Nos dias 3 e 4 de outubro, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Bauru organizou o III Congresso Regional Interdisciplinar, abordando o tema “Onde Justiça e Saúde se Encontram”. O diretor de Comunicações da Associação Paulista de Medicina, Marcos Cabello dos Santos, participou como palestrante no painel “Violência Obstétrica – Muito Além do Que se Imagina”.
Além de Cabello, participaram a promotora de Justiça Fabiana Dal’Mas, autora de um livro sobre violência obstétrica, e a ginecologista Mariane Nunes de Nadai.
Fabiana Dal’Mas abriu o debate destacando como a violência obstétrica reflete uma sociedade ainda marcada pelo sexismo e racismo. “O Brasil é o País que mais mata mulheres no mundo”, pontuou.
Ela explicou que o problema vai além da prática médica, envolvendo questões mais amplas da justiça e da sociedade. Fabiana ressaltou a importância do diálogo para construir uma sociedade menos violenta para as mulheres. “Costumo dizer que o machismo mata as mulheres, mas também mata os homens”, afirmou, enfatizando o impacto do machismo em várias esferas da vida.
Marcos Cabello, por sua vez, falou sobre a importância de uma abordagem mais humana no cuidado com as gestantes e parabenizou a promotora por suas observações. Para ele, o diálogo é fundamental para entender as causas da violência obstétrica e buscar soluções.
“Um médico não vale mais do que vale como ser humano”, disse, citando uma lição de sua formação. Ele destacou que a ignorância é a raiz de muitas formas de violência, inclusive a obstétrica, e que a educação e a compreensão são essenciais para combater esse problema. “A violência começa no pré-natal”, pontuou, lamentando que práticas violentas ainda sejam comuns na atenção às gestantes.
Mariane Nunes de Nadai trouxe uma experiência pessoal ao debate, relatando um episódio de discriminação de gênero na Universidade de São Paulo (USP) que vivenciou durante sua formação, subestimada por um professor devido ao seu gênero. A ginecologista contou que usou essa experiência como motivação para se tornar uma professora e médica dedicada à defesa dos direitos das mulheres.
Ela defendeu o uso do termo “violência obstétrica”, afirmando que o incômodo causado pela expressão é necessário para provocar reflexão e ação. “Só quem já vivenciou uma violência obstétrica sabe o peso dessa frase”, declarou, contando que também já foi vítima.
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