Em continuidade aos webinars de 2022, a Associação Paulista de Medicina, em parceria com a Regional de Santos, realizou a quinta edição do ano do evento on-line na última quarta (6), sobre “Diabetes Mellitus 2 e Cirurgia Metabólica”, com palestras de Érico Heilbrun e Lucas Pedroso Fernandes Ferreira Leal.
A reunião virtual, transmitida no canal da APM no YouTube, trouxe dados recentes sobre a doença que atinge 19 milhões de brasileiros e alternativas cirúrgicas para o tratamento. O diabetes tipo 2 é causado por uma perda progressiva da secreção adequada de insulina, relacionada frequentemente ao contexto de resistência ao hormônio.
Doença fora de controle
“A Federação Internacional de Diabetes (IDF) traz um painel dizendo que a doença está fora de controle, causando incapacidades e mortes a cada cinco segundos”, informa Heilbrun, que é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes – Regional São Paulo. Ocorre, especificamente, na fase adulta. Na maioria das vezes, está relacionada à obesidade. Dados recente divulgados da IDF mostram que são 537 milhões de pessoas no mundo com diabetes, representando um aumento de 16% (74 milhões) desde as estimativas anteriores, de 2019.
“As projeções iniciadas em 2003 mostravam que em 2025 seríamos 333 milhões. Porém, nas projeções atuais, seremos 783 milhões de adultos com diabetes, em 2045. Até o ano passado, 1 em cada 10 adultos tinha diabetes, e tivemos 6,7 milhões de mortes. A estimativa para 2045 é de que 1 em cada 8 adultos terá diabetes. É realmente uma emergência global, está crescendo de forma assustadora”, alerta o especialista.
Destas 537 milhões de pessoas com diabetes, 19 milhões são brasileiros. Assim, o País é o sexto no mundo com o maior número de pessoas com diabetes. Segundo o vice-presidente da SBD/SP, estima-se que 46% desconhecem o diagnóstico e 62% têm, pelo menos, um fator de risco para o surgimento da doença. “Por um lado, temos pessoas desinformadas da própria patologia. Do outro, alguns colegas esquecem de fazer uma anamnese mais detalhada e não pedem exames para o diagnóstico, infelizmente”, acrescenta.
Érico Heilbrun informa ainda que no mundo todo, os investimentos no controle da doença chegarão a 1 trilhão de dólares em 2030. Segundo o levantamento da IDF, o Brasil é o terceiro País que mais destina recursos para isso. Só no ano passado, foram gastos aproximadamente R$ 43 bilhões de dólares com pacientes com diabetes tipo 2.
“Apesar desses dados, os pacientes não estão bem controlados. Muitos ainda têm uma hemoglobina glicada muito acima da média preconizada pelas principais associações. Só para se ter ideia, no Brasil, publicações recentes mostram que apenas 20% dos pacientes apresentam hemoglobina glicada abaixo de 7%.”
Fatores de risco e tratamento
Dados apontam uma série de fatores de risco para a doença: 85% dos pacientes estão acima do peso considerado saudável, 65% têm níveis elevados de LDL colesterol e 71% têm hipertensão arterial. Pacientes com diabetes mellitus tipo 2 ainda possuem risco duas vezes maior de desenvolverem doença cardiovascular.
Os principais mecanismos fisiopatológicos que contribuem para a progressão do diabetes estão relacionados ao estilo de vida sedentário, alimentação não saudável e obesidade. “A expectativa de vida de homens e mulheres com a doença também diminui para 60 anos. E com doença cardiovascular associada, diminui mais 15 anos. Então, o diabetes está matando realmente muita gente”, acrescenta o vice-presidente da SBD/SP.
Sobre o tratamento, o médico fala sobre a importância de individualização do paciente, levando sempre em consideração as prioridades, que variam entre o menos e o mais rigoroso. “O ideal seria controlar bem a glicemia, principalmente no início da doença, mas infelizmente não acontece no nosso meio. Muitos colegas prescrevem poucas drogas, com a ideia de proporcionar uma terapia mais leve. Acabam perdendo a oportunidade de proporcionar um futuro melhor aos nossos pacientes.”
O Programa de Prevenção do Diabetes (DPP), que é um grande ensaio clínico ou estudo de pesquisa, informa que somente a mudança no estilo de vida diminui em 58% a probabilidade de desenvolvimento ou agravamento de diabetes. “O estilo de vida associado à terapia comportamental com plano alimentar individualizado de calorias reduzidas é altamente eficaz na prevenção ou retardo do diabetes tipo 2 e na melhora de outros marcadores cardiometabólicos, como pressão arterial, lipídios e inflamação”, reitera o especialista.
Heilbrun acredita que o termo “diabesidade” deveria ser usado para indicar a correlação entre obesidade e diabetes tipo 2. Segundo ele, o acúmulo anormal ou excessivo de gordura no corpo afeta 40% da população e interliga múltiplas comorbidades. “A obesidade está associada a 80% dos casos de DM2 e é responsável pela maioria das doenças crônicas.”
Cirurgia Metabólica
Em seguida, o palestrante Lucas Leal, doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), falou sobre a cirurgia bariátrica, um tratamento considerado adequado para as pessoas com diabetes tipo 2 e obesidade que não atingem as metas terapêuticas adequadas, especialmente quando existem outras comorbidades importantes.
“A resistência à insulina é encontrada em 80% dos indivíduos com sobrepeso e obesidade, mas também de maneira significativa e preocupante naqueles que ainda permanecem na faixa da entropia. Assim, a cirurgia bariátrica trata não só a obesidade, mas uma série de comorbidades relacionadas ao excesso de peso corporal”, disse.
O especialista defende que em indivíduos com obesidade grave, tipo 2 e 3, o único tratamento capaz de levar a uma perda significativa e duradoura de peso – mantida a longo prazo, com redução da mortalidade e garantindo melhor qualidade de vida – é a cirurgia bariátrica. “A melhora terapêutica ou resolução das doenças associadas acontece em 70% a 100% dos pacientes.”
Entretanto, Leal pondera que a cirurgia deve ser considerada como opção de tratamento em pacientes com índice de massa corporal (IMC) entre 30 e 35, quando o diabetes não pode ser adequadamente controlado pelo regime médico ideal, especialmente na presença de outros fatores de risco para doenças cardiovasculares importantes.
A resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 2.172/2017 reconhece a cirurgia metabólica como terapia nessas condições. “Não é que queremos operar mais de um terço da população brasileira, correspondendo a mais de 30 milhões de pessoas. O nosso foco é no tratamento dos indivíduos com difícil controle clínico, mesmo com todos os esforços endocrinológicos”, finaliza.
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