “Queremos reduzir o custo da Saúde, e a melhor forma de fazer isso é criar pontes entre quem precisa e quem pode oferecer”, destacou.
Segundo o especialista, para o lado do médico, a Saúde é um dos setores em que há mais resistência por parte dos profissionais em relação à evolução digital – algo que precisa ser trabalhado, pois no início criava-se a ideia de que a Telemedicina ameaçava o médico e colocava em xeque a credibilidade do profissional de Saúde.
“Hoje, conseguimos trabalhar com uma fonte de dados e, com isso trazer identidade ao médico”, ressaltou. Concluindo, ele afirmou que o segundo passo para se criar identidade é dar acesso para quem está dentro. “O processo nos ajudou a ter mais fidelidade de dados e trazer para o médico quais os pontos que podem e devem ser melhorados. Também conseguimos direcionar médicos para atender determinadas populações. Basicamente, este tipo de relacionamento é o que mais cria valor em Saúde, encurta distâncias e desperdícios.”
Humanização na assistência virtual
Para finalizar a sessão, o tema escolhido foi “Como o assistente virtual na Telessaúde pode humanizar o atendimento?”, ministrada por Marcelo Fanganiello, CEO da GetConnect e gestor em Saúde. Iniciando sua palestra, o especialista ressaltou que Telessaúde não se resume apenas ao atendimento, mas sim a todo processo que a envolve.
“Infelizmente, a visão da Telemedicina no Brasil é mínima e, aos poucos, as pessoas começam a perceber a potência do setor. Vemos um grande conceito e avanço em relação ao assistente virtual e como ele pode auxiliar e humanizar o atendimento, o que às vezes pode parecer algo antagônico”, introduziu Fanganiello.
Para o palestrante, a Inteligência Artificial na Medicina e na Telemedicina está começando a virar uma realidade e, às vezes, a falta de conhecimento por parte dos profissionais da área da Saúde sobre a ideia de que a AI tomará conta do mercado é errônea. O que acontece é algo oposto, pois na verdade será criado um mercado em torno da prática, que irá crescer ao longo dos anos e avanços.
“É uma realidade, e que não pode ser vista como uma solução, mas sim como um coadjuvante para se fazer Telessaúde ou Saúde presencial. A inteligência artificial visa ajudar o profissional, como um papel secundário, nunca como substituto do médico, precisamos desmistificar esta ideia”, ressaltou.
Durante a apresentação, ele também abordou sobre a omnicanalidade, que as organizações utilizam no intuito de melhorar a experiência do usuário e conduzir os melhores relacionamentos nos pontos de contato entre pacientes e profissionais da Saúde. E salientou que todos os canais devem falar a mesma língua, estando conectados uns com os outros. “Não posso deixar de citar quando nossos pais utilizavam o telefone para falar com o médico da cidade. A Telemedicina já estava sendo desenvolvida, apenas a integramos para os moldes atuais”, finalizou.
Fotos: Marina Bustos