Para abordar o estudo de efetividade da vacina Oxford/AstraZeneca em Botucatu (SP), o Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH) – da Associação Paulista de Medicina (APM) – realizou webinar do Grupo de Benchmarking IRAS (Infecção Relacionada à Assistência à Saúde) com palestra de Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, infectologista e coordenador da pesquisa na cidade, na última quinta (9).
A vacinação em massa em Botucatu faz parte do projeto de estudo do imunizante produzido pelo laboratório AstraZeneca, Universidade de Oxford e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Prefeitura da cidade, o Ministério da Saúde, o Governo Federal, a Unesp, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu e a Fundação Bill & Melinda Gates.
Levaram em consideração para a escolha do munícipio o médio porte populacional (cerca de 150 mil habitantes), a estrutura ampla de aderência à vacinação no SUS e de biologia molecular, além do comprometimento das autoridades públicas. “A Universidade de Oxford nos deu o prazo de 48 horas para apresentarmos um projeto de vacinação. A ideia era vacinar 80 mil pessoas entre 18 e 65 anos não inseridas nos programa de imunização. Levamos em consideração também todos os desfechos possíveis colaterais”, destaca Fortaleza.
Desde o dia 16 de maio, quando foi iniciada a vacinação “em massa”, houve uma redução de 81% nos casos de infecção por Covid-19 e 75% das internações. Até o momento, 81.750 foram vacinados com primeira dose (o aumento acima do número de 74 mil habitantes se deve à “invasão” de não moradores que de alguma forma provaram ser residentes com título de eleitor e comprovante de endereço) e 70.093 vacinados com segunda dose, ainda em andamento.
Em termos percentuais, a cobertura da população-alvo com a primeira dose foi de 109%, e com a segunda dose de 95%. Em se tratando da população inteira, considerando a infantil, são 89% de pessoas vacinadas com a primeira dose e 75% com a segunda dose. “Segundo dados, é a maior cobertura mundial em um município”, destaca o pesquisador, que também é professor associado da Unesp e presidente da Sociedade Paulista de Infectologia.
O objetivo final do estudo é contribuir para a saúde pública do Brasil e do mundo, mostrando o impacto da vacina AstraZeneca/FioCruz em situação de vida real (efetividade). “A nossa observação persistirá até dezembro, quando completaremos seis meses de imunização das primeiras doses; e as análises clínicas em janeiro e fevereiro, para que tenhamos o resultado final do estudo de efetividade”, informa o pesquisador.
Por que estudar efetividade?
Para entender como são realizados os estudos, na Fase 1, depois da realização de testes em animais, geralmente entre 10 e 20 pessoas são testadas com a finalidade de assinalar se a pesquisa é segura para seguir. A Fase 2 conta geralmente com até 100 pessoas, para observar se a vacina produz anticorpos neutralizantes. Já a Fase 3 testa milhares de pessoas. Um grupo é sorteado para receber a vacina e outro placebo, para verificar a medida de eficácia no grupo vacinado.
Sabemos que as pessoas são muito diferentes, nem mesmo os grandes estudos da Fase 3 verificam totalmente o impacto da vacina da população geral. “Os vírus também se diferenciam e sofrem mutações, e é essencial quantificar o impacto das vacinas contra as variantes que circulam na vida real. Quando iniciamos nosso estudo, tínhamos a variante alfa, e hoje 81% dos casos que temos são de variante delta. Essa mudança de variante também é um fenômeno da vida real, não captado nos estudos de fase 3”, explica Fortaleza.
Por fim, o infectologista reforça que o estudo só foi possível porque existe uma estrutura de vacinação importante no Brasil, que se iniciou na década de 1970, com o Programa Nacional de Vacinação e ganhou força enorme com o advento do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988. “Somos o País que melhor se vacina no mundo, mesmo com a piora nos últimos anos”, conclui.