Como parte da programação do Global Summit Telemedicine & Digital Health – evento da Associação Paulista de Medicina que acontece de 3 a 6 de abril no Transamerica Expo Center -, especialistas do setor se reuniram no último sábado (23) para trocar experiências sobre a oferta de serviços médicos a distância mediada por tecnologia. O GS Sprint – ideia de se debater o assunto em grupos menores – trouxe discussões sobre os eixos: ecossistema, empreendedorismo, mercado, regulamentação, negócios e investimentos.
“São temas extremamente importantes e atuais. Como médicos, precisamos conhecer, nos inteirar e participar desse processo tecnológico que vem contribuir para a nossa prática profissional. Por isso, esse encontro – em formato de entrevistas – objetiva ampliar esse diálogo entre todos nós”, explica o presidente do Conselho Curador do Global Summit, Jefferson Gomes Fernandes, mediador dos painéis.
Ao fazer a abertura dos trabalhos, Fernandes também destacou que a Telemedicina e a Saúde Digital visam amenizar a inflação nos cuidados à saúde, reduzir desperdícios e custos, além de possibilitar maior acesso aos serviços e resolubilidade efetiva. “Há muitas evidências e inúmeras publicações que mostram essa realidade”, afirma.
No Brasil, há 54 especialidades médicas e 57 áreas de atuação. Em todas elas, segundo o especialista, a Telemedicina é usada de alguma forma, seja em projetos, programas e serviços ou na promoção, prevenção, intervenção e no diagnóstico. “Somos os principais responsáveis pela saúde e pelos cuidados das pessoas. Temos de nos apropriar e liderar esse processo.”
Relação médica com o ecossistema Telemedicina e Saúde Digital
O diretor técnico médico da Omint, Marcos Roberto Loreto, ressaltou que – pelo dinamismo atual das relações comunicacionais e tecnológicas – a Telemedicina deve ser vista como uma ferramenta importante de auxílio para a prática médica. “Ela não substitui o médico de maneira alguma. E desde que seja feita com responsabilidade e ética, o resultado é fantástico; esse é o foco que temos de dar. É necessário que haja padronização e uma oportunidade a mais para o nosso exercício cotidiano. Ou seja, agrega muito, traz humanização e possibilita novas perspectivas para a nossa prática profissional”, destaca.
Em seguida, o gerente médico de Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein, Eduardo Cordioli, apresentou experiências realizadas pela unidade hospitalar, que evitou 98% de transferências desnecessárias, além de uma parceria com a prefeitura de São Paulo para Teledermatologia, que trouxe redução de uma fila de espera de mais 60 mil pacientes, tendo aprovação unânime dos médicos envolvidos. “É uma nova forma de integrar o cuidado em saúde, que busca acesso, equidade, qualidade e redução de custo, a saúde da população como um todo e a satisfação do profissional. É uma ferramenta a mais para o médico ampliar sua base de pacientes”, disse.
Ao abordar a avaliação do serviço em alguns países da Europa e da América do Norte, o diretor médico da Advance Medical no Brasil (Teladoc), Caio Soares, reitera que 98% dos pacientes avaliam de forma positiva o atendimento a distância, com destaque para regiões como Inglaterra, Estados Unidos, Portugal e Espanha. “A abrangência de Telemedicina em atenção primária é gigantesca, tanto em áreas remotas como as não remotas. Nesse sentido, defendo que tenhamos uma ferramenta adequada e segura para nos relacionarmos com os pacientes, dentro dos preceitos médicos de ética”, acrescenta.
Para fechar a primeira rodada de discussão, o diretor de Tecnologia de Informação da APM, Antonio Carlos Endrigo, falou das iniciativas recentes da Associação de provocar a discussão, como as reuniões sobre modificações da Resolução CFM nº 2.227/2018. “A Telemedicina pode e deve ajudar muito na evolução da prática médica, e nós – enquanto instituição – precisamos preparar os profissionais para esse movimento que está acontecendo, contribuindo inclusive para a melhoria da Resolução”, avalia Endrigo, que também é presidente da Comissão Organizadora do Global Summit.
O papel e as oportunidades para os médicos
No segundo painel do dia, os especialistas destacaram, sobretudo, a Resolução do CFM revogada no dia 22 de fevereiro, diante de inúmeras críticas das lideranças médicas do País. Até a elaboração de um novo documento, a normatização fica subordinada à regulamentação atualmente em vigor (número 1643/2002).
O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, ressaltou sobre as reuniões ocorridas na entidade com diretores, associados e representantes de sociedades de especialidades para sugerir modificações no texto. “Quando surgiu essa polêmica, nos vimos na obrigação – enquanto instituição médica – de nos manifestarmos. Mandamos um convite para todos os associados e abrimos um espaço para a participação presencial”, esclarece.
Ele se posiciona favorável à discussão do assunto, mesmo com a revogação. “Não podemos perder esse trabalho. E o Global Summit é mais uma oportunidade importante para esse debate. Toda a integração de tecnologias conectadas não tem a intenção de desumanizar as nossas relações com os pacientes, mas sim de nos aproximarmos e inteirarmos desse novo momento.”
O professor associado da FMUSP e chefe da Disciplina de Telemedicina, Chao Wen, que integrou a Câmara Técnica do CFM para a elaboração das diretrizes da nova resolução, ressalta que não há possibilidade de se subordinar a um parecer de 2002. “Neste ano, o celular mais vendido no mundo era um Nokia 1100. Hoje, em 2019, estamos às vésperas do 5G e do lançamento de um celular de tela dobrável. A realidade de outrora não serve mais para os dias atuais.”
Para ele, a Telemedicina também não deve ser vista como uma ferramenta, e sim como uma convergência da humanização e da tecnologia para a criação de uma cadeia produtiva de Saúde. “Com o uso de recursos interativos para possibilitar cuidados integrados e humanizar os atendimentos, aumentamos o acesso e a eficiência no sistema de saúde e a promoção e prevenção e doença. É a integração de método e raciocínio ampliado com recursos interativos para proporcionar uma Medicina mais eficiente”, conceitua.
Por fim, o diretor e investidor da Dalben Home Care, Rogério Rabelo, se declarou favorável à integração da sociedade em geral para a discussão. “Embora tenhamos a oportunidade de liderar esse projeto, precisamos ouvir os anseios dos pacientes, respeitando sempre as peculiaridades regionais”.
Fotos: Marina Bustos