Diante da Covid-19, doença altamente contagiosa que se alastrou pelo mundo, novos protocolos médicos foram estabelecidos como forma de evitar a disseminação do vírus e proteger a equipe de profissionais da Saúde. Em específico, essas mudanças significativas são observadas pelos que atuam nos casos de ressuscitação cardiopulmonar intra e extra-hospitalares.
Para apresentá-las, na última quarta-feira, 5 de agosto, o 11º Webinar da Associação Paulista de Medicina contou com aula do coordenador do Pronto-Socorro de Clínica Médica do Hospital São Paulo/Unifesp-EPM, Frederico José Neves Mancuso. O evento foi mediado pelo diretor Científico da APM, Álvaro Nagib Atallah, e teve a participação do presidente da Associação, José Luiz Gomes do Amaral, e debatedores convidados.
“A necessidade de se discutir esse tema surgiu através de pesquisas realizadas pelo nosso presidente José Luiz Gomes do Amaral com os médicos que atendem pacientes infectados por Covid-19. Em uma das conclusões, percebemos que há muitos profissionais que se sentem despreparados para atendê-los na urgência. Nesse sentido, a ideia desse encontro virtual é capacitar os colegas para que possam realizar uma melhor assistência àquela pessoa que está tendo uma parada cardiorrespiratória”, introduziu Atallah.
No início da apresentação, Mancuso reiterou que a contaminação com o novo coronavírus se dá, principalmente, por gotículas que podem chegar a quase dois metros quando alguém fala, tosse ou espirra; por isso, o distanciamento e uso de máscara são formas preventivas adotadas atualmente. E alertou: os procedimentos médicos para a ressuscitação cardiopulmonar são grandes propiciadores de aerossóis (partículas suspensas no ar).
“Essas partículas podem ficar no ar, em geral, em torno de uma hora, às vezes mais tempo, e contaminar todo o ambiente e qualquer pessoa, dentre aqueles procedimentos realizados de reanimação, intubação, ventilação e compreensões torácicas. Além disso, sabemos que toda parada cardiorrespiratória, intra ou extra-hospitalar, tende a atrair muitos profissionais e leigos, isso reduz o distanciamento social entre as pessoas com risco maior de contaminação”, alertou.
Ele reforçou que hoje, no ambiente hospitalar, todos os profissionais devem estar totalmente paramentados com equipamentos de proteção individual, independentemente se o paciente está ou não com Covid-19. Também são esperadas ações como limitar o número de pessoas para fazer o atendimento, iniciar as compressões torácicas com o monitoramento e procedimentos necessários e priorizar a intubação precoce sempre que tiver um médico experiente disponível.
No extra-hospitalar, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tem sido treinado para orientar a população sobre a suspeita do vírus, com perguntas ativas realizadas pela telefonista.
“A respiração boca a boca, que já estava em desuso, hoje, mesmo com os equipamentos de barreira, não deve ser feita na ressuscitação de adultos durante a pandemia. Nas crianças, um membro da família pode fazer esse procedimento”, explicou o especialista.
Durante a compreensão torácica, Mancuso recomendou jogar uma toalha sobre a boca e o nariz para evitar a disseminar os aerossóis, evitar ao máximo usar bolsa válvula máscara e nunca adiar a desfibrilação. “Para fazer reanimação no transporte, deixe as portas traseiras do veículo sempre abertas. No pré-hospitalar, use o filtro Hepa e cubra a boca do socorrido com uma máscara cirúrgica.”
Em relação ao cenário intra-hospitalar, Mancuso destacou: “Todos os pacientes que forem internados, os hospitais já devem estar programados para questioná-los sobre a autorização de diretivas avançadas, considerando a real necessidade de reanimação cardiovascular e o tempo de realização, para evitar procedimentos desnecessários”.
Aumento de morte cardíaca
Estudos apontam que, entre 2019 e 2020, houve um aumento de morte cardíaca, sobretudo, em ambiente extra-hospitalar. Mesmo com os sintomas, como dor no peito, muitas pessoas não procuram os serviços de saúde com receio de se contaminarem com a Covid-19. Campanhas já difundidas em alguns países alertam para prestarem atenção aos sinais e buscarem os serviços de saúde.
“É importante instruir os nossos pacientes a procurarem atendimento médico, quer seja virtual, quer seja presencial, para a realização potencial de emergência médica. A Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista fez uma campanha alertando sobre a proteção do novo coronavírus, sem esquecer dos sintomas do coração”, exemplificou Mancuso.
Pontos importantes
Ao final da exposição, o presidente da APM asseverou que, mesmo sem o diagnóstico positivo para o novo coronavírus, pacientes ou membros da equipe médica e de profissionais da Saúde podem transmitir a doença ou ser/estar contaminados. Nesse sentido, ele fez algumas considerações e sugestões, como a incorporação de um técnico para avaliar se o corpo clínico está devidamente equipado com proteção individual. “Qual a lição que vamos levar com a Covid-19 depois que tivermos a vacina? Como serão as reanimações pós-pandemia?”, questionou.
Também participaram do encontro o cardiologista Jairo Roberto Neubauer Ferreira e o especialista em Medicina de Emergência Ricardo Baladi Rufino Pereira. Eles reforçaram a importância de o socorrista – médico, fisioterapeuta, enfermeiro etc. – estarem devidamente equipados com os instrumentos de proteção. “É crucial a prevenção paramentada do profissional de saúde, além de obedecer aos critérios estabelecidos para não se contaminar”, disse Pereira.
“Sabemos da realidade complexa de uma sala de emergência e das paradas cardiorrespiratórias. Quem vivencia esse cenário sabe dos erros que podem acontecer. Mesmo com todos os protocolos praticados, de repente, o tubo se desconecta do respirador e há partículas contaminantes no ar. Mas se a equipe estiver totalmente paramentada, adequada para prestar aquele atendimento, os eventuais erros serão minimizados”, completou Ferreira.
Além disso, ele falou sobre a sistematização necessária de todos processos de ressuscitação cardiopulmonar. “Ficamos preocupados com detalhes e drogas e esquecemos da compressão efetiva e adequada do tórax para gerar bombeamento sanguíneo e até mesmo o controle do ritmo correto”, finalizou o cardiologista.
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