O Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2024 foi concedido aos cientistas americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun pelas pesquisas que eles fizeram sobre microRNA.
Ambros, de 70 anos, é biólogo e professor de Medicina Molecular na Universidade de Massachusetts (EUA).
Ruvkun, de 72 anos, é biólogo molecular e atua como professor de Genética da Escola de Medicina da Universidade Harvard.
O trabalho da dupla ajudou a explicar como nossos genes funcionam dentro do corpo humano — e como isso dá origem aos diferentes tecidos e sistemas do organismo.
Os vencedores, selecionados por uma assembleia do Instituto Karolinska da Suécia, dividem um prêmio no valor de 11 milhões de coroas suecas (R$ 5 milhões, na cotação atual).
Segundo os responsáveis pela premiação, “a descoberta inovadora revelou um princípio completamente novo de regulação genética que se mostrou essencial para organismos multicelulares, incluindo humanos”.
“Sabe-se agora que o genoma humano codifica mais de mil microRNAs”, detalha a nota.
O que é o microRNA?
Cada célula do corpo humano contém a mesma informação genética bruta, guardada em nosso DNA.
Mas células que constituem os ossos, o sistema nervoso, a pele, o coração, o sistema imunológico e outras partes do organismo usam esse código genético de maneiras diferentes e altamente especializadas.
E o trabalho da dupla americana ajuda a explicar em detalhes como isso acontece.
Os microRNAs influenciam como os genes — as instruções que tornam a vida viável — são controlados dentro de diversos organismos, incluindo o de seres humanos.
Os impulsos elétricos das células nervosas são distintos do batimento rítmico das células cardíacas. A potência metabólica necessária para uma célula do fígado se diferencia da missão de uma célula renal de filtrar o sangue. As habilidades de detectar a luz das células na retina não se parecem em nada com o conjunto de habilidades dos glóbulos brancos para produzir anticorpos e combater infecções.
E toda essa variedade surge do mesmo material inicial de DNA, justamente por causa da expressão genética e dos microRNAs.
Os cientistas dos Estados Unidos foram os primeiros a descobrir os microRNAs e como eles exercem controle sobre como os genes se expressam de forma diferente em tecidos diversos.
Sem essa capacidade de controlar a expressão genética, cada célula de um organismo seria idêntica. Então, os tais microRNAs foram um fator decisivo na evolução de formas de vida mais complexas.
A regulação anormal por microRNAs também pode contribuir para o desenvolvimento de um câncer e algumas outras condições, como perda auditiva congênita e distúrbios ósseos.
Um exemplo grave é a síndrome DICER1, que gera tumores em uma variedade de tecidos e é causada por mutações que afetam os microRNAs.
O microRNA é diferente do RNA mensageiro, ou mRNA. Enquanto o primeiro faz a regulação genética que diferencia a forma e a função de nossas células, o segundo é gerado pelo código genético para transmitir um “recado” para as células — como fabricar uma determinada enzima, por exemplo.
Vale lembrar que o princípio do mRNA foi usado para a construção de algumas vacinas contra a covid-19 — e os cientistas que fizeram essas pesquisas ganharam o prêmio Nobel de Medicina em 2023.
Vencedores anteriores do Nobel de Medicina
– 2023: Katalin Kariko e Drew Weissman, por desenvolver a tecnologia que levou às vacinas de mRNA contra a covid-19;
– 2022: Svante Paabo, por trabalhos sobre a evolução humana;
– 2021: David Julius e Ardem Patapoutian, por explicar como o corpo sente o toque e a temperatura;
– 2020: Michael Houghton, Harvey Alter e Charles Rice, pela descoberta do vírus da hepatite C;
– 2019: Sir Peter Ratcliffe, William Kaelin e Gregg Semenza, por descobrir como as células sentem e se adaptam aos níveis de oxigênio;
– 2018: James P Allison e Tasuku Honjo, por descobrir como combater o câncer usando o sistema imunológico do corpo;
– 2017: Jeffrey Hall, Michael Rosbash e Michael Young, por desvendar como os corpos mantêm um ritmo circadiano ou um “relógio biológico”;
– 2016: Yoshinori Ohsumi, por descobrir como as células permanecem saudáveis e ao “reciclar” resíduos.
Fonte: BBC News Brasil