Ela então começou a pedalar uma bicicleta ergométrica, caminhar em uma esteira e passear com seus cachorros vários quilômetros todos os dias. Mas, em vez de ajudar, o novo regime de atividades físicas apenas exacerbou seus sintomas.
— Nunca me senti pior — disse Hollabaugh, uma advogada americana de 31 anos.
Moradora do Oregon, Hollabaugh conta que estava sempre tão cansada que não conseguia se concentrar e precisava tirar algumas sonecas ao longo do dia. Sua frequência cardíaca também disparava mesmo quando estava em repouso. Ela é um dos muitos americanos que sofrem de Covid longa, uma condição caracterizada por sintomas novos ou persistentes que podem ser sentidos por meses após uma infecção por coronavírus, incluindo a dificuldade de retomar as práticas esportivas.
Mal-estar pós-esforço
Natalie Lambert, bioestatística e cientista de dados de saúde da Escola de Medicina da Universidade de Indiana, coletou dados autorrelatados de mais de um milhão de pacientes de Covid por meio de uma colaboração com o Survivor Corps, um grupo de apoio do Facebook para sobreviventes do coronavírus. Segundo ela, os pacientes frequentemente relatam que seus médicos os aconselharam a se exercitar, mas muitos afirmam que, quando o fazem, se sentem pior depois.
— A pesquisa que fiz mostrou que a incapacidade de se exercitar é um dos sintomas mais comuns da Covid longa — disse Lambert, segundo a qual, algumas pessoas estão simplesmente cansadas demais para se exercitar, enquanto outras experimentam recaídas de sintomas debilitantes, como o aumento da fadiga, confusão mental ou dores musculares.
Esse agravamento dos sintomas após praticar apenas um pouco de atividade física — o que às vezes é chamado de “mal-estar pós-esforço” — parece ser comum entre pacientes de Covid longa. Quando os pesquisadores realizaram uma pesquisa online com 3.762 pessoas com Covid longa, como parte de um estudo publicado em agosto, descobriram que 89% relataram mal-estar pós-esforço.
Esses problemas induzidos pelo exercício físico não são, no entanto, apenas consequência de estar fora de forma. Os efeitos “são muito, muito diferentes do sedentarismo normal e simples”, disse David Systrom, médico pulmonar e de cuidados intensivos do Brigham and Women’s Hospital, em Boston. Eles também não parecem ser resultado de lesão pulmonar ou cardíaca.
Em um pequeno estudo publicado em janeiro, por exemplo, Systrom e seus colegas compararam 10 pacientes de Covid longa que tiveram problemas para se exercitar com 10 pessoas que nunca haviam testado positivo para Covid-19, mas que apresentavam falta de ar inexplicável após o exercício. Os pesquisadores descobriram que ninguém no estudo tinha tomografia computadorizada de tórax anormal, anemia ou problemas com a função pulmonar ou cardíaca, sugerindo que a lesão de órgão não era a culpada por seus sintomas.
No entanto, quando os pacientes de Covid longa se exercitavam em uma bicicleta ergométrica, Systrom descobriu que algumas veias e artérias não estavam funcionando corretamente, impedindo que o oxigênio fosse entregue com eficiência aos músculos. Ninguém sabe por que esses problemas nos vasos sanguíneos ocorrem, disse Systrom, mas outro de seus estudos recentes sugeriu que pacientes com Covid longa sofrem danos em um certo tipo de fibra nervosa envolvida no funcionamento dos órgãos e vasos sanguíneos.
Outras pesquisas sobre intolerância ao exercício implicam problemas com a forma como a frequência cardíaca responde à atividade. Em um estudo publicado em novembro, pesquisadores de Indiana estudaram 29 mulheres que haviam testado positivo para a Covid-19 cerca de três meses antes. Quando essas mulheres foram submetidas a um teste de caminhada de seis minutos, seus batimentos cardíacos não aceleraram tanto — ou se recuperaram tão rapidamente — quanto os batimentos cardíacos de 16 mulheres semelhantes que não tiveram a doença.
— Claramente, há algo acontecendo que está interferindo com essa resposta normal — disse Stephen Carter, autor do estudo e fisiologista do exercício na Escola de Saúde Pública Bloomington da Universidade de Indiana.
Lambert destacou que alguns pacientes com Covid longa também são diagnosticados com síndrome da taquicardia postural ortostática (ou Spot), um distúrbio que afeta o fluxo sanguíneo. Em pessoas que têm Spot, “o sistema nervoso não consegue regular as coisas que deveria controlar automaticamente, como frequência cardíaca, pressão arterial, sudorese e temperatura corporal”, disse ela. Mas “essas são todas as coisas que, quando você está se exercitando, precisam ser reguladas adequadamente”.
Alguns médicos também apontam para paralelos entre pacientes com Covid longa e aqueles com síndrome da fadiga crônica (também conhecida como encefalomielite miálgica, ou SFC/EM) que apresentam fadiga severa, problemas de memória e cognitivos e, muitas vezes, dores musculares ou articulares. Durante décadas, os médicos aconselharam os pacientes com síndrome da fadiga crônica que o exercício físico melhoraria seus sintomas, mas para muitos deles a prática realmente piorou o quadro e agora não é mais recomendado.
Em 2021, Systrom e sua equipe estudaram 160 pacientes com síndrome da fadiga crônica e descobriram que, quando eles se exercitavam, experimentavam muitos dos mesmos problemas de vasos sanguíneos observados em pacientes de Covid longa, enquanto os indivíduos do grupo de controle não.
Se exercitar ou não?
Tudo isso leva a uma pergunta: os pacientes com Covid que estão tendo problemas para se exercitar devem continuar aumentando sua atividade física? Ninguém sabe — e as opiniões divergem.
— Você não pode simplesmente pular para o exercício, ou vai retroceder — disse Lambert, argumentando, porém que, você deve “tentar incorporar a atividade física lentamente se estiver se sentindo melhor”.
Ainda segundo Lambert, a Covid longa pode se manifestar de maneiras diferentes, portanto, os médicos podem precisar adaptar suas recomendações às necessidades de cada paciente.
— Provavelmente nunca haverá uma recomendação única para o retorno às atividades físicas — afirmou.
Fonte: O Globo