Para uma vida mais saudável, os cuidados devem começar na infância. As dicas para uma alimentação mais equilibrada são, de acordo com os especialistas, as mesmas em qualquer faixa etária. Mas, no caso das crianças, esse cuidado deve ser redobrado. Afinal, nessa fase o organismo ainda está se desenvolvendo e a dieta deve ter os nutrientes necessários para o crescimento.
O segredo é uma dieta variada e rica em alimentos in natura. “A base da vida toda, desde o nascimento até a fase adulta, é uma dieta equilibrada, com todos os grupos alimentares. Não pode restringir, a não ser que a criança seja alérgica”, alerta a pediatra e nutróloga Virginia Weffort, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
“Outro grande problema é a criança passar a preferir a comida mais docinha e rica em gordura e não desenvolver o paladar para o azedo e o amargo, por exemplo. É muito difícil introduzir esses sabores depois, na adolescência”, diz a nutricionista Ariana Fernandes, membro do Departamento de Obesidade Infantil da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
A obesidade infantil é mais uma preocupação apontada pelos especialistas. O problema pode ter repercussões para a vida inteira. Uma criança com obesidade tem quatro vezes mais possibilidade de ter diabete tipo 2 até os 25 anos. Esse quadro também é fator de risco para doenças respiratórias, colesterol alto e hipertensão.
De acordo com o Atlas da Obesidade Infantil no Brasil, do Ministério da Saúde, três em cada dez crianças com idades entre 5 e 9 anos estão com excesso de peso. O levantamento também aponta que 68% delas têm o hábito de consumir ultraprocessados, pobres em nutrientes e ricos em açúcar, sódio e gorduras.
Esses alimentos não são proibidos, mas devem ser evitados.
Segundo Rubens Feferbaum, pediatra e presidente do Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), o consumo passa a ser um problema apenas se fazem parte da rotina da criança. A posição de Virginia é a mesma: “Pode comer fast-food e pizza às vezes, mas tudo deve estar equilibrado”.
Listamos a seguir os principais alimentos a ser evitados:
Sucos industrializados
O açúcar de adição é aquele acrescentado ao alimento durante o processamento, e está presente principalmente em bebidas como sucos prontos. O excesso de açúcar predispõe à obesidade e diabete, além de problemas mais imediatos como cáries. Até mesmo o suco natural não deve ser consumido sem limite “porque contém uma quantidade grande de açúcar da fruta, o que também leva à obesidade”, explica a pediatra. Virginia aconselha dar preferência à fruta em si, para a criança consumir as vitaminas junto com a fibra.
Refrigerantes
Assim como os sucos industrializados, os refrigerantes não possuem vitaminas e contêm açúcar demais. “Mesmo os diet ou light têm edulcorantes (adoçantes) que vão para o fígado para serem metabolizados e podem aumentar a gordura do fígado. E os que consomem muito refrigerante diet ou light geralmente são obesos, que já têm acúmulo de gordura no fígado”, alerta Virginia.
Beber muito refrigerante também altera o paladar porque a preferência da criança tende a ser pelo sabor adocicado. “Quanto tomar um suco, vai achar que é amargo, azedo. O efeito direto do refrigerante é não consumir o que é mais indicado: a fruta in natura.”
Café demais
Pela manhã, a nutricionista Ariana diz que é melhor tomar café com leite do que usar achocolatado, por conta do açúcar. É importante sempre levar em conta a quantidade, já que ele pode irritar o estômago.
“O café, para algumas crianças, é muito excitante e deve ser evitado. Até os 5 anos, não há necessidade de tomar café. Depois disso, pode ser leite com café, mas um pingo no leite”, reforça Virginia.
Chocolate branco
Quando o assunto é chocolate, os especialistas recomendam oferecer o amargo. “O branco quase não tem cacau, é mais manteiga de cacau, mais gordura do que o cacau”, explica Ariana. De acordo com Virginia, se acostumada desde pequena, a criança vai gostar do chocolate amargo. “Tudo é paladar. Se você ensina outros sabores, ela aprende. E o chocolate amargo é o mais saudável. O ideal é 70% de cacau. Deve-se evitar o branco e o ao leite, que têm muito açúcar.”
Embutidos e gorduras
Em excesso, a gordura saturada aumenta os níveis de colesterol e o risco de doenças cardiovasculares e obesidade. “Os embutidos, como salame e mortadela, devem ser evitados porque têm muito sódio para conservar o produto, além de muita gordura saturada”, ensina Virginia. Como substituição aos embutidos em recheios, Ariana indica queijos, atum e frango desfiado.
Bolacha recheada
“É muito rica em açúcares e gorduras, e a bolacha recheada não traz saciedade nenhuma para a criança”, conta Ariana. Por isso, ela acaba comendo uma grande quantidade do alimento, o que favorece o desenvolvimento de obesidade, segundo a nutricionista.
Salgadinhos de pacote
Segundo Virginia, o sal em excesso aumenta a predisposição à obesidade, ao colesterol alto e à hipertensão. “As crianças devem evitar salgadinhos de pacote. Têm gordura, sal e não têm vitaminas”, orienta a pediatra. Uma boa substituição, segundo Ariana, é a pipoca, feita em casa, com pouco óleo – não a de micro-ondas.
Macarrão instantâneo
Frequentemente usado pela praticidade, deve ser evitado pelas famílias. “O macarrão instantâneo contém sódio demais e é nutricionalmente muito pobre”, alerta Ariana. De acordo com ela, uma boa substituição é o macarrão tipo cabelo de anjo, que também cozinha rápido e não tem aditivos químicos, sal e gordura.
Fonte: O Estado de S.Paulo / Lavínia Kaucz