Segundo levantamento do Portal Escolas Médicas do Brasil, há – até o momento – 340 faculdades de Medicina em funcionamento no território nacional. Para contextualizar historicamente essa realidade, impacto e projeções, a tertúlia de novembro da Academia de Medicina de São Paulo recebeu o professor da Escola Paulista de Medicina/Unifesp Nildo Alves Batista, na sede da Associação Paulista de Medicina, no último dia 13.
“Somos um País que ocupa o segundo lugar em número de escolas médicas, só perdemos para a Índia, com 50 escolas a mais. No entanto, lá a população é seis vezes maior que a nossa, com 1 bilhão e 200 mil habitantes, enquanto temos 210 milhões. Até que ponto é melhor festejarmos ou nos preocuparmos com esse aumento?”, compara Batista.
Para entender melhor a situação, o acadêmico sintetizou historicamente o surgimento e o avanço das escolas brasileiras de Medicina. Com recorte, sobretudo, a partir da segunda metade do século XX, quando foram criadas 27 escolas médicas, entre os anos 1950 e 1960.
De 1967 a 1972, já havia 32 novas faculdades implantadas, sendo sete públicas e 25 privadas, chegando-se ao total de 72. “É nesse período que a lógica de mercado começa a emergir, com a concentração de instituições em regiões mais desenvolvidas, especificamente no Sudeste, com o aumento progressivo – obretudo – das privadas. Foi o primeiro momento de preocupação”, analisa.
À época, a Associação Médica Brasileira lança o documento “Problemática do Ensino Médico no Brasil”, que instigou o MEC a criar a Comissão do Ensino Médico, em 1971, e uma portaria interministerial cuja função determinava a suspensão de implantação de novas escolas médicas.
“Era um reconhecimento de que havia uma expansão desordenada, não compatível com a realidade do País, faltavam recursos didáticos para lidar com a qualidade do curso e corpo docente. Ao mesmo tempo, pressões políticas e econômicas identificavam o número de escolas aquém do necessário em comparação ao número de médicos e população total. Entretanto, a portaria não durou muito tempo”, explica o professor da EPM/Unifesp.
Nova expansão
Assim, a partir de 1987, a expansão voltou a acontecer. O Brasil adentra o século XXI com 104 escolas médicas. De 2000 a 2010, havia 74 novas escolas médicas. De 2010 a 2015, mais 71. E de 2015 a atualidade, mais 91. Somadas, as 340 faculdades de Medicina oferecem mais de 35 mil vagas em primeiro ano, sendo a projeção de mais de 200 mil estudantes cursando Medicina no Brasil.
“O que significa isso? Quantitativamente, temos um País grande com um número de escolas médicas que cresce significativamente. Qualitativamente, como é esse preparo do médico, da Medicina, do atendimento e da segurança do paciente? A arte médica nos demanda isso”, questiona o palestrante.
De acordo com o presidente da Academia de Medicina de São Paulo e da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral, ao longo dos anos, com o apogeu econômico do século passado, a carreira do médico brasileiro passou a ser valorizada. “Há uma pressão no imaginário de ascensão social, muito bem organizado pelo mercado da Educação. Nesse sentido, há uma abertura de cursos e do número de vagas economicamente interessante. É uma lógica bem articulada”, avalia.
Amaral ainda reforça que não é coerente ter o número de médicos em consonância com o número de habitantes, diante de como é organizada a estrutura do sistema público de saúde. “Quando formamos um profissional, queremos que ele exerça a atividade pública, mas como ele fará isso se não há um sistema consolidado, com equipes articuladas? Como impor metas diante desse desafio? É necessário pensar nessas questões de pressão econômica, mercado da educação, da ideologia política e do populismo, além da rigidez do sistema de Saúde”, conclui.
Texto: Keli Rocha
Fotos: Marina Bustos