Na noite da última quarta-feira, 13 de abril, a Associação Paulista de Medicina realizou mais uma edição de seu webinar, desta vez com debate do tema “Reprodução humana”, com palestras dos especialistas Renato Fraietta, Pedro Augusto Araújo Monteleone e Eduardo Leme Alves da Motta.
Com transmissão ao vivo no canal da APM no YouTube, o evento foi apresentado por José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, e moderado por Álvaro Atallah, diretor de Economia Médica e Saúde Baseada em Evidências da entidade.
Criopreservação de óvulos
Renato Fraietta, vice-chefe da Disciplina de Urologia da Escola Paulista de Medicina e coordenador do setor integrado de reprodução humana da Universidade Federal de São Paulo, foi o primeiro palestrante. Focado em ilustrar situações reais, casos comuns e pessoas que podem se beneficiar do congelamento de óvulos, o especialista apresentou diversos casos clínicos e as principais técnicas indicadas aos diferentes tipos de pacientes.
Ao iniciar sua exposição, o médico destacou que o tema é de extrema importância, pois ao longo dos anos, as sociedades mudam e, hoje, há panoramas diferentes que contribuem com a infertilidade feminina, devido ao desejo das mulheres de engravidar mais tarde.
O primeiro caso clínico apresentado descreve uma mulher de 26 anos, que recentemente recebeu o diagnóstico de câncer de mama, localmente avançado e invasivo. Neste caso, foi realizada a estimulação ovariana, com protocolos de segurança devido ao câncer, sendo possível congelar 12 oócitos criopreservados.
“Sobre os beneficiários da criopreservação de oócitos, em estudos de casos clínicos, analisamos que mulheres com diagnóstico de câncer de mama devem ter indicação de congelamento dos óvulos. Mesmo após a cura, podem sofrer com o prejuízo da diminuição da fertilidade, por isso a indicação é realizada antes da quimioterapia”, destacou.
Fraietta também explicou que, segundo a Resolução CFM 2.294/2021, fica restrito o número total de embriões gerados em laboratório, não podendo exceder oito. A informação deve ser comunicada aos pacientes para que decidam quantos embriões serão transferidos a fresco – o que ocorre quando os embriões são formados durante o ciclo de estimulação e transferidos para o útero logo depois do seu processo de “formação”, que pode ocorrer de três a cinco dias após a fertilização, conforme determina a resolução.
“Resumindo, as indicações de congelamento de óvulos são oncológicas, não oncológicas (clínicas e sociais), em decorrência de tratamento de fertilização in vitro e em homens trans. Os requisitos para o congelamento de oócitos são simples: a partir da puberdade, com função ovariana e sem a necessidade da utilização dos oócitos criopreservados”, ressaltou.
Outro caso apresentado pelo palestrante foi o de uma paciente de 39 anos que procurou serviços de fertilização por preocupação com a idade. Também foi recomendada estimulação ovariana, podendo ser captados 10 oócitos criopreservados com duas estimulações. “É extremamente importante divulgarmos e difundirmos informações a todos, desde o público leigo até as diferentes classes médicas, sobre todo o processo de fertilização e custo de manutenção”, concluiu.
Congelamento em longo prazo
Dando continuidade às apresentações, Pedro Augusto Araújo Monteleone – coordenador técnico do Centro de Reprodução Mario Covas e do departamento de Ginecologia do Hospital das Clínicas/FMUSP – abordou o prognóstico da utilização de oócitos congelados em longo prazo.
“A criopreservação de oócitos é uma opção viável de preservação da fertilidade para sobreviventes de câncer em idade reprodutiva. Infelizmente, este tipo de tratamento ainda está longe dos serviços públicos. Apesar da redução de seu valor agregado, o tratamento público ainda é algo muito caro”, explicou.
Em 2013, a Sociedade Americana de Reprodução Assistida lançou uma nota técnica considerando a preservação de óvulos como uma tecnologia para ser ofertada livremente à população, não mais como algo experimental. “Inicialmente o tratamento era recomendado de forma terapêutica, para pessoas que possuíam alguma doença ou tratamento. Depois, partimos para o âmbito social, tentando prevenir a queda da fertilização da mulher em idade avançada e até mesmo a criação de bancos para doação de óvulos e, por fim, a atenção é voltada para casais que queriam engravidar pelo sistema de congelamento”, comentou.
Em relação ao caráter social, o palestrante salientou que o aumento da procura é avassalador. No Reino Unido, por exemplo, a idade média de mulheres que buscam tratamento de infertilidade está na faixa de 38 anos – idade não recomendada, mas ainda com um bom desempenho no tratamento. No país, a taxa de nascidos vivos é de 38%, dependendo da idade do congelamento dos óvulos, e as taxas de sucesso variam muito de acordo com a amostra que é apresentada.
O especialista ressaltou que ainda são necessários mais estudos sobre gravidez com oócitos de doadoras criopreservados, ainda que as taxas de sucesso pareçam tranquilizadoras, devido ao tempo curto entre o surgimento da técnica e seu uso clínico. “Os benefícios das situações clínicas e sociais são evidentes, o que muito se deve a uma técnica eficiente, segura e que abre novas possibilidades em se tratando de banco de óvulos congelados para programas de doação.”
Pesquisas
Finalizando as palestras, Eduardo Leme Alves da Motta, mestre e doutor pela Escola Paulista de Medicina, ficou responsável por explicar sobre fertilidade e infertilidade. “Todo o nosso conhecimento vem de pesquisas e, obviamente, se baseia em questionamentos. Adiar a maternidade é um fato universal, a maioria das pacientes tem a primeira maternidade por volta de seus 30, 32 anos.”
O palestrante contou que entre 70% e 83% apontam que a motivação está relacionada ao conhecimento da queda da fertilidade e tempo “passando”, sendo a imensa maioria composta por mulheres solteiras com desejo familiar formal. Além disso, cada vez mais tem aumentado a procura por reprodução assistida, conjunto de técnicas baseado em inseminação artificial e fertilização in vitro.
Estudos também apontam que 58% a 59% das mulheres aceitam passar pelo processo independente de múltiplas aplicações em conjunto com procedimento cirúrgico. Entre os principais desafios enfrentados estão os custos. Motta ainda ressaltou que as mulheres que não tiveram a oportunidade de congelar os óvulos, de certa forma, sentem-se injustiçadas, alegando que não receberam informações concretas sobre o procedimento de seus respectivos médicos.
“O congelamento é uma tática, eventualmente, para meninas mais jovens, devido à atividade dos ovários sofrer exponencial perda na sua eficiência ao longo da vida da mulher. Se a postura das mulheres se mantiver, adiando a maternidade para além dos 30-35 anos, teremos a necessidade de “virtualmente tratar” a doação de óvulos, e cabe ao ginecologista assumir esta atividade”, finalizou.
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