A quinta-feira, 15 de outubro, foi marcada pelo terceiro dia do Global Summit Telemedicine & Digital Health, o maior evento de Telemedicina da América Latina, realizado pela Associação Paulista de Medicina em parceria com o Transamerica Expo Center. Um dos painéis mais esperados do dia foi sobre “Estratégia de Saúde Digital para o Brasil: Governança, Telessaúde e Informação”, reunindo profissionais renomados que contribuíram para maior perspectiva do público acerca do tema.
A mesa foi moderada por Katia Regina Silva, pesquisadora do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP (InCor-HC/FMUSP) e diretora Científica do Consórcio REDCap-Brasil, que agradeceu a participação dos palestrantes que estão atuando diretamente para alavancar a área da Saúde no Brasil.
As apresentações foram iniciadas por Adriana da Silva e Souza, diretora do Departamento de Saúde Digital no Ministério da Saúde. De acordo com ela, o departamento foi criado recentemente e demonstra a importância que a telessaúde está tendo na atualidade, propondo o funcionamento de mecanismos eficientes de organização.
“Nós somos responsáveis por estipular as políticas públicas de telessaúde e por coordenar dentro do Ministério da Saúde todas as ações que envolvem a saúde digital no Brasil. A nossa ideia é transpor as barreiras socioeconômicas, culturais e geográficas para que os serviços e as informações cheguem para todas as regiões do País”, mencionou.
Adriana explicou que, atualmente, diversas universidades federais espalhadas pelo Brasil têm iniciativas que auxiliam diferentes especialidades e que, por meio da saúde digital, é possível diminuir filas de espera, evitar deslocamentos desnecessários e aumentar o grau de satisfação do paciente em relação ao atendimento.
A plataformas de telessaúde financiadas pelo Ministério estão passando por uma série de ajustes que visam aprimorar as atividades e melhorar a funcionalidade para que toda a população consiga ter um acesso fácil e rápido. Embora a demanda ainda seja baixa, os grupos atuantes na saúde digital buscam melhorar a comunicação entre gestores e usuários, fortalecer o diagnóstico e identificar as exigências de cada região para poder amplificar a telessaúde e disponibilizar a ferramenta mesmo em áreas de pobreza e vulnerabilidade.
“Precisamos ampliar a nossa capacidade de resposta, promovendo uma transferência de conhecimentos e tecnologias, focando para que essa rede englobe o Brasil inteiro. Nossas metas para 2021 e 2022 envolvem coordenar o tabelamento de ações em saúde digital e telessaúde no SUS, visando uma abertura de mercado para profissionais e investindo em capacitação técnica e infraestrutura. Temos o objetivo de implementar a saúde digital em municípios com IDH baixo e assim, caminhar para tornar o nosso País uma referência”, finalizou.
Análise de dados
Em seguida, o responsável pela apresentação sobre “A Gestão da Informação Estratégica para Tomada de Decisão no Âmbito de Políticas Públicas” foi Luiz Júpiter, coordenador de dados abertos e análise prospectiva em Saúde no Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS (Demas), do Ministério da Saúde.
Júpiter explicou que as políticas públicas correspondem a um universo complexo, que visa levar saúde de forma efetiva para toda a população. No entanto, por conta de uma série de demandas, como envelhecimento da população e pré-diagnósticos que os próprios pacientes fazem antes das consultas, o exercício se torna cada vez mais desafiador, à medida que barreiras vão sendo vencidas, ainda mais em um País tão grande como o Brasil.
“A gente tem um desafio muito grande na limitação de acidentes e doenças de trabalho, de oferecer melhores condições, porque nosso recurso é limitado. Por isso, procuramos abordar novas formas de fornecer melhores cuidados. Outro desafio é em relação à enorme quantidade de informações geradas dentro da Saúde, que precisam estar disponíveis de maneira segura, acessível e em tempo hábil.”
O palestrante evidenciou que esta grande quantidade de dados pode trazer prejuízos econômicos caso não tenha uma relação transparente com a população geral e com os investidores em Saúde. Além disso, ele indicou que trabalhar diretamente com tantas informações pode trazer consequências aos profissionais que atuam diretamente na área, como a síndrome de burnout.
Para transformar os recursos em atuações mais acessíveis, é necessária a valorização dos profissionais da Saúde, disponibilizando ferramentas ágeis para eles, de modo que seja possível continuar fazendo uma transferência de dados e de substituição de rede, de modo que haja melhora no diagnóstico e se criem protocolos mais próximos à saúde pública.
“Para onde essas informações estão indo? A gente tem condições de trabalhar outras informações para poder melhorar o diagnóstico. Como pesquisadores, temos que fazer melhor uso desses dados para ter mais resultados positivos. O gestor, junto com a sociedade, tem condições de criar uma política para que possamos ser cada vez mais sustentáveis”, demonstrou.
Ele explicou ainda que o objetivo do Demas é implementar políticas públicas que viabilizem a entrega de um serviço de Saúde de qualidade, por meio de uma atuação articulada dentro do Ministério. “É apenas com uma estruturação bem pensada que as informações passam a ter maior qualidade. Na nossa área, é preciso ter mais integração de técnicos para fazer políticas públicas e realizar investimentos diretamente atrelados à tecnologia e à coleta de dados de pacientes, como é o caso da Telemedicina”, concluiu.
Estratégias e investimentos
Finalizando as apresentações referentes ao painel, esteve Juliana Souza-Zinader, coordenadora-geral de Inovação em Sistemas Digitais no Datasus. Ela falou sobre o tema “A Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028: da Visão ao Plano de Ação, Monitoramento e Avaliação”.
Juliana evidenciou que a estratégia para amplificar a saúde digital no Brasil se baseava, inicialmente, nas metodologias propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A partir daí, foi possível criar um documento que apresentava uma visão sobre ações do que deveria ser feito em um plano de monitoramento e inovação. Este foi atrelado ao programa de governo atual e recebeu o nome de Conecte Sus.
Sendo assim, surgiu a necessidade de aprimorar a prática de telessaúde e obter uma visão a longo prazo do que a técnica significa. “A nossa visão da estratégia é focada no tão sonhado acesso à informação de saúde, em diversos níveis de atenção. A rede nacional de dados de saúde visa convergir com estratégias antigas e novas, informatizando níveis de atenção, liderança, informatização, suporte, melhoria da atenção à saúde e inovação”, esclareceu.
Dentro do Conecte SUS, existem ainda outros projetos pensados de forma estratégica para promover a criação de prontuários únicos de saúde, se identificando como uma forma de levar informações aos serviços e padronizar a digitalização da telessaúde.
A estratégia, inicialmente, havia sido programada para iniciar apenas em Alagoas, mas por conta da pandemia de coronavírus, a ideia se propagou por todo o Brasil, alcançando nível nacional, possibilitando a análise de casos de Covid-19 por meio das trocas de informações por meio da tecnologia.
“Em linhas gerais, destaco toda a parte de segurança e rapidez. Os benefícios são diversos, pois melhoram o atendimento, o acompanhamento do paciente é mais efetivo, há uma eficiência na gestão do público e traz inovação em Saúde. A gente tem várias informações já previstas para prover essa continuidade e desenvolver ainda mais esse sistema”, encerrou.