Sistema Inglês de saúde emite alerta: maioria dos profissionais de saúde ainda não tomou vacina contra gripe e Covid antes do inverno 

Por Carmino de Souza*

O que diz a mídia

Este texto é um importante alerta que pode ser transportado a nossa realidade, foi escrito pela Dra. Sofia Lind (1)  no sentido de alertar a toda a comunidade de saúde a respeito dos riscos de enfrentar o inverno que se avizinhava no hemisfério norte sem que os profissionais de saúde estivessem vacinados contra a Influenza e Covid-19. Infelizmente, todos os anos, sem exceção, a morbidade e principalmente a mortalidade por estas entidades, mesmo após o final da pandemia da Covid-19, tem sido muito elevada e precisa ser alertado sobre a importância das vacinas nos grupos mais vulneráveis ou expostos (caso dos profissionais de saúde).

Assim, a Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido (UKSHA) pediu aos profissionais de saúde que se apresentem para tomar a vacina contra a gripe e o reforço contra a Covid, em meio à adesão “muito menor que o esperado ou desejado”. No total, apenas 24% dos trabalhadores do NHS (National Health System) do Reino Unido receberam a vacina contra a gripe e 14% receberam a vacina contra a Covid. Os clínicos gerais tiveram uma adesão um pouco maior do que outros profissionais de saúde, mas ainda assim foi de apenas 42% para gripe e 23% para Covid, números estes muitos baixos. A maior adesão ocorre no sudoeste da Inglaterra, e isto não foi explicado porquê.

A possível explicação está na hipótese de que os profissionais de saúde na Inglaterra ficaram confusos com a omissão da elegibilidade dos médicos e da equipe da linha de frente para as vacinas de reforço da Covid no outono, sendo assim, com a antecedência necessária e desejável. O Departamento de Saúde e Assistência Social (DHSC) decidiu este ano que a oferta nacional de vacinação de outono se estenderia a todos os profissionais de saúde da atenção básica e agentes comunitários envolvidos no atendimento direto aos pacientes.

Isso significa que os médicos generalistas e a equipe que atende os pacientes são todos elegíveis para o reforço da Covid de outono e podem marcar esta imunização por meio do Serviço Nacional de Reservas, caso sua Unidade de Saúde não tenha estoque suficiente. A UKHSA disse que esperava que mais profissionais de saúde se apresentassem durante os meses de novembro e dezembro (meses que antecedem a chegada do inverno), mas esse nível de adesão nesta época do ano foi “menor do que a esperada”. Os últimos números de vigilância da gripe na Inglaterra mostraram que a positividade aumentou rapidamente, de 3,9% para 6,5% em uma semana, com hospitais registrando mais internações em departamentos de emergência por gripe.

A Dra. Suzanna McDonald, líder nacional do programa de imunização contra a gripe na UKHSA, disse: “Entendemos o quão ocupados os profissionais de saúde estão nesta época do ano e lidar com doenças de inverno que aumenta a pressão sobre os trabalhadores de saúde, serviços de emergência e hospitais. É por isso que pediram a todos os funcionários que se vacinassem e protegessem a si mesmos, seus pacientes e suas famílias dessas doenças imunopreveníveis. Incentivamos a todos os profissionais de saúde a se vacinarem para garantir que estejam protegidos na alta temporada e à medida que nos aproximamos do inverno. Não deixem que essas doenças desagradáveis estraguem seus planos”.

Steve Russell, diretor nacional de vacinação e triagem do NHS, disse: “A equipe do NHS tem trabalhado muito para garantir que o maior número possível de pessoas elegíveis seja vacinado contra a gripe antes do inverno, com centenas de milhares de funcionários já se protegendo tomando a vacina contra a gripe. ‘A gripe tem um impacto sério na saúde de milhares de pessoas todos os anos, e o NHS precisa que o maior número possível de funcionários esteja em forma nos próximos meses, tomando as vacinas contra a gripe e a Covid-19 antes do Natal.’

Os consultores do governo reduziram bastante os grupos que eles recomendam para a elegibilidade da vacina contra a Covid no NHS no próximo outono, dizendo que a doença está se tornando endêmica. Mas, os profissionais de saúde, devem ser vacinados. Meu objetivo em fazer este relato é lembrar a nossos profissionais de saúde que nós não devemos ser “eles amanhã”.

Quando estivermos chegando em nosso outono, portanto a partir de março, todos nós, profissionais de saúde, devemos buscar o reforço das vacinas para influenza e Covid-19. São procedimentos simples e praticamente sem efeitos adversos e que podem prevenir casos graves de ambas as entidades.

O relato da Dra. Sofia deve ser um alerta a todos nós, do outro lado do mundo. Temos sempre a oportunidade de nos preparar e prevenir doenças que atingem primeiramente o hemisfério norte fazendo, em nosso país, as vacinas necessárias e já atualizadas às cepas mais graves e prevalentes.

(1)- Por Sofia Lind, 29 de novembro de 2024

*Carmino Antônio de Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022 e atual Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan. Diretor científico da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) e Pesquisador Responsável pelo CEPID-CancerThera-Fapesp.