Recentemente, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, publicou um Boletim Epidemiológico sobre a situação epidemiológica da doença de Haff no Brasil em 2023. O documento sinaliza que a doença pode impactar a saúde pública, o desenvolvimento socioeconômico e os hábitos alimentares da população.
A doença de Haff, também conhecida como “doença da urina preta”, é uma síndrome rara que provoca um quadro de rabdomiólise, causando fraqueza e dor muscular, urina escura e sintomas gastrointestinais (náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia). Por possuir uma causa ainda desconhecida, o diagnóstico é baseado no critério clínico-epidemiológico da síndrome de rabdomiólise.
De acordo com a pasta, até 25 de dezembro do último ano, no País, foram registrados 137 casos da doença, apresentando uma redução de 9,9% e 44,8% no número de notificações de casos em comparação com o mesmo período dos anos de 2021 e 2022, respectivamente, com uma média anual de 179 casos no período. A partir do mapeamento, foi observado também um aumento no número de notificações no segundo semestre, com destaque para os meses de agosto e setembro.
Características e distribuição geográfica
Com relação ao perfil dos casos notificados em 2023, a maior parte ocorreu em indivíduos do sexo masculino (59,8%) e na faixa etária de 50 a 59 anos (25,0%), com mediana de idade de 49 anos. Entre os principais sinais e sintomas relatados neste recorte, os que apresentaram maior frequência foram dor muscular intensa (89,8%), fraqueza muscular (73,0%), dor cervical (59,1%) e urina escura (56,2%).
Considerando o ano passado, o levantamento apontou que foram registradas 97 internações e um óbito, sendo 59,5% dos internados do sexo masculino, com predominância nas faixas etárias de 50 a 59 anos (26,8%) e de 40 a 49 anos (18,5%). O período médio de internação foi de quatro dias, podendo variar de um a 26. Além disso, a população hospitalizada apresentou hipertensão arterial e diabetes como as comorbidades mais prevalentes, com 48,4% e 42,4%, respectivamente.
Como destaca o boletim, em relação à distribuição geográfica em 2023, quatro regiões notificaram ao menos um caso da doença, com exceção da Região Sul. As Regiões Norte (78,3%) e Nordeste (18,8%) apresentaram maior frequência de notificações, com maior número de ocorrências registradas nos estados do Amazonas (50%), do Pará (21,7%) e da Bahia (10,9%). Itacoatiara (AM), Santarém (PA) e Salvador (BA) foram as cidades com maiores índices.
Fator associado à doença
Por não possuir causa aparente, a doença de Haff é relacionada ao consumo de pescados nas 24 horas anteriores ao início dos sintomas. Entre os peixes associados, destacam-se os de água doce, como pacú (49,8%), tambaqui (25,1%) e pirapitinga (5,2%), e os de água salgada, como olho-de-boi (4,2%) e badejo (2,2%).
Quanto à origem desses pescados, 60% foram adquiridos em feiras livres, seguidos por 24% comprados diretamente de pescadores, 9% em peixarias e 7% em supermercados ou restaurantes.