Especialistas debatem sobre obesidade em webinar da APM

Os palestrantes mostraram dados sobre o cenário global e nacional, e também apresentaram os desafios no tratamento

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Na quarta-feira, 22 de maio, a Associação Paulista de Medicina realizou mais um dos seus tradicionais webinars, com o tema “Obesidade e emagrecimento”. O encontro foi apresentado pelo presidente da APM, Antonio José Gonçalves, e moderado pelos diretores científicos da entidade, Paulo Manuel Pêgo Fernandes e Marianne Yumi Nakai.

Para ministrar as palestras, foram convidados Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), e Denis Pajecki, membro da diretoria de Cirurgia Bariátrica da ABESO.

Cenário

De acordo com Denis Pajecki, atualmente o planeta vive uma epidemia de obesidade crescente. Dados da revista The Lancet (periódico científico britânico), apresentados por ele na apresentação, apontam que, no mundo, um bilhão de pessoas estão obesas. O estudo apresentou ainda que, entre 1990 e 2022, a taxa de obesidade mais que dobrou entre mulheres (de 8,8% para 18,5%) e quase triplicou entre homens (de 4,8% para 14,0%).

O profissional salientou ainda que, no Brasil, o número estimado de pessoas com obesidade é de 50 milhões, representando mais de 26,8% da população. Com relação ao sexo biológico dos indivíduos, mulheres possuem leve predominância, com 20,7% dos casos, enquanto homens aparecem com 18,7%. Outro fator apontado pelo especialista foi relacionado à população de baixa renda e menor escolaridade, que está crescendo em taxas de obesidade.

“Aproximadamente 10% desses indivíduos têm o que chamamos de obesidade grave. No Brasil, esse número representa aproximadamente cinco milhões de pessoas, sendo esses os candidatos a cirurgias bariátricas e metabólicas”, pontuou.

Segundo ele, o conceito de obesidade é medido a partir do índice de massa corporal (IMC), ou seja, o IMC acima de 30 é obesidade de primeiro grau, até 35 é considerada de segundo grau, e acima de 40, terceiro grau.

“Outro aspecto importante sobre perda de peso é que qualquer tratamento da obesidade apresenta resultados heterogêneos, nos quais há percentuais [de perda de peso] diferentes para cada paciente.” Sendo assim, elucidou que, tanto do ponto de vista genético quanto do ponto de vista ambiental e de hábitos de estilo de vida, fatores como atividade física, genética, grau de obesidade, composição corporal, transtornos alimentares e técnicas cirúrgicas podem influenciar.

Entraves

Segundo Bruno Halpern, em observações de dados populacionais, indivíduos obesos só possuem chances de voltar ao peso adequado quando têm o índice de massa corporal entre 30 e 35. Quando o IMC é acima de 40, uma em cada 125 mulheres consegue retornar ao peso de origem, ao passo que, para os homens, apenas um em cada 200 deles se recupera.

O especialista argumentou que mudanças de estilo de vida são fundamentais para o tratamento, porém, o acompanhamento de profissionais, como nutricionistas e psicólogos, é indispensável. “Tratamentos com um ano de duração mostram que a média de perda de peso em pessoas obesas, com essas estratégias bem-feitas, é em torno de dez quilos, muito além do que tanto os pacientes quanto os médicos esperam”, salientou.

De acordo com Halpern, os índices de sucesso dos métodos acabam sendo baixos não por conta da adesão das pessoas, mas sim, por causa do hipotálamo. O profissional assegurou que esta região do encéfalo afeta uma série de fatores do corpo, causando fome e sinalizando que o indivíduo está perdendo peso, consequentemente reduzindo o gasto energético e aumentando o apetite na tentativa de voltar ao peso original.

“O estigma do tratamento é muito forte. Evidências mostram que indivíduos que usam medicamento no tratamento para perda de peso com indicação médica representam ao redor de 1%; ou seja, a grande maioria não está tratando o problema. Em contrapartida, 36% das pessoas usam medicamento para ganhar peso”, complementou.

Fotos: Reprodução.