A Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) promoveu, na última quarta-feira (14), a edição de agosto da tradicional Tertúlia Acadêmica, sediada na Associação Paulista de Medicina. O evento abordou o tema “Cirurgia no idoso”, com palestra ministrada pelo médico Gaspar de Jesus Lopes Filho.
Helio Begliomini, presidente da AMSP, abriu o evento apresentando o conferencista. “Hoje, contaremos com a palestra de Gaspar de Jesus Lopes Filho, graduado pela Escola Paulista de Medicina, instituição na qual desenvolveu toda a sua carreira universitária e chegou à condição de professor titular da disciplina de Gastroenterologia Cirúrgica. Além disso, já atuou como delegado da APM e atualmente é membro titular da 14ª cadeira da AMSP.”
Conceitos iniciais
Lopes Filho iniciou sua apresentação explicando que são classificados como idosos os indivíduos acima de 65 anos – conforme estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1984. De acordo com ele, definir essa faixa etária é complexo e há países que consideram idosas as pessoas maiores de 60 anos.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), exibidos no evento, o número de idosos aumentou 5,1%, passando de 2,1 milhões em 1950 para 14,1 milhões em 2001. A estimativa é que em 2025 a população brasileira tenha 31,8 milhões de idosos, um aumento de 11% comparado à década de 50.
“Ao longo das últimas décadas, a pirâmide ficou invertida, de modo que haverá mais pessoas longevas do que recém-nascidas. Em 1950, a expectativa de vida da população era 45,3 anos; o último levantamento, realizado em 2022, mostrou que a expectativa é de 75,5 anos. Este é um reflexo da evolução da Medicina e da Ciência”, pontuou o especialista.
O palestrante enfatizou, também, que o crescimento da comunidade traz algumas consequências e requer adaptações por parte de toda a sociedade, ressaltando a importância do envelhecimento ativo. “Autonomia, independência e protagonismo na hora de tomar as próprias decisões são fundamentais para alcançar a longevidade com saúde.”
Cirurgia no idoso
Gaspar de Jesus Lopes Filho ressaltou que estudos apontam que pessoas entre 65 e 69 anos foram as principais vítimas de danos associados a procedimentos médicos, sendo a terceira principal causa de morte nos Estados Unidos, atrás apenas das doenças cancerígenas e cardiopatas. “Danos em doentes internados são considerados evitáveis em 83% dos casos”, salientou.
Segundo ele, mesmo nas cirurgias de urgência ou emergência deve-se aproveitar o tempo disponível para melhorar as condições clínicas e levar o doente para o ato operatório em uma situação mais favorável, com o intuito de evitar futuras complicações.
Conforme a apresentação, nos cuidados pré-operatórios, os pacientes acima de 65 anos são classificados de acordo com o potencial de risco. Entre os critérios estão a avaliação do estado mental e função cognitiva, risco endocrinológico ou osteoarticular, além da fragilidade do corpo do idoso, visto que, diariamente, o paciente internado perde de 1% a 2% da massa muscular.
“Os cuidados operatórios devem ser cautelosos em todos os casos. Em pessoas idosas, esse cuidado deve ser dobrado”, alertou o profissional. De acordo com Lopes Filho, por conta dessa meticulosidade nas cirurgias realizadas em pessoas idosas, a Universidade de Yale (nos Estados Unidos) desenvolveu, em 1993, o programa Hospital Elder Life Program (HELP) – traduzido do inglês Programa Hospitalar de Vida para Idosos -, com o objetivo de apoiar as instituições hospitalares na qualificação do atendimento ao idoso hospitalizado.
A princípio, o programa citado foi utilizado para guiar as ações de prevenção de declínio funcional e delirium. Atualmente, está restrito a centros universitários e possui mais de 200 centros espalhados pelo mundo.
No pós-operatório, ele orienta que a recuperação anestésica deve ser feita com monitoramento de um anestesista, além da adoção de cuidados com relação à volemia, oxigenação e prescrição de medicamentos.
Por fim, Gaspar de Jesus Lopes Filho enfatizou que “embora o envelhecimento pareça ter uma influência negativa nos resultados das cirurgias, a maioria dos autores [de artigos científicos] concorda que a idade, por si só, não deve contraindicar um ato operatório”.
Fotos: Divulgação/AMSP