Nutriente que células cancerosas gostam de “devorar” é identificado

Um estudo publicado em 6 de janeiro na revista Science Advances aponta que o aminoácido arginina é um nutriente que células cancerosas “devoram”. Deixá-las “passar fome” pode potencialmente tornar os tumores mais vulneráveis ​​à resposta imune

O que diz a mídia

Um estudo publicado em 6 de janeiro na revista Science Advances aponta que o aminoácido arginina é um nutriente que células cancerosas “devoram”. Deixá-las “passar fome” pode potencialmente tornar os tumores mais vulneráveis ​​à resposta imune.

A arginina é produzida naturalmente por nossos corpos e abundante em alimentos como peixe, carne e nozes. Quando o câncer faz com que os níveis do aminoácido caiam, as células cancerosas manipulam proteínas à sua disposição para absorverem este e outros aminoácidos.

Em seguida, em uma tentativa de continuarem crescendo, as células induzem mutações que reduzem sua dependência nos nutrientes. Dennis Hsu, primeiro autor do estudo, compara a dinâmica com a tentativa de construir um avião sofisticado de Lego sem as peças certas.

“A única maneira de ainda construir o avião seria se você tivesse cópias alteradas que não exigissem os tijolos que faltam”, explica o médico-cientista, em comunicado.

Os pesquisadores, que fazem parte do Laboratório de Biologia do Câncer de Sistemas de Sohail Tavazoie da Universidade de Rockfeller, nos Estados Unidos, descobriram a relação da arginina com o câncer como parte de um estudo maior sobre códons, os “trigêmeos” de bases de DNA que contêm a receita para produzir um único aminoácido.

Hsu vasculhou o Atlas do Genoma do Câncer, um programa de referência do Instituto Nacional do Câncer do governo norte-americano, documentando milhares de casos de mutações de códons. Mas um se destacou entre todos: os códons de arginina, perdidos durante as alterações genéticas muito mais do que deveriam.

Os cânceres de estômago e colorretal mostraram a deficiência mais dramática nos códons do nutriente. “Achamos que alguns tipos de câncer se desenvolvem sob condições de baixo teor de arginina e carregam essa história em seu DNA”, diz Hsu.

Matando o câncer de “fome”
Os cientistas passaram meses no laboratório cultivando células cancerosas e, em seguida, privando-as de arginina. As células começaram a sofrer mutações enquanto tentavam diferentes modos de garantir o acesso a um suprimento renovado de alimentos essenciais.

Embora nem todas as tentativas tenham sido um sucesso, um método mais eficiente foi aumentar a quantidade de proteínas transportadoras de aminoácidos para que as células pudessem absorver com mais eficiência a arginina e outros aminoácidos. Isso resultou em alterações no genoma, como genes mutantes e proteínas deformadas.

Em outro experimento, Hsu encontrou um aumento no número de mutações para códons que produzem aminoácidos mais abundantes no ambiente das células cancerosas. De repente, eles se tornaram mais apetitosos para as células do câncer, que pareciam estar tentando se contentar com o que tinham. Era como preparar uma refeição com alguns itens aleatórios que por acaso estão na geladeira.

Os pesquisadores esperam que a capacidade de persuadir os códons a cumprir suas ordens possa levar à destruição das células cancerosas. Conforme as células desnutridas acumulam muitas mutações, elas podem começar a parecer muito estranhas ao sistema imune.

As conclusões podem ajudar a desenvolver métodos de imunoterapia. “Ao matar de fome uma célula cancerosa, talvez você possa promover o ganho de novas mutações que podem ser reconhecidas pelo sistema imunológico”, resume Hsu. “Não testamos isso, mas seria uma coisa muito legal tentar”.

Fonte: Revista Galileu Online