AMSP: Sessão Saudade celebra memória de acadêmicos

O encontro virtual serviu para condecorar os acadêmicos que faleceram neste ano

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“A qualidade e o valor das instituições podem ser medidas pelos membros que as constituem. As academias têm o privilégio de reunir pessoas de imensas qualidades científicas, morais e humanas, e é absolutamente inevitável que, ao longo dos anos, tenhamos perdas irreparáveis nesses espaços. Os acadêmicos têm de ser lembrados. E felizes de nós por lembrarmos deles, em todas as ocasiões que nos apresentaram.”

Foi com essas palavras que José Luiz Gomes do Amaral abriu a “Sessão Saudade” da Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) nesta quarta-feira, 11 de novembro. O encontro virtual serviu para condecorar os acadêmicos que faleceram neste ano. “São colegas de especialidades, de Academia e de vida. Hoje, os amigos têm a emoção de recordar a memória de seus pares”, ressaltou o presidente da AMSP. Confira abaixo os homenageados.

Memórias

Cleide Enoir Petean Trindade, lembrada pela acadêmica Conceição Aparecida de Mattos Segre

Nasceu em Colina (SP), em 14 de fevereiro de 1937. Graduou-se em 1961, “onde e quando nossos caminhos se cruzaram pela primeira vez”, afirmou Segre. Completou sua formação profissional com residência em Pediatria, em 1963, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP). Em 1964, se classificou em primeira em concurso no Departamento de Pediatria da FMUSP, assumindo as funções de médica assistente do pronto-socorro de Pediatria e médica assistente do berçário do HC.

De 1964 a 1966, por concurso, pertenceu ao quadro de médicos do serviço de Pediatria do Hospital do Servidor Público Estadual (Iamspe). “Foi quando nossos laços de amizade se estreitaram”, lembrou Segre.

Em 1966, com seu marido José Carlos de Souza Trindade, iniciou a atividade clínica do curso de Medicina na recém-fundada Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu – que viria a ser Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) da Unesp, em 1977. Fez doutorado em Medicina pela FMB e em 1973 e pós-doutorado em 1987. Na instituição, foi considerada uma das pioneiras. Em 2008, após a aposentadoria, a faculdade concedeu-lhe o honroso título de Professora Emérita.

Em sua carreira universitária, participou do corpo editorial de revistas científicas nacionais e americanas, como o Neoreviews e American Academy of Pediatrics (versão eletrônica), além do Journal of Neonatal Biology da OMICS Publishing Group.

Na Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), a professora foi vice-presidente em três gestões, atuou no Departamento Científico de Neonatologia como membro e presidente, participou da Comissão de Ensino e Pesquisa, fez parte do corpo editorial da Diretoria de Publicações e contribuiu na organização científica de três edições do Congresso Paulista de Pediatria.

“Você, Cleide, é minha amiga, minha irmã, simplesmente o ser humano mais íntegro e puro que conheci. Estou certa que jamais irei conhecer uma pessoa tão linda por dentro e autêntica como você. A nossa amizade foi verdadeira e forte. Infelizmente você nos deixou em 7 de março de 2020, aos 83 anos. Perder alguém nunca é fácil, mas perder alguém tão especial como você, que deixou tantas lembranças queridas, é mais difícil ainda. Porém, pessoas especiais, que partem de nossas vidas, nunca nos deixam por completo porque jamais serão esquecidas. Pessoas especiais tornam-se imortais”, concluiu Segre.

No dia 7 de março de 2012, tomou posse como membro titular da Academia de Medicina de São Paulo, ocupando, como fundador, a cadeira nº 107.

Demerval Mattos Júnior, lembrado pelo acadêmico Hélio Begliomini

“A morte é triste e mal vinda, mesmo que seja esperada em virtude de doença incurável ou em consequência da inexorabilidade da senectude. Quando chega, inesperadamente, a pessoas com plena lucidez e vigor físico, torna-se intrusa companheira, para não dizer indesejável ladra. Foi exatamente assim que fomos tristemente surpreendidos, no dia 6 de fevereiro de 2020,  com a notícia do súbito falecimento do estimado amigo e antigo chefe Demerval Mattos Júnior, segundo diretor do Hospital de Neurologia do Hospital do Servidor Público Estadual (Iamspe), aos 81 anos”, introduz Begliomini.

Nasceu em 13 de março de 1939, na cidade de Garanhuns (PE). Graduou-se pela Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco, em 1967. Fez residência médica em Cirurgia, com especialização em Urologia no Hospital do Servidor Público Estadual, de 1968 a 1970. Nessa mesma instituição, tornou-se, por concurso, médico do serviço de Urologia, onde desempenhou a função de encarregado da enfermaria (1976-1989) e diretor (1989-2010).

Mattos teve grande atuação associativa, participando de inúmeros congressos, simpósios, jornadas e cursos, tanto no Brasil como no exterior. Em diversos desses eventos, atuou em mesas diretivas, como relator de mesas-redondas, apresentador de trabalhos em temas livres ou pôsteres e proferiu aulas, palestras e conferências. Ocupou a cadeira nº 109, como fundador, da AMSP.

Domingo Marcolino Braile, lembrado pelo acadêmico Paulo Manuel Pêgo Fernandes

Nasceu em Nova Aliança (SP), em 8 de abril de 1938. Ingressou na FMUSP em 1957.  No período de 1959 a 1962, fez parte da equipe que organizou a oficina experimental do Serviço de Cirurgia Cardíaca do professor Euryclides Zerbini, sendo também membro da equipe de experimentação de equipamentos e válvulas para cirurgia cardíaca do Departamento de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da FMUSP.

Foi nos anos de 1960 e 1961, quando assistente do serviço cirúrgico particular do professor Zerbini, que se interessou definitivamente por essa especialidade. Em 1991, fundou o “Instituto Domingo Braile”, que realizou de 1991 a 2007, sob sua responsabilidade e orientação, 6.340 operações com circulação extracorpórea; 650 operações sem extracorpórea; e implantes de 5.760 marca-passos.

Também em 1991, criou o Serviço de Cirurgia Cardíaca no Hospital de Base de São José do Rio Preto, onde foram realizadas 6.400 operações cardíacas até 2007. No total, pessoalmente ou sob sua orientação, foram realizadas mais de 30 mil operações cardiovasculares. Em toda sua carreira médica criou e auxiliou a implantação de 21 serviços médicos em diversos centros e hospitais, exercendo o cargo de chefia do serviço de cirurgia cardíaca e residência médica em sete deles, sendo preceptor de 220 residentes.

Ocupou a cadeira nº 48, como 2º ocupante, da AMSP. “O professor Braile foi uma pessoa extraordinária e tem uma trajetória que poucas pessoas no mundo têm. Eu tive a oportunidade, a honra e o prazer de conviver com doutor Braile, uma pessoa brilhante. Tinha uma relevância internacional absolutamente grande, o que o tornou único”, ressaltou Fernandes. Braile faleceu no dia 22 de março de 2020, aos 82 anos.

Durval Rosa Borges, lembrado pelo acadêmico Walter Manna Albertoni

Nasceu em 10 de março de 1943, em São Paulo (SP). No período de 1975 a 1983, paralelamente às atividades acadêmicas, colaborou com o pai Durval Sarmento da Rosa Borges na condução de laboratório clínico no Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

No período de 1969 a 1971, completou o programa de residência médica em Clínica Médica e Gastroenterologia, sendo aprovado nos exames do Educational Council for Foreign Medical Graduates dos Estados Unidos. Na Escola Paulista de Medicina (EPM), sequencialmente, obteve os títulos de doutor e os cargos de Professor Assistente e Professor Adjunto.

Realizou programa de pós-doutoramento no Departamento de Bioquímica da EPM e no National Institute for Medical Research, em Londres (Inglaterra). Obteve o título de Livre-Docente (1990) e o cargo de Professor Titular (1992) na EPM.  

Durval faleceu aos 77 anos, em 1º de maio de 2020. “Tive o privilégio de conviver com Durval por mais de 50 anos na EPM, compartilhei com ele a vida estudantil do centro acadêmico, estivemos juntos nas atividades docentes e em todas as ações políticas e administrativas na Universidade Federal de São Paulo. E nos últimos anos, nosso relacionamento se deu também na Academia de Medicina de São Paulo”, rememorou Albertoni. Ele ocupou a cadeira nº 8, como fundador, da AMSP.

Helga Maria Mazzarolo Cruz, lembrada pelo acadêmico Ivan de Melo Araújo

Nasceu em São Paulo, no dia 19 de outubro de 1929. Formou-se pela FMUSP em 1953. Fez residência em Clínica Médica no Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP em 1954 e 1955. Após a residência, recebeu o convite de permanecer na clínica, que já frequentava desde o terceiro ano médico, da qual se aposentou compulsoriamente, aos 70 anos.

Defendeu tese de doutoramento pela FMUSP em agosto de 1963, tendo sido aprovada com distinção, grau 10, recebendo o título de doutor em Medicina. Defendeu tese de docência-livre em Clínica Médica pela FMUSP em 1971.

Foi a primeira mulher Livre-Docente em Clínica Médica da instituição. Também foi responsável pela introdução do estudo das funções tubulares, criando na clínica médica um laboratório para dosagem dos componentes do equilíbrio acidobásico e, introduzindo no HC/FMUSP o estudo dos portadores das acidoses tubulares. Na qualidade de Livre-Docente tornou-se Professora Adjunta a partir de 1986, e Professora Associada a partir de 1988 da disciplina de Nefrologia.

Fundadora da cadeira nº 34, faleceu no dia 8 de janeiro deste ano. “Essa colega confreira tem um significado muito grande para mim porque fui residente na Clínica de Nefrologia do HC, onde Helga e Jenner Cruz eram expoentes. Coube-me a honra de saudá-la. Ela sempre quis ser médica, lembro-me muito bem ainda, como acanhado residente de Nefrologia, em 1964, a sua admiração incansável pela pesquisa, analisando incontáveis amostras de nossos pacientes. Isso construiu um maravilhoso trabalho de Helga no entendimento de acidificação urinária e da participação dos estudos renais gastrointestinais básicos”, relembrou Araújo.

José Evandro Andrade Prudente de Aquino, lembrado pelo acadêmico Florisval Meinão

Nasceu em 19 de junho de 1947, na cidade de Lorena (SP).  Graduou-se, em 1973, na Faculdade de Ciências Médicas da Santos (FCMS), exercendo a profissão desde essa época, em São Paulo e em Lorena. Na sua cidade natal, participou na organização e atendimento sob supervisão, em comunidades carentes. De 1974 a 1975, prestou serviços nas Forças Armadas como primeiro tenente médico otorrinolaringologista no Hospital Geral do Exército de São Paulo.

De 1975 a 1977, fez residência na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Durante esse período, foi aprovado na prova de título de especialista em Otorrinolaringologia pela Associação Médica Brasileira (AMB) e Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia (SBORL). De 1986 a 1989, fez mestrado em Otorrinolaringologia na EPM, onde também fez doutorado entre 1990 a 1993.

Ocupou a cadeira nº 88, como segundo ocupante. “É com profunda tristeza que presto homenagem ao ilustre acadêmico professor doutor José Evandro Andrade Prudente de Aquino, meu colega de especialidade, renomado laringologista, conhecido nacional e internacionalmente e que nos deixou muito cedo, ainda no auge de sua vida profissional. Foi enorme a sua contribuição no campo de conhecimento científico e no aprimoramento das técnicas cirúrgicas, também como professor universitário, na formação de novos médicos”, concluiu Meinão. Aquino faleceu no dia 19 de setembro deste ano, aos 73 anos.

Luiz Camano, lembrado pelo acadêmico Marcelo Zugaib

Nasceu em São Paulo, 21 de maio de 1932. Graduou-se pela EPM/Unifesp em 1956. Fez residência em Ginecologia e Obstetrícia na Casa Maternal da Legião Brasileira de Assistência (1956-1957). Dedicou-se à carreira universitária na Unifesp, obtendo o doutorado, em 1968, com a tese “Contribuição para o Estudo Histoquímico do Muco do Epitélio Vaginal da Rata no Ciclo Estrial, na Prenhez e na Pós-Parturição”.

Obteve a livre-docência, em 1973, e galgou a condição de Professor Titular de Obstetrícia em 1982, atuando nessa função por 20 anos. Exerceu na EPM/Unifesp, por diversas vezes, o cargo de chefe da disciplina de Obstetrícia e de chefe do Departamento de Tocoginecologia. Teve participação efetiva na formação de inúmeros docentes que, hoje, constituem uma escola obstétrica de primeira grandeza cenário nacional.

“Na sua profissão, não foi só um grande professor, um acadêmico invejável, mas um grande médico, um dos mais importantes na militância da Obstetrícia e Ginecologia na sociedade de São Paulo, um homem autêntico que falava as verdades àqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele. Para quem teve a oportunidade de conviver com ele sabe que não partiu, permanecerá eternamente em nosso coração. Eu converso com Camano todos os dias”, concluiu Zugaib. Ocupou a cadeira nº 44, como fundador, da AMSP. Camano faleceu em 11 de fevereiro, aos 88 anos.