Dor crônica precisa ser reconhecida como doença

A dor é um fenômeno subjetivo e desagradável

O que diz a mídia

A dor é um fenômeno subjetivo e desagradável. Quando pontual, é chamada de aguda; quando dura mais que três meses, é considerada crônica, doença com prevalência que varia em torno de 15% a 45% da população mundial. Quanto maior sua intensidade, maiores os impactos na qualidade de vida do paciente e em seu bem-estar físico, social e psíquico.

Por isso um diagnóstico correto e oportuno é crucial, bem como um tratamento individualizado e multimodal, que pode envolver intervenções farmacológicas, psíquicas e físicas. Apesar desse amplo leque, o tratamento da dor no Brasil e na América Latina ainda é insatisfatório.

Atualmente, as políticas públicas e o investimento na educação continuada em torno do tema são extremamente escassos. Mas os impactos econômicos, físicos e psíquicos da doença são muito significativos. Milhões de pessoas se afastam do trabalho, há sobrecarga nos serviços de reabilitação, e o índice de suicídio entre pacientes com dor crônica não é baixo.

Para aliviar o sofrimento do paciente, é necessário reconhecer a dor crônica enquanto doença, como determina a nova revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), e não só como um sintoma.
Isso encurta a trajetória do paciente, evitando sua circulação por vários serviços de saúde (que pode durar anos) até finalmente ser acolhido por um especialista. A resposta ao tratamento da dor e o prognóstico da doença dependem do momento da intervenção: quanto antes, melhor.

Especialistas de toda a América Latina enfatizaram a necessidade de melhorar a abordagem correta da dor por meio da Declaração de Lima sobre Dor Crônica, que defende a implementação de políticas públicas visando a aumentar as unidades para tratamento, a alocar recursos para equipá-las com tecnologia e fármacos modernos e eficientes e a elaborar programas de educação médica e um currículo mínimo nas universidades da área da saúde em torno do tema. Além disso, incentivar pesquisas sobre o assunto e a criação de condições ideais para prevenção, diagnóstico e tratamento.

O uso da CID-11 é essencial para que isso saia do papel. No entanto, apesar de ter entrado em vigor em 2022, a previsão do Ministério da Saúde é que a nova classificação só seja utilizada nos sistemas de informação da vigilância no Brasil a partir de 2025. Os pacientes brasileiros de dor crônica terão de esperar pelo menos mais dois anos para que sua condição seja considerada uma doença pelos órgãos oficiais.

Qualquer movimento que implique mudança na abordagem da dor desde já é grandioso. A luta é árdua, e a sensibilização de governos e autoridades urgente. Porém, com a Declaração de Lima, ao menos já temos um mapa que mostra o caminho para melhorarmos a situação. Resta-nos apenas colocá-la em prática.

Fonte: O Globo/Durval Campos Kraychete.