Médicos realizam transplante de orelha feita com impressora 3D

Empresa de biotecnologia diz que é a primeira vez que se usa técnica para fazer uma parte do corpo com as próprias células de um paciente.

O que diz a mídia

Empresa de biotecnologia diz que é a primeira vez que se usa técnica para fazer uma parte do corpo com as próprias células de um paciente.

Uma mulher de 20 anos que nasceu com a orelha direita pequena e deformada recebeu um implante de orelha impresso em 3D feito com suas próprias células. Especialistas independentes disseram que o procedimento, parte do primeiro ensaio clínico de uma aplicação médica bem-sucedida dessa tecnologia. foi um avanço impressionante no campo da engenharia de tecidos.

A nova orellia, transplantada em março, foi impressa em um formato que combinava exatamente com a orelha esquerda da mulher e continuará a regenerar o tecido cartilaginoso, dando- lhe a aparência de uma orelha natural, segundo a 3DBio Therapeutics, uma empresa de medicina regenerativa dos Estados Unidos.

— É definitivamente um grande feito —disse Adam Feinberg, cofundador da FluidForm, empresa de medicina regenerativa que também usa impressão 3D. — Isso mostra que essa tecnologia nãoé mais um “se”, e sim um “quando”.

Os resultados da cirurgia re- construtiva foram anunciados pela 3DBio em um comunicado à imprensa. Citando questões de patente, a empresa não divulgou publicamente os detall>es técnicos do processo, dificultando a avaliação de especialistas externos. A companhia informou que os órgãos reguladores americanos revisaram o projeto-pi- loto e estabeleceram padrões rígidos de fabricação, e que os dados serão publicados em uma revista médica quando o estudo for concluído.

O ensaio clínico, que inclui 11 pacientes, ainda está em andamento, e é possível que os transplantes possam falhar ou trazer complicações de saúde imprevistas. Mas como as células se originaram do próprio tecido da paciente, a nova orelha provavelmente não será rejeitada pelo corpo.

As empresas já usam a tecnologia de i mpressão 3D para produzir membros proté- ticos personalizados feitos de plástico e metais leves. Mas o implante de orelha, feitoa partir de um pequeno globo de células colhidas da orelha deformada da mulher, parece ser o primeiro exemplo conhecido de um implante impresso em 3D feito de tecidos vivos.

Segundo os executivos da empresa, com mais pesquisas, a tecnologia poderia ser usada para fazer muitas outras peças de reposição do corpo, incluindo discos in- tervertebrais, narizes, meniscos do joelho, manguitos rotadores e tecidos recons- trutivos para lumpectomia. No futuro, a impressão 3D poderia até produzir órgãos vitais muito mais complexos, como fígados, rins e pâncreas, disseram.

— Se tudo correr como planejado, isso vai revolucionar a forma como o procedimento é feito — afirmou Arturo Bonilla, cirurgião pediátrico responsável pelo implante da mulher.
James Iatridis, que dirige um laboratório de bioenge- nharia na Escola de Medicina Icahn de Mount Sinai, disse que outros implantes de tecidos impressos estavam em andamento.
—O implante dc orelha 3D é uma prova de conceito para avaliarabiocompatibilidade. a correspondência e a retenção da forma impressa em pessoas vivas —explicou.
Aindaassim.aparteexter- na da orelha é um apêndice relativamente simples que é mais estético do que funcional, disse Feinberg, alertando que o caminho para órgãos complexos será longo.

— Ir de uma orelha para um disco intervertebral é um salto muito grande, mas é mais realista se você já tiver a orelha —afirmou.

O processo de impressão 3D cria um objeto sólido e tridimensional a partir de um modelo digital. A tecnologia geralmente envolve uma impressora controlada por computador que deposita o material em camadas finas para criar a forma precisa do objeto.

De acordo com executivos da 3DBio Therapeutics, o novo implante deorelha integra várias tecnologias registradas. começando com um método para transformar uma pequena amostra de células de um paciente em bilhões de células. A impressora 3D da empresa usa uma “biotin- ta” à base de colágeno que é segura no corpo e mantém todos os materiais estéreis.

O sucesso da 3DBio, que tem sete anos, é um dos vários avanços recentes na busca pela melhoria dos transplantes de órgãos e tecidos.

Em janeiro, cirurgiões transplantaram o coração de um porco geneticamente modificado em um homem de 57 anos com doença cardíaca, prolongando sua vida em dois meses. Os cientistas também estão desenvolvendo técnicas para prolongar a vida útil dos órgãos doados para que não sejam desperdiçados —médicos suíços relataram esta semana que um paciente que recebeu um fígado humano preservado por três dias ainda estava saudável um ano depois.

Cientistas do Instituto de Tecnologia de Israel relataram em setembro que haviam impresso uma rede de vasos sanguíneos, que seria necessária para fornecer sangue aos tecidos implantados.

DEFEITO CONGÊNITO

A paciente, que é natural do México, nasceu com mi- crotia. um defeito congênito raro que faz com que a aurícula, ou parte externa do ouvido, seja pequena e malformada (também pode afetar a audição).

Cerca de 1.500 bebês nascidos nos Estados Unidos a cada ano têm microtia ou anotia, uma condição relacionada, na qual todo o ouvido externo está ausente. O ensaio clínico até agora incluiu 11 voluntários, com idades ent re 6 e 25 anos, q ue serão acompanhados por cinco anos para avaliar a segurança a longo prazo e os resultados estéticos.

Outra opção para reconstrução de microtia — que geralmente é feita nos primeiros anos de vida — requer cirurgia de internação para colher cartilagem das costelas do paciente, que é entãoesculpidaem uma forma aproximada à orelha.

O novo procedimento, porém. pode ser feito em poucas horas e fora de um hospital. A 3DBio não especificou quanto cobraria pelo implante.

Fonte: O Globo