O último dia do XIII Congresso Paulista de Neurologia começou com as quatro derradeiras conferências do evento. Lídia Moura, professora assistente de Neurologia na Universidade de Harvard e neurologista no Massachusetts General Hospital, conduziu a primeira, falando sobre os “Cuidados em Neurologia Baseados em Valor”.
A partir de dois personagens de classes sociais distintas, ela apresentou a discrepância das jornadas entre ricos e pobres na busca de atendimento em Saúde. “Pessoas de baixo nível econômico morrem nas filas. Enquanto as de alto nível recebem até mais procedimentos do que deveriam”, comentou.
Essa introdução serviu para que a palestrante mencionasse um pouco sobre a estrutura de um hospital baseado em valor. “Qualquer um dos dois, em uma instituição preocupada com isso, seria encaminhado a um médico treinado para ver exatamente qual nível de atendimento precisa.”
Segundo Lídia, quando a unidade trabalha tendo o valor como eixo principal, ela possui um time de primary care, que mantém contato com todas as equipes de cuidado primário, secundário e terciário. Nesse modelo, um paciente não marca consulta com vários subespecialistas, mas um especialista único o direciona àquilo que julgar necessário.
“Os três pilares do cuidado devem ser: ter dados que você pode utilizar; utilizar os dados adequadamente para gerar fortes evidências; e utilizar as evidências para proporcionar cuidado baseado em valor e colaboração. Quando os pilares funcionam em conjunto, nós podemos mudar a cultura de atendimento”, completou.
A Conferência 2 foi sobre “Terapia Gênica em AME”, com condução de Charlotte Sumner, professora de Neurologia da Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos). Uma das áreas em que focou foi a pesquisa dos efeitos nos humanos das terapias genéticas.
Segundo a especialista, ainda há diversas respostas a serem encontradas referentes a itens como distribuição de tecido, mecanismos de captação celular, engajamento, durabilidade, compensações moleculares e toxicidades a longo prazo.
“Temos que continuar trabalhando para entender como as drogas funcionam. Estamos sofrendo para explicar para as famílias as escolhas que acompanham essas terapias, por conta do desconhecimento dessas informações. Mas, entre todas essas drogas, está claro que elas vão melhor quando aplicadas com antecedência”, argumentou.
Já a terceira apresentação internacional foi da belga Aurore Thibaut, co-diretora do Coma Science Group, que conduz pesquisas sobre desordens de consciência. O tema foi “Coma: Is my patient really in a vegetative state?”.
A especialista começou lembrando que, comumente, para diagnosticar pacientes com desordens de consciência, se utiliza a escala JFK. “É muito importante utilizar uma escala sensitiva, pois evita uma chance considerável de diagnósticos errados. Um estudo com 126 pessoas com desordens havia apresentado 51 pessoas em ‘estado vegetativo’. Quando aplicada a escala, foi visto que 18 destes tinham consciência. Ou seja, sem essa escala, há chance de 30% a 40% de erros.”
A seguir, ela listou quais são os principais signos de consciência que podem estar presentes nesses pacientes: reprodução de movimentos em resposta a comandos (ocorre em 35% das vezes); fixação (27%); perseguição visual (20%); localização para estimulação nociva (11%); e resposta motora automática (4%).
“Há vários outros comportamentos, mas em menor escala. Esses primeiros cinco itens correspondem a 99% dos casos. Então, se não puder aplicar uma escala de sensibilidade, pelo menos se atente a esses”, recomendou.
O uruguaio-estadunidense José Biller, neurocirurgião e professor no Centro Médico da Universidade de Loyola (Estados Unidos), foi o responsável pela quarta conferência, cujo tema foi “Vascular Malformations of the Spinal Cord”.
Em abordagem técnica, ele falou, por exemplo, sobre a malformação epidural vascular. “Elas são mais comuns como parte de uma síndrome metamérica. E podem apresentar shunts arteriovenosos únicos ou nidus de malformações arteriovenosas localizadas no espaço epidural. Nesses casos, o suprimento arterial geralmente é por artéria lombar ou intercostal.”
Sobre as malformações cavernosas, Biller afirmou que a condição afeta de 0,4% a 0,5% da população, com caráter que pode ser esporádico (ela é única em 75% dos casos) ou familiar – assim, sendo múltipla. “Nesse caso, ela tem ligação com três loci genéticos: o CCM1 (cromossomo 7q), CCM2 (cromossomo 7p) e CCM3 (cromossomo 3q)”, adicionou.